Por Bruno Lyra
Em julho do ano passado, a ArcelorMittal Tubarão anunciou obras para reduzir a emissão de pó preto em 16% até 2023. Em janeiro, a empresa fez outro anúncio: o de que irá dessalinizar água do mar para reduzir a pressão sobre o uso do rio Santa Maria, manancial que atende Serra e Vitória. A Arcelor é a maior consumidora individual de água desse rio.
Na última semana, através do Secretário Estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Bruno Lamas, veio a notícia de que a Arcelor irá ampliar o alto-forno. Ficam as perguntas: trata-se de uma nova expansão? Essa expansão estaria sendo dissimulada sob a justificativa de investimentos ambientais?
Não está claro. Mas não deveria haver dúvida. Transparência é o mínimo que o arranjo minero-siderúrgico deveria ter após as tragédias/crimes ambientais de Mariana e Brumadinho (MG), e da cotidiana descarga de pó preto e gases no ar da Grande Vitória.
A Vale, gigante fornecedora de minério e razão de ser da Arcelor em Tubarão (ex-CST), também anunciou investimento para reduzir a poluição. Não será também uma expansão?
Vale e Arcelor tiveram expansões em meados da década de 2000, a despeito dos questionamentos sobre a já problemática poluição que emitiam até então. Expansões que tiveram impacto social direto na Serra, cidade que abrigou a imensa mão de obra temporária usada nas obras, mas não empregada na operação. Não dá para esquecer que, na época, a Serra foi a cidade com a maior taxa de assassinatos do mundo.
Há precedentes da falta de transparência na siderurgia. No início da década de 2000, a Vale tentou fatiar o licenciamento de sua expansão, pedindo autorizações específicas para cada uma das sete usinas que sofreriam up grade e a construção da oitava. Por pouco não colou. Se colasse, sequer haveria audiências públicas para que a expansão fosse apresentada e pudesse ser debatida com a sociedade.
Mas como poderá haver expansão em Tubarão agora, considerando que a Vale está sendo obrigada a reduzir produção por conta da paralisação compulsória de lavras e barragens de rejeitos no calor da repercussão da tragédia de Brumadinho? Só a empresa pode responder.
Mas há de se lembrar que só parte do minério que chega a Tubarão é transformado em pelotas. Boa parte é exportada sem beneficiamento. E priorizar o beneficiamento local pode ser o caminho.