Com o Contorno do Mestre Álvaro previsto para ser entregue ano que vem, o trecho da BR 101 em frente a Cidade Pomar (km 261) foi esquecido pelo Eco e pelo governo federal. Além de não ter sido concluída a obra do trevo de acesso à Estrada do Urubu (Av. Norte x Sul) a pista está com buracos, ondulações e sem pavimento no acostamento, este também esburacado. Combinação que só aumenta o perigo num dos trechos considerados mais sangrentos dentre os 470 km da rodovia no ES.
Veja o vídeo feito na última terça – feira (29) pela reportagem de Tempo Novo.
O sentimento da comunidade do entorno é de revolta, uma vez que a Eco 101 vêm dizendo há anos que não pode melhorar o trecho sob o argumento de não possuir a concessão do mesmo. E nem a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) nem o Departamento Nacional de Infra Estrutura e Transportes (DNIT) dão solução.
“A gente se sente abandonado. Já participei de umas cinco reuniões com a Eco. E nós pedimos a eles o que podiam fazer para evitar tantos acidentes, tantas mortes. Já perdi amigos, tenho um vizinho que sobreviveu a um acidente ali, mas ficou com rosto deformado. Isso vem nos causando até revolta. Se você vai na Eco ela te dá essa resposta sem fundamento, de que não tem a concessão do trecho. Você procura outros órgãos como a gente já protocolou no DNIT, você nem é atendido. A gente fica à mercê sem saber a quem recorrer”, desabafa o líder comunitário de Cidade Pomar, Claudiomar Rodrigues.
O ativista diz estranhar esse argumento da Eco, uma vez que a empresa, recentemente, colocou hastes plásticas no meio da pista para evitar conversões de quem vem pela Estrada do Urubu e pretende ir no sentido Carapina ou de quem desce pela rodovia vindo do sentido Serra Sede e pretende entrar em Cidade Pomar naquele ponto.
“Depois que botou esse material não fiquei sabendo de acidentes. Mas, como essa proteção é frágil e os carros conseguem dobrar, ainda tem motorista fazendo a conversão. E motos também. Então continua perigoso, apesar de que essa pequena intervenção (da Eco) provou que se fizerem alguma coisa os riscos diminuem”, avalia.
Só de boca
Morador do bairro vizinho, Nova Carapina e em seu 1º mandato de vereador na cidade, Teilton Valim (PP) cobra da Eco 101 a apresentação dos documentos que comprovam que não tem responsabilidade sobre o trecho.
“Sei que dão assistência quando ocorrem acidentes ou tem carro quebrado. Colocaram aquelas estacas (hastes) de plásticos lá. Tem dois radares próximos, que eles afirmam dar manutenção, mas dizem não receber comissão por multa. Me reuni na última quarta-feira (23) com Caio e Bráulio, gestores da Eco. Eles me convidaram depois que fiz vídeos denunciando o problema do km 261”, conta.
Teilton acrescenta que durante o encontro os gestores disseram que o trecho entre Nova Carapina e Campinho da Serra, que abrange do km 260 até o km 261,5 pegando a parte de Cidade Pomar, não está na concessão da rodovia à empresa.
“Falaram que não tem autorização para fazer melhoramento da rodovia. Eles disseram que existe um arrolamento ao processo para incluir aquele trecho, que está sendo feito esse arrolamento através da ANTT. Mas não souberam passar o número do processo. Tudo de boca, não me deram nada tangível. Há quatro dias eu e minha equipe estamos tentando localizar no essas informações nos documentos da concessão e até agora (terça 29, à noite) não encontramos. Se não acharmos, vamos tomar outras providências, porque não pode o Brasil inteiro passar nessa região, nesse trecho que foi considerado o mais perigoso da 101, e não ter nenhum melhoramento”, diz o vereador.
Passageiros de ônibus também são prejudicados
Vice – presidente da Associação de Moradores de Cidade Pomar, Claudionor Bispo, disse que a situação levou a Ceturb a extinguir um ponto de ônibus que havia no local, prejudicando usuários do Transcol.
“Antes o morador que pegava o ônibus que vem direto de Vitória para a Serra Sede podia saltar ali para vir para o bairro. Agora tem que ir para o Terminal de Laranjeiras e pegar outro ônibus. Ou saltar em Nova Carapina e vir andando. Eu e o presidente (da Associação de Moradores) Claudiomar fomos várias vezes à Ceturb, mandamos ofício, mas eles dizem que para reativar o ponto é preciso fazer uma baia ali. Como nem a Eco nem o DNIT fazem a obra, ficamos também sem o ponto”, explica Claudionor.
Municipalização vai transformar BR na Avenida Mestre Álvaro
Os líderes comunitários ouvidos pela reportagem revelaram que a única esperança que têm é com a municipalização do trecho urbano da BR 101 na Serra, uma vez que a Eco vai assumir o Contorno do Mestre Álvaro, obra que está sendo custeada com dinheiro público – a estimativa é que o projeto consuma R$ 400 milhões até o fim de 2022.
E com a municipalização, a prefeitura da Serra use recursos próprios para melhorar o trecho e pavimentar a Estrada do Urubu (Avenida Norte x Sul). “A Prefeitura já falou de fazer um viaduto ali, mais simples do que o projeto original do DNIT, mas que também contempla a pavimentação da Av. Norte x Sul. Inclusive a prefeitura disse que não asfaltou a Norte x Sul ainda por medo de aumentar a passagem de carros e piorar o risco na BR do jeito que está lá”, acrescenta o presidente da Associação de Moradores, Claudiomar Rodrigues.
A municipalização da BR 101 entre Carapina e Serra Sede pode acontecer até mesmo antes da conclusão do Contorno do Mestre Álvaro. É o que revelou o secretário de Obras da Serra, Halpher Luigi, em entrevista publicada com exclusividade por Tempo Novo no último dia 15 de junho.
Concessionária promete assumir trecho
Em nota enviada na tarde desta quarta-feira (30), a Eco 101 prometeu assimir o trecho. Leia a íntegra do comunicado.
O trecho citado no bairro Cidade Pomar (Km 260,28 ao 261,65), na Serra, está em processo de transferência da administração do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), para a Eco 101, conforme o Contrato de Concessão e documentos que o integram. Ressalta, ainda, que até que seja concluída a transferência, a Concessionária realiza no local serviços emergenciais de manutenção e atendimento médico e mecânico. Para aumentar a segurança, em maio deste ano o trecho questionado recebeu a instalação de dois radares, para induzir motoristas a respeitarem a velocidade da via.
ANTT e DNIT
A concessão de 470 quilômetros do trecho capixaba da BR 101 à Eco é de responsabilidade da ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres), a quem inclusive cabe fiscalização sobre o trabalho da concessionária. A Agência se manifestou sobre a situaçaõ do Km 261. Através de sua assessoria de imprensa, disse nesta quarta-feira (30) que “o trecho será contornado quqando da implantação do Contorno do Mestre Álvaro, atualmente em execução pelo DNIT. Ou seja, não faz parte das obrigações originais do contrato de concessão da Eco 101, sendo de responsabilidade do DNIT”.
Após receber a resposta, a reportagem voltou a questionar porque o trecho não seria obrigação da Eco 101, uma vez que no Km 260 a empresa instalou até passarela de pedestres e nos trechos vizinhos faz manutenção do asfalto. Mas até o momento da publicação não havia recebido resposta.
Responsável por obras em rodovias federais, o DNIT também foi procurado, porém até o momento não deu retorno.