É direito e prerrogativa de deputados estaduais fiscalizarem o governo. Portanto, não seria nada anormal a inspeção que cinco parlamentares capixabas fizeram na última sexta-feira (12) ao Hospital Dório Silva, na Serra.
Ocorre que a ação aconteceu um dia depois do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incentivar que pessoas invadam hospitais e filmem leitos para comprovarem suposto superdimensionamento da pandemia da covid-19. A fala de Bolsonaro é, no mínimo, melindrosa à saúde pública.
Logo, pegou mal a incursão de Lorenzo Pasolini (Republicanos), Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL), Carlos Von (Avante) e Vandinho Leite (PSDB) no hospital em Laranjeiras.
Ainda que os parlamentares defendam a narrativa de que já haviam programado a vistoria há uma semana para verificar denúncias de supostos problemas no funcionamento da unidade, que está praticamente voltada para o tratamento de pacientes como o novo coronavírus, fica difícil dissociar a ação dos parlamentares do conselho dado por Bolsonaro.
Aliás, os cinco deputados fazem oposição ao governo de Renato Casagrande (PSB) e tem adotado a retórica bolsonarista. O que não seria nenhum problema se o presidente não insistisse em atacar sistematicamente o estado democrático de direito e ter uma condução desastrosa na pior crise de saúde da humanidade em um século, se portando como negacionista, deixando o Ministério da Saúde sem coordenação e trabalhando para minar governadores.
Durante a inspeção, os deputados não encontraram leitos vazios. Ao contrário, estavam lotados de doentes pela covid-19. Os deputados denunciaram que a unidade já não recebe pacientes com outros problemas de saúde, que falta EPI para funcionários, que falta medicamento para sedação e que até um lixão se formou no hospital. Se procederem os problemas, precisam ser corrigidos para ontem.
Mas a legitimidade do trabalho dos deputados é questionável na forma e pela conjuntura. É que pode servir de mau exemplo para outras pessoas que tenham a intenção de entrar, autorizadas ou não, em hospitais para filmar leitos, profissionais de saúde e pacientes.
Desses mesmos deputados, não vieram críticas à condução errática do Governo Federal, detentor de 70% dos impostos arrecadados, na gestão da pandemia. O Governo Estadual pode até estar cometendo erros, como baixo número de testes e falta de um hospital de campanha, dentre outros equívocos apontados pelos críticos. Mas, assim como os governos de outros estados, não apenas está sem apoio da União como também é fustigado pelo líder máximo do país.
Vale lembrar também que nações bem mais ricas que o Brasil enfrentaram lotação e problemas em hospitais quando tiveram o pico de casos. Enquanto a polarização política se aprofunda, o Brasil, com suas mais de 43 mil vítimas fatais, já é o 2ª com mais mortes pela doença. E se tornou o novo epicentro mundial da pandemia.
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