Após quatro anos de tranquilidade, a Serra está vivendo uma nova epidemia de dengue. De janeiro até o dia 17 de março de 2023 foram 7.865 casos confirmados da doença. De acordo com a Prefeitura da Serra, dois moradores da cidade vieram a óbito e outras cinco mortes estão sob investigação.
A Serra está classificada como cidade de médio risco e os bairros que possuem mais notificações são Feu Rosa, Novo Horizonte, Vila Nova de Colares, Jardim Carapina e Laranjeiras.
O Tempo Novo conversou com a Superintendente em Vigilância em Saúde da Serra, Gabriela Gabriel de Almeida, que explicou o porquê do boom de casos de tempos em tempos na cidade.
A última grande epidemia que o município enfrentou foi em 2019, quando durante todo o ano foram 17.316 casos com dez óbitos confirmados. Antes disso, o ano que apresentou preocupação foi 2013, quando foram contabilizados 10.129 casos com dois óbitos confirmados.
Gabriela disse que de acordo com estudos epidemiológicos a dengue apresenta um desenvolvimento natural e esperado por ser uma doença endêmica, como é o caso da dengue, chikungunya e zika, que são consideradas arboviroses e tem tendência a ser cíclica em razão principalmente de um sorotipo circulante e população suscetível.
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No caso da dengue o período cíclico é sempre de outubro de um ano a maio do ano seguinte. “O aumento de casos tem relação com o sorotipo circulante na região, que no caso da Serra, é o sorotipo 1 (DENV-1) aliado a questão da população suscetível a contrair a doença. Como que acontece isso? Uma pessoa que pega a dengue fica por um período de seis meses em média ou mais imunizado contra outro sorotipo. Você só pega um tipo de dengue e fica protegido por seis meses mais ou menos dos demais sorotipos, depois disso volta a ficar suscetível”.
A dengue possui 4 sorotipos identificados atualmente: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DEN-V 4. No Espírito Santo, a Secretaria de Estado da Saúde, identificou a circulação do DENV-2.
“Aqui na Serra, com epidemia ou sem epidemia, sempre coletamos amostras de pacientes e enviamos para o Lacen fazer a análise e desta forma isolamos o vírus. Este ano, há a predominância da circulação do DENV-1 na cidade, o que não significa que os outros tipos da doença não estejam circulando no município também. Em 2019, por exemplo, predominou o DENV-2. Então a grande maioria da população naquela ocasião ficou imunizada contra aquele sorotipo. Quase quatro anos, temos a DENV-1 em circulação”, explica Gabriela.
Além da dengue, é monitorado diariamente os casos de zika que são problemáticos para gestantes e a chikungunya que é uma doença que debilita o paciente e tem tendência de cronificação em determinadas pessoas.
Gabriela alertou que o pano de fundo é sempre o vetor da doença, que é o mosquito Aedes aegypti. “Por isso precisamos da colaboração do cidadão. Se não tiver vetor não tem vírus e a doença não circula. Para evitarmos essa problemática sempre orientamos a população que tenha consciência, que fique de olho em seus quintais, casas e até apartamentos. Pequenas atitudes podem evitar que o mosquito se prolifere, mitigando assim o sofrimento para a população, pois quanto maior o número de casos, maior a tendência de ter a forma da dengue com complicação que vai exigir mais cuidado, algumas vezes com internação que pode até levar a óbito. O cidadão precisa fazer sua parte”.
A superintende informou que a área de risco que tem o maior criadouro de dengue é Laranjeiras. “Identificamos nestas regiões, criadouros muito importantes como reservatórios de água principalmente nível de solo, depósitos de móveis, vasinhos de plantas, tábua de ar condicionado e até bandeja da geladeira, são locais preferidos do Aedes. Temos também os depósitos fixos que são os ralos e calhas de caixa d’água”.
Tem sintoma? Procure um serviço de saúde
A Secretaria da Saúde (Sesa) orienta que em caso de quaisquer sintomas como febre, dor no corpo, dor articular, dor muscular, dor ao redor dos olhos, dores abdominais, náusea, vômitos, dor de cabeça, inicie imediatamente a hidratação, com ingestão de água, sucos naturais, chás e procure um serviço de saúde mais próximo, e alerte à equipe de saúde em caso de contato com área com mosquito e/ou a suspeição da dengue.
Ministério da Saúde no ES
Em razão do aumento de casos no Espírito Santo, uma equipe do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) formada por epidemiologistas, médicos, especialistas em controle vetorial e profissionais da assistência estarão no ES até sexta-feira (24), quando apresentarão um diagnóstico e avaliações sobre o cenário capixaba e propostas de combate a dengue, chikungunya e Zika.
Segundo a epidemiologista do Ministério da Saúde, Camila Ribeiro, dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, 3.725 apresentam casos de dengue. E entre os estados de preocupação quanto ao cenário da doença, estão o Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia e Sergipe.
“Esta mobilização por meio de visitas não é exclusiva daqui. Em virtude ao cenário que temos hoje no País, estamos fazendo essa mobilização nesses estados. O Espírito Santo, entretanto, é a nossa prioridade nesse momento, pois apresenta a maior proporção de municípios em situação de epidemia de dengue”, ressaltou.