Por Yuri Scardini
A Serra é um dos locais mais antigos do Brasil. São 461 anos de fundação, quando em 8 de dezembro de 1556 o chefe dos índios Temiminós, Maracajaguaçu e o padre jesuíta Bráz Lourenço fundaram a aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra, aos pés do Mestre Álvaro. Mas enquanto fenômeno urbano, a Serra é uma cidade novíssima que cresceu às margens do desenvolvimento de Vitória. Foi no início dos anos 80 que a Serra que conhecemos hoje começou a tomar forma, na esteira da siderurgia com a instalação da CST (hoje ArcelorMittal).
Foi nessa época que a vocação industrial impulsionou o forte processo de migração que marcou a cidade nos últimos 40 anos, transformando a sociologia urbana local. Esse processo desgovernado trouxe imigrantes principalmente do sul da Bahia e leste de Minas, formando assim esse paradoxo de uma cidade de 461 anos sem identidade. Em 40 anos, pulamos de 17 mil habitantes para mais de 500 mil.
Esse fenômeno migratório babélico é a gênese de intensos problemas que enfrentamos nos dias de hoje, criando subprodutos como um patrimonialismo hiperbólico, populismo arraigado, além dos bolsões de pobreza e da abundância de violência.
É necessário que um conjunto de coisas aconteça para que os capixabas entendam que a Serra é muito mais do que aço, pó de minério e sangue. E em 2018, temos uma grande oportunidade de dar um passo e tanto, utilizando-se de uma ferramenta propulsora da construção de identidade no Brasil: o futebol.
Neste sábado o Serra Futebol Clube irá à Águia Branca enfrentar o Real Noroeste pelo primeiro jogo da final do Capixabão. A importância do Serra F.C vai muito além das quatro linhas do campo. Para uma cidade que carece de identidade, esse clube tem um papel capaz de unir as pessoas. Portanto vida longa ao Serra F.C e que o poder público e privado enxerguem nele um caminho de transformação social, e que esta final seja o pontapé de novos rumos ao clube serrano, levando o nome da nossa cidade para além das páginas policiais.