O Hospital Jayme Santos Neves é um dos maiores patrimônios da Serra; infelizmente, desde 2020 teve o seu Pronto Socorro fechado para acesso ao público, em especial aos serranos, já que o hospital fica localizado em uma posição estratégica, nas proximidades do Parque Residencial Laranjeiras. Na época, a decisão do governador Renato Casagrande, tinha como justificativa a pandemia, já que o Jayme foi à unidade hospitalar referência. Porém, já faz mais de um ano do controle epidemiológico da doença e as portas do Pronto Socorro seguem fechadas, causando um verdadeiro caos nas UPA’s da Serra.
O Tempo Novo procurou a Secretaria de Saúde do Governo do Estado, para obter os números de atendimento do PS do Jayme em 2019 e 2018, objetivando a mensuração do impacto da medida determinada pelo governador. Mas como de costume, quando a pauta não agrada ao Governo, não há retorno jornalístico. A reportagem então decidiu solicitar as informações via Lei de Acesso a Informação, porém acabou não precisando. Isso porque em um material publicado pelo próprio Governo em 2020, foi divulgado que nos sete anos de funcionamento do Pronto Socorro 24h de porta aberta, o Jayme fez incríveis 554.708 atendimentos.
Com isso, é possível dimensionar o impacto na estrutura de saúde pública da Serra. O Pronto Socorro do Jayme ainda existe, porém não mais de porta aberta, apenas como transferências e a serviço do SAMU. Ou seja, se, por exemplo, uma criança quebrar um braço e a família correr para o Jayme, encontrará apenas uma porta fechada. Muito provavelmente a criança será levada para alguma das três UPA’s da Serra (Castelândia, Serra Sede ou Carapina); lá, a criança precisará concorrer espaço com pacientes de sofrem de diversos outros maus, como por exemplo, pacientes de dengue, já que a Serra vive um verdadeiro surto de dengue, com explosão de mais de 1800% casos esse ano, se comparado com 2022; ou mesmo com pacientes sofrendo de gastroenterite, vomitando ou tendo diarreia, reportadas após o consumo de água barrenta da Cesan, que cresceu 137% esse ano.
O Jayme Santos Neves foi inaugurado em 23 de fevereiro de 2013, idealizado para fornecer um atendimento humanizado e acolhedor; foi vendido à época pelo governador Renato Casagrande como referência de Pronto Socorro 24h de porta aberta. Para se ter uma ideia, a Prefeitura da Serra atualmente dispõe de cerca de 800 médicos, e é a Prefeitura capixaba que mais tem médicos a disposição. De acordo com o Governo do Estado em 2020, só no Jayme atuavam 627 médicos.
O Jornal Tempo Novo esteve presente no dia da inauguração lá em 2013. Em clima festivo, o Pronto Socorro aberto ao público era um dos principais motivos de orgulhos do então Governo do Estado, que era na época governado pelo atual mandatário. Tanto é que Casagrande determinou o fechamento do Pronto Socorro do Dório Silva, que funcionava desde os anos 80, argumentando que o PS do Jayme iria não somente suprir a demanda do Dório, mas também potencializar a oferta já existente.
Atualmente as UPA’s da Serra estão absorvendo além de pacientes da Serra, vários outros de fora da cidade. Dados obtidos pelo Tempo Novo revelaram que em janeiro desse ano, 10% de todo o atendimento bancado pelos contribuintes serranos, nas UPAS, foram de pessoas de fora da cidade, com ênfase na UPA de Castelândia, que atendeu 17% de não-serranos. Não por coincidência, é a UPA que mais tem sofrido casos de superlotação. Vale ressaltar ao leitor, que o SUS, como o nome já sugere é um sistema de saúde unificado no Brasil todo, ou seja, qualquer cidadão brasileiro e até estrangeiro em situação regular tem direito ao atendimento de saúde em qualquer cidade que seja.
Ocorre, que apesar de ser um sistema único, os orçamentos municipais são dimensionados conforme a população e a demanda dos munícipes, e por isso, o que tem ocorrido é uma migração de pacientes de fora para a Serra, já que é a única cidade que conta com três UPA’s, entre elas a mais moderna do Espírito Santo, a de Castelândia. Vila Velha que tem uma população pouco menor que a Serra conta apenas com 1 Pronto Atendimento (PA) e 1 Unidade de Pronto Atendimento (UPA); Cariacica é ainda pior, conta apenas com 1 PA 24h e Vitória 2 PA’s.
Porém, diferente da Serra, que apesar de ter dois hospitais estaduais, mas nenhum pronto socorro de porta aberta, na capital, o Governo do Estado mantém o São Lucas, que atualmente é referência em pronto socorro e o Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória (HEINSG), que funciona dentro do HPM. Já em Vila Velha, existe o Hospital Antônio Bezerra de Faria (HABF), que é a referência em Urgência e Emergência no município canela verde; além do Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (HIMABA), que é Pronto Socorro pediátrico. Diferente do Dório Silva e do Jayme Santos Neves, todos esses hospitais acima citados são de porta aberta, ou seja, o paciente chega com a demanda por saúde e encontra atendimento médico de portas abertas.
No que tange a atendimento primário, fica evidente que aos contribuintes da Serra carregam nas costas a Grande Vitória. Basta ver os números de atendimentos das três UPA’s em janeiro desse ano, que segundo a Prefeitura da Serra atingiu a marca de 55 mil, mesmo registrando superlotação. Com as UPA’s no limite, a abertura do Pronto Socorro do Jayme, conforme foi concebido e conforme funcionou de 2013 a 2020 poderiam desafogar a pressão sobre o sistema de saúde municipal da Serra, já que quando inaugurado, divulgou-se que o PS do Jayme tinha uma capacidade de 10 mil atendimentos/mês.
Neste mês de fevereiro, completou 10 anos de inauguração do Jayme. O Governo do Estado soltou um material à imprensa em tom comemorativo. Nele, fica explícito que – assim como já informado pelo Tempo Novo – não é a intenção de Casagrande reabrir o PS do Jayme: “Com o arrefecimento da pandemia da Covid-19, o Hospital Dr. Jayme Santos Neves segue com um novo perfil de atendimento”. Ou seja, Pronto Socorro de porta fechada para a população.
O Hospital é administrado pela Organização Social Associação Evangélica Beneficente Espírito-Santense (AEBES). Entretanto, apesar de gerir um orçamento milionário e exercer um papel de serviço público, a entidade não responde demandas de imprensa, jogando a responsabilidade para a Secretaria de Saúde. Para todos esses questionamentos, o Jornal Tempo Novo já tentou respostas, porém, sem retorno. Enquanto o Governo se nega a dar uma explicação a respeito do Pronto Socorro 24h fechado na maior cidade do Espírito Santo, milhares são os serranos que lutam por atendimento nas UPA’s da Serra, que goste ou não, são os únicos lugares que seguem dando vazão ao atendimento médico da Serra, funcionando 24h, sete dias por semana, atendendo até moradores que nem da cidade são.