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De Serra III a Planalto Serrano: com quantas lutas se constrói um bairro?

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Monica Araújo é professora de História. Foto: Divulgação

Oriundo do fluxo de transformações decorrentes do processo de urbanização que o município da Serra experimentou a partir da instalação dos grandes projetos industriais, implementados em meados da década de 1970, no Espírito Santo, o bairro Planalto Serrano, originalmente projetado para ser o Conjunto Serra III, às margens da BR 101, está prestes a completar 35 anos de existência e nos dá mostra de como uma localidade que tem sua gênese a partir da luta pela moradia – a ocupação das 3.310 casas, parcialmente construídas pela construtora Marajá S/A, empresa carioca que faliu antes da entrega das residências – conseguiu, à custa da mobilização e resistência de seus moradores, empreender esforços em prol da efetivação de conquistas e direitos que, em áreas periféricas, são tão negligenciados.

Nesse sentido, vale asseverar, junto a Guimarães Rosa, que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. É nessa travessia de 35 anos que a história do lugar vem se constituindo pela ação de homens e mulheres que não se dobraram ao fatalismo e às impossibilidades. Foi das mobilizações populares que se chegou à conclusão de que a mudança do nome do bairro, Marajá, em referência à construtora que o projetou, fazia-se necessária, tendo em vista que a região se tratava de localidade popular e não de ricos.

Foi das ações coletivas que inúmeros protestos ganharam visibilidade e colocaram em pauta as demandas dos moradores, vinculadas ao bem viver: eletricidade, asfaltamento, água, transporte, equipamentos públicos de saúde e educação, entre outros, devem ser notados como conquistas que, gradativamente, alçaram a localidade à condição de terceiro maior bairro da Serra, na atualidade.

Com comércio dinâmico e uma diversidade de serviços, o bairro apresenta potencial para avançar ainda mais no que tange à qualidade de vida. No entanto, admite-se que a problemática que envolve a violência, elemento tão presente na nossa sociedade, escancarado pela desigualdade social, é uma questão que perpassa a realidade local.

Com relação a isso, admite-se que não somente a ação e a vontade dos indivíduos que, cotidianamente, são afetados por ela, sejam capazes de implementar transformações substanciais, mas também, principalmente, as políticas públicas que asseguram a possibilidade de se exercer uma cidadania social que transcenda e englobe o prisma político, incidindo, principalmente, no acesso à igualdade, justiça e participação, de modo irrestrito, dos indivíduos nas decisões que os atravessam. Planalto Serrano é exemplo de resistência e luta pela conquista de direitos.

Monica Araújo é professora de História e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) do Instituto Federal do Espírito Santo – IFES. No âmbito do curso, desenvolve pesquisa inter-relacionando a história local do bairro Planalto Serrano a práticas educativas emancipatórias, sob a orientação do profº. Dr. Leonardo Bis dos Santos.

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