DANIELLE CASTRO
Carnaval chegando, verão a todo vapor e até quem está com peso em dia quer “perder uns dois quilinhos” para chegar impecável às praias, aos blocos e às avenidas. Fazer planos alimentares restritivos com foco em emagrecer para datas comemorativas, entretanto, pode ser gatilho para distúrbios alimentares e a recomendação médica é evitar cair na tentação das dietas milagrosas e intensivas.
A Asbran (Associação Brasileira de Nutrição) declara, em nota assinada pela vice-presidente da entidade, Daniela Cierro, que dietas com baixo consumo energético, jejuns de longa duração e sem acompanhamento nutricional não são recomendadas e sua prática é fator de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares.
“A busca pelo corpo perfeito gera para muitas pessoas um critério desmedido e ilusório, pondo em risco a saúde mental e física”, afirma Cierro, no documento.
A entidade destacou ainda que “a restrição alimentar drástica” também está associada a um distúrbio chamado “privação hedônica”, que consiste em ter prazer em sentir fome ou em evitar a comida.
A Asbran reforça que os transtornos alimentares são caracterizados por perturbações comportamentais relacionadas aos hábitos alimentares, além de envolverem preocupação excessiva com a imagem corporal, o que induz a comportamentos nocivos como a ingestão reduzida de alimentos, uso de laxantes e diuréticos, ou a incitação de vômito.
“É fundamental registrar que um corpo saudável dentro dos padrões individuais é uma conquista diária, através de uma boa hidratação e alimentação saudável variada”, diz Cierro.
O médico Fábio Salzano, vice-coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), afirma que dietas para emagrecimento só devem ser feitas por aqueles que realmente precisam perder peso.
Pessoas sem problemas de saúde em decorrência do excesso de peso não devem recorrer a este tipo de plano alimentar nem mesmo com acompanhamento, diz ele.
“Carnaval é sinônimo de alegria e confraternização. Arriscar a saúde por questões estéticas não deveria ser foco, mas sim a diversão consciente. Um dos principais fatores desencadeantes de transtornos alimentares é a restrição alimentar”, reforça o especialista.
O professor Gabriel Almeida, médico e coordenador da pós-graduação de Ciências da Obesidade e Sarcopenia da Faculdade Focus, afirma que outro problema decorrente de dietas restritivas é que elas geralmente surgem por meio de amigos ou influenciadores, ao invés de profissionais da área indicados para prescrever planos alimentares.
“Essas dietas têm um grande problema. Elas realmente levam a perda de peso inicial, só que muitas vezes isso é acompanhado de uma perda de massa muscular, o que diminui o metabolismo”, diz Almeida.
Autor do livro “O Efeito Sanfona” (Vital), Almeida pontua que essa alteração metabólica modifica o regulamento normal do corpo para queima de gordura e faz com que, depois do emagrecimento, a pessoa passe a engordar com mais facilidade.
“Se antes uma pessoa comia 2.000 calorias e não engordava e nem emagrecia porque o metabolismo dela girava em torno desse consumo diário, quando ela perde massa muscular, o metabolismo dela cai para 1.500 calorias, que passa a ser o ponto de equilíbrio. Com isso, agora, se ela ingerir 1.600 ou 1.700 calorias, ela começa a engordar”, pontua.
O professor diz que o Carnaval, assim como o Réveillon, é um grande gatilho, mas que é possível criar estratégias mais eficazes e saudáveis para se sentir bem – todas devem contar com ajuda profissional.
A modelo e atriz Alane Pereira, 37, musa da escola de samba de grupo especial Unidos de Vila Maria, desfila no Carnaval de São Paulo há oito anos. Mãe de dois filhos, a modelo mantém “um acompanhamento intenso”, segundo ela, com nutricionista e personal trainer.
“Eu passo o ano inteiro de dieta, a cada 6 meses uma nova estratégia. Nessa fase final [pré-Carnaval], a dieta muda a cada semana”, diz.
Natural de Natal (RN), Pereira diz que não sofre pressão da escola para manter o corpo em forma e que seus hábitos alimentares foram incorporados quando iniciou na carreira de modelo, época em que recebeu críticas por seu corpo.
“Na adolescência sofri muito com isso, não era muito alta, bochechuda. O próprio dono da agência falou que eu nunca seria uma modelo. Então cresci com essa visão, tentando achar o meu lugar. Infelizmente a sociedade ainda cobra muito isso das mulheres sim”, relata.
A musa se considera adaptada a sua rotina de treinos e dietas e sem distúrbios de imagem, apesar de toda preocupação em manter a forma. “Sou uma mulher que tem um narigão, que por muito tempo foi motivo de chacota, algo que antigamente queria esconder e hoje nem penso em mexer. Gosto de tudo em mim”, diz ela.