Passos lentos e irregulares, cabeça baixa quase ao ponto de o queixo tocar o peitoral… As costas curvadas como se carregassem o próprio globo terrestre. No entanto, a carga é composta de papéis.
São as contas do mês com os companheiros códigos de barras, das poucas correspondências ainda entregues no prazo pelos Correios. Elas se avolumam numa gaveta qualquer. As desculpas são várias e a resposta não muda: Não há vagas. Mais um dia perdido acompanhado de outra noite mal dormida. Falo, ou melhor, escrevo por experiência própria. Numa dessas crises, já me encontrava na fase do “faço qualquer coisa”. Indicado por um vizinho conhecido por Gaúcho, me vi no interior da caixa d’água da Cesan em construção em Jardim Limoeiro. Na carteira, ajudante de pintor.
Um mês depois e o vento começou a soprar a favor. Um telegrama – hoje seria um e-mail – da então Companhia Siderúrgica de Tubarão me chamava para testes e futura admissão. Graças a Deus, agradeci assim. Difícil encontrar quem nunca passou pelo drama do desemprego.
É de doer o coração a atual situação da Serra. Antes uma referência de empregabilidade e hoje uma campeã na supressão de postos de trabalho. Mais triste ainda é não identificar ações eficazes no poder público local no combate ao desemprego. É preciso botar a mão na massa e criar oportunidades incentivando o empreendedorismo e criações de cooperativas, entre outras ações.
O trabalhador em busca de uma vaga não pode perder nunca a esperança. Ela funciona como força motriz que nos impele em busca de dias melhores. E dias melhores chegarão quando menos se espera. Às vezes pela ajuda de um vizinho, ainda uma das melhores formas de retornar ao mercado de trabalho.