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Do total de pacientes das UPA’s da Serra, 20% vem de fora, em especial de Vitória, revela secretária

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Bernadete Coelho concedeu entrevista ao Jornal Tempo Novo. Foto: Gabriel Almeida

A sigla SUS significa algo totalmente auto-explicativo: Sistema Único de Saúde. Na prática, a Constituição de 1988 criou um modelo de gestão de saúde pública de referência mundial do qual permite a pessoa o direito ao acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde.

Isso quer dizer que se alguém sair lá do Monte Caburaí, na cidade de Uiramutã em Roraima e por alguma razão do destino precisar de ajuda médica no Arroio do Chuí, no Rio Grande do Sul, ela tem o direito pleno de atendimento, exatamente igual qualquer nativo gaúcho. Mesmo que estes dois pontos sejam os mais extremos de norte a sul do Brasil com 4.394 km de distância.

Ou seja, o SUS é integral, igualitário e universal, e não faz, e nem deve fazer qualquer distinção entre os usuários inclusive os estrangeiros que estiverem em território nacional.

Feitas essas considerações importantes para dimensionar o quão revolucionário é o SUS – mesmo que na ponta, a qualidade do serviço seja questionável em várias partes do país  – é preciso também elencar questões que diz respeito aos recursos públicos. Isso porque, apesar do Sistema ser Único, os Orçamentos dos entes federados são diferentes. Na forma mais resumida: o sistema é um só, mas cada unidade da federação (A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios) tem sua grana própria para fazer funcionar a engrenagem de saúde.

Na última quinta-feira (09) o Jornal TEMPO NOVO recebeu a Secretária de Saúde da Serra, Bernadete Coelho para um podcast (que pode ser visto na íntegra logo abaixo da matéria). Ela disse que a Serra é a responsável direta por 50 equipamentos de saúde, que passam desde as 39 unidades de saúde (incluindo as seis regionais) três Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e o Hospital Materno Infantil, inaugurado em fevereiro desse ano, por exemplo.

Esse arranjo de saúde pública só perde para a estrutura do Governo do Estado. E por conta dessa oferta de serviços médicos, moradores de outras cidades acabam vindo para a Serra em busca de atendimento. As estruturas são tão discrepantes, que enquanto a Serra tem três UPA’s (Serra-Sede, Carapina e Castelândia) como já citado, a capital Vitória, por exemplo, tem apenas dois P.A’s (Pronto Atendimento).

É importante diferenciar os dois equipamentos, pois os P.A’s funcionam dentro de um horário de serviço pré-determinado. Já as UPA’s presta assistência durante as 24 horas do dia e funcionam quase como um pequeno hospital.

Segundo Bernadete, as três UPA’s da Serra fazem em média de 10 a 12 mil atendimentos/mês cada uma. Ou seja, um montante de 30 a 36 mil atendimentos por mês, o que é mais do que a população total de 60 das 78 cidades do Espírito Santo.

Entretanto, cerca de 20% desse total vem de moradores de outras cidades, em especial de Vitória, que é limítrofe ao sul da Serra. Vale relembrar: a Secretária se referiu apenas sobre as UPA’s, sem contar os outros equipamentos de saúde. Perguntada sobre o impacto na perpectiva de gestão desse dado alarmante, Bernadete foi objetiva: “O impacto nas contas públicas é muito grande, pois a Serra tem seu orçamento próprio, mas o que mais atrapalha é o tempo de atendimento, que naturalmente aumenta o que gera muito desconforto do usuário da Serra”, disse Bernadete.

E ainda acrescentou: “se o morador da Serra estiver com a pulseirinha verde (indicando menor urgência de atendimento) e chega alguém de outra cidade com a pulseirinha vermelha (indica mais urgência) é atendida na frente; e é o que mais ocorre; e o morador da Serra às vezes não entende e gera confusão”, disse.

Ela cita o tamanho da estrutura de saúde da Serra e dimensiona a diferença estrutural com as outras cidades da Grande Vitória: “Vitória só tem dois P.A’s; Vila Velha tem uma UPA e um P.A; Cariacia tem um P.A…” e finaliza fazendo uma observação importante: “A UPA de Carapina, por exemplo, é do lado de um terminal do trancol, por exemplo…”.

A Secretária ratificou que a Serra não pode de maneira nenhum fazer distinção entre as pessoas, mas confirmou que tal situação tem contribuído muito para a lotação das unidades. Em uma entrevista com o prefeito Sérgio Vidigal, em 16 de maio desse ano, o prefeito já tinha revelado a extensão do ‘problema’, de acordo com ele, em abril, só a UPA de Castelândia (que é a mais nova e moderna da Serra) realizou 22% dos atendimentos totais somente de pessoas vindas de Vitória.

Segundo Bernadete, a resolução para este ‘problema’ de ordem orçamentária é criar um visão metropolitana para a saúde, ao invés das cidades terem estratégias de saúde pública individuais, sem integração umas com as outras.

O mais ‘curioso’ dessa realidade detalhada pela secretária, é que no mesmo podcast, Bernadete disse que ainda existe muita resistência por parte de médicos que moram em Vitória, virem trabalhar na Serra, mesmo sendo a cidade que melhor remunera os profissionais. Em especial nas comunidades ao norte de Laranjeiras, que são mais afastadas da capital. O que não deixa de ser um paradoxo complicador, pois se os médicos não vêm ao município da Serra, por outro lado moradores de Vitória vem ser atendidos na Serra. Essa questão também foi detalhada em outra matéria, que você pode ler clicando aqui.

Todo o conteúdo do podcast você pode conferir aqui em baixo:

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