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Dados revelam: Com P.S do Jayme fechado, pacientes de fora abarrotam UPA’s da Serra

Idealizado como um hospital de porta aberta, o Pronto socorro do Jayme não tem data para reabrir. Crédito; divulgação.

A Serra tem a maior população do Espírito Santo, com 550 mil habitantes, segundo censo do IBGE. Entretanto, mesmo tendo dois hospitais estaduais, não dispõe de nenhum pronto socorro hospitalar. Atualmente, toda a demanda de atendimento de urgência e emergência tem recaído sob as Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) da Prefeitura da Serra, que cada vez mais registram superlotação. Pois, além de atender a população da Serra, as unidades têm sido muito procuradas por moradores de outras cidades.

Essa procura se intensificou ainda mais após o Governo do Estado resolver fechar o Pronto Socorro do Jayme, em 2019 devido à pandemia do coronavírus. Com o controle epidemiológico da doença nos idos de 2021 para 2022, esperava-se que o Pronto-Socorro do hospital fosse reaberto conforme era desde sua inauguração. Entretanto, questionado pela reportagem do Jornal Tempo Novo, na semana passada, o Governo do Estado sinalizou que não tem a intenção de reabrir as portas para o atendimento emergencial, enquanto isso as UPA’s seguem sendo o único canal de atendimento de urgência na maior cidade do Espírito Santo.

Como se não fosse suficiente, com o Pronto Socorro do Jayme fechado, as UPA’s da Serra também absorvem parte da demanda de pacientes vindos de outras cidades, já que Vitória, Vila Velha e Cariacica não dispõem da estrutura de saúde municipal da qual a Serra dispõe. Para se ter uma ideia, a Serra é a única cidade do Brasil com menos de 700 mil habitantes que tem três UPA’s (Serra Sede, Castelândia e Carapina), enquanto Vitória tem apenas dois Prontos Atendimento (P.A), Cariacica tem somente um P.A e Vila Velha conta com um P.A e uma UPA.

Nos anos em que o Pronto Socorro do Jayme funcionou, o local diluiu a procura por atendimento com as UPA’s, tirando parte da pressão da estrutura que é bancada exclusivamente pelos contribuintes da Serra. O SUS, como o nome explica, é um sistema único de saúde, qualquer cidade tem o direito ao atendimento em qualquer unidade de saúde no territorial nacional. Ocorre que administrativamente, os orçamentos municipais são divididos e dimensionados de acordo com a população correspondente. Neste sentido, com o Pronto Socorro do Jayme fechado, a população da Serra passou a arcar com o atendimento médico de moradores de outras cidades, além de ter que competir pelas vagas em UPA’s superlotadas.

A reportagem procurou a Prefeitura da Serra para dimensionar o volume no atendimento de moradores de outras cidades nas UPA’s da Serra, já que o Pronto Socorro do Hospital Estadual Jayme Santos Neves deve seguir fechado. Os dados falam por si. A UPA mais impactada é exatamente Castelândia, que foi inaugurada recentemente e conta com uma estrutura mais moderna e maior.

Em janeiro de 2023, a UPA de Castelândia atendeu um total de 17.897, dos quais 14.789 são serranos. Ou seja, 3.108 atendimentos foram realizados a moradores de fora da cidade, o que equivale a preocupantes 17%. Quase 1/5 de pacientes em Castelândia não são da Serra, porém a estrutura é bancada pelos contribuintes serranos, o que causa uma discrepância no funcionamento da unidade, que foi pensada para atender a demanda local.

De acordo com o relatório encaminhado pela Prefeitura, na UPA de Carapina, no mesmo recorte de janeiro de 2023 foram realizados 14.810 atendimentos, dos quais 12% foram de moradores de fora da Serra, outro número que gera preocupação em termos de gestão de atendimento de orçamento. A UPA menos impactada pelo movimento migratório de pacientes de fora da Serra é exatamente a de Serra Sede, talvez pela distância das demais cidades. Porém, a UPA também é a que mais registra número total de atendimentos.

Em janeiro de 2023 a unidade fez 22.987 atendimentos, sendo que 5.7% desse total foram de pacientes das demais cidades. Em números globais, as três UPA’s somadas realizaram incríveis 55.694 atendimentos somente em janeiro. Apenas para comparação didática, representaria 10% de toda a Serra atendida em apenas três unidades. Em termos de proporcionalidade, o total de atendimentos de pessoas de fora da Serra no mês de janeiro significou 11.2%, ou seja, de cada 10 pacientes, um não era da Serra. Observa-se, portanto, como o movimento migratório aumenta a pressão em torno do sistema de saúde da Serra, que não tem mais o Pronto Socorro hospitalar aberto desde que o Jayme e o Dório Silva foram fechados.

UPA de Serra Sede atendem praticamente um ‘São Lucas’ somente de pacientes de fora

Aliás, diferente da Serra, Vitória e Vila Velha contam com Pronto Socorro hospitalar. Em Vitória tem o Hospital Estadual São Lucas, hoje chamado Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), atualmente é o maior hospital público de porta aberta do Espírito Santo. A coisa é tão desigual que em abril de 2022, o Governo do Estado disse que a média de atendimento do Hospital (que é o maior) era de 7.800, ou seja, 3 vezes menos do que a UPA de Serra Sede por exemplo. Se for somar os moradores de fora da Serra que são atendidos pelas UPA’s do município, dá quase o mesmo volume global de atendimento do São Lucas, porém, o São Lucas é bancado pelo Governo do Estado, enquanto as UPA’s são pagas pela população da Serra.

Além do São Lucas, Vitória tem também o pronto-socorro infantil Drª Milena Gottardi, do Hospital Estadual infantil Nossa Senhora da Glória (Hinsg) que funciona nas instalações do Hospital da Polícia Militar (HPM), em Bento Ferreira. Em 2017, o Governo do Estado anunciou que o Pronto Socorro Drª Milena Gottardi atendeu 4.159 crianças, caso a média tenha se mantido, esse número é apenas uma fração dos atendimentos da UPA’s, que recebem pacientes adultos e pediátricos.

Em Vila Velha existe o Hospital Antônio Bezerra de Faria – HABF que possui Pronto Socorro Adulto, com especialidades de clínica médica, cirurgia geral, ortopédica e cirurgia de mão (ambulatório e cirurgia eletiva). Além dele, tem o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves, o conhecido Himaba, que tem urgência e emergência pediátrica.

A reportagem demandou o Governo do Estado para saber quantos atendimentos o Pronto Socorro do hospital fazia por mês antes de ser fechado. A Secretária de Saúde ainda não retornou, e caso não dê resposta, o Tempo Novo dará entrada por meio da Lei de Acesso a Informação. O Jayme funcionou com o Pronto Socorro de porta aberta de 2013 a 2020, sete anos em que atendeu pacientes da Serra e de todo o Estado. Em 2020, tornou-se referência no tratamento de Covid, e por isso o P.S foi fechado. A expectativa era pela reabertura quando a pandemia fosse controlada, situação que já ocorre há mais de um ano. Até hoje muitos moradores da Serra desconhecem o fechamento do P.S, e quando chegam lá são redirecionados para as UPA’s.

Redação Jornal Tempo Novo

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