Galos cantando, galinhas cacarejando e desfilando tranquilamente em um vasto campo aberto cercado de uma área verde repleta de pássaros, animais silvestres e dezenas de nascentes desaguando numa despoluída e linda lagoa. Não! Não é o anúncio de um sítio ou pousada nas serras capixabas ou a descrição de uma área turística do Brasil. Trata-se da região onde hoje é o Bairro Barcelona, que completou nesse mês de setembro 37 anos de história, de conquistas e desenvolvimento, que o levou a ser um dos conjuntos residenciais mais bem estruturados e planejados do município da Serra.
O que pouca gente sabe, é que o início dessa comunidade tem origem numa propriedade destinada à criação de aves para abate, o que acabou dando origem ao seu primeiro nome, Bairro Granjas Novas.
Vendido para uma loteadora, o local foi inaugurado e entregue aos novos moradores no longínquo ano de 1984; o conjunto residencial continha 3.112 unidades residenciais, que foram adquiridas na época principalmente por ferroviários, portuários e metalúrgicos.
A inauguração oficial e a entrega das chaves estavam previstas para o mês de agosto daquele ano, mesmo período onde estava programada uma visita do Rei da Espanha, Juan Carlos, ao Espírito Santo, mas precisamente para visitar a empresa Aracruz Celulose (atual Suzano), no município de Aracruz.
Em função da ilustre visita, os moradores da comunidade que já não se agradaram com o primeiro nome recebido pelo bairro (Granjas Novas), propuseram a mudança do nome do bairro para Barcelona, em homenagem a cidade catalã, e convidaram o Rei Juan Carlos para inauguração do bairro e entrega das chaves.
Mesmo com as expectativas frustradas em virtude do não comparecimento do Rei, que acabou não vindo ao Estado em virtude de outros compromissos, os moradores mantiveram o nome da cidade espanhola e inauguraram o bairro com a presença do então Ministro do Trabalho da época, Mário Andreaza.
Surge então em setembro de 1984 o Bairro Barcelona, que somente um ano depois recebe seu primeiro transporte coletivo que passava de uma em uma hora, e ia até a rodoviária de Vitória. Até então, os moradores tinham duas opções, ou pegavam um transporte clandestino que passava no bairro ou andavam a pé até a BR 101 para pegar algum coletivo que passasse por ali.
No retorno do trabalho era é mesma luta. Os moradores desciam na BR e vinham andando em grupos pelo tobogã até o bairro e muitas amizades surgiram dessa forma, durante o percurso do tobogã até as residências.
Cercado por uma área de vegetação densa e murada com arame farpado, em seus primeiros anos, Barcelona possuía na entrada do bairro uma guarita com a presença de uma espécie de guarda patrimonial. Os moradores e visitantes deveriam apresentar seus documentos para entrar no bairro, o que dava uma maior sensação de segurança aos moradores algo que acontece hoje nos condomínios espalhados pela cidade.
O que dividia uma residência de outra era um pequeno muro de aproximadamente 80 centímetros, que permitia aos moradores verem tudo que acontecia nos quintais de seus vizinhos e inclusive ter a visão de outras ruas ou avenidas.
Por ser um bairro planejado, circula uma história no bairro entre os moradores antigos, que Barcelona foi tema de matéria na revista Veja na década de 80, como um dos conjuntos residências mais bem planejados da América Latina, relato esse de veracidade não confirmada.
Como praticamente não existia comércio no bairro, era comum os moradores venderem produtos em suas residências. As manhãs eram anunciadas com a buzina da carroça do leiteiro ou da bicicleta do vendedor de pães que passava rua por rua vendendo seus produtos.
Os finais de semana de sol eram de churrasco a beira da lagoa Jacunem ou de diversão com a família no Club do bairro, que possuía piscina adulta, piscina infantil, quiosque e quadra de esportes, local onde hoje é a APA Jacunem e o Centro de Triagem de Animais Silvestres – Cetas.
É difícil um morador antigo do bairro não sentir saudade dos desfiles de 7º de setembro, das corridas de kart ou bicicross que movimentavam o bairro nos finais de semana. Das antigas praças com seus brinquedos em madeira maciça e seus gramados onde a criançada jogava futebol. Das matinês do centro comunitário ou das festas de aniversário realizadas pela Rádio Tropical. Ou dos bailes de carnaval ou desfile de blocos que animavam toda a comunidade durante esse período.
Passaram-se 37 anos, e muita coisa mudou. Mas o que ficou é o amor por Barcelona, um bairro acolhedor, feito de gente trabalhadora, honesta e que não se deixa abater com os problemas. Aqui é terra de quem gosta de viver, de quem valoriza a família e de que tem sonhos para realizar. Assim como para muitos moradores de Barcelona, eu devo muito de quem sou a esse local, e tenho como objetivo de vida fazer daqui um lugar ainda melhor.
Temos desafios pela frente, como por exemplo, vencer a criminalidade, melhorar o posto de saúde e as escolas, despoluir nossas águas e trazer mais empreendimentos e empregos. Vale lembrar que Barcelona é um dos poucos bairros da Serra que tem a disposição duas malhas viárias importantíssimas, como a BR-101 e a Avenida Norte Sul. Mas com a benção de Deus e muito trabalho, tenho certeza que o futuro vai ser ainda mais honroso com nosso bairro. Viva Barcelona, Viva a Serra!
Quem é o autor:
Renato Ribeiro é filho de uma das primeiras famílias a se instalar em Barcelona; é formato em arquivologia pela UFES, Especialista em Gestão Pública; e fundador do Projeto Ser que dá aulas de Pré-Enem gratuitas para jovens e adultos. Atualmente ele ocupa a subsecretária de Trabalho Emprego e Renda da Serra.