Não é de agora que se põe fogo nas matas do Brasil. Mas o que se está assistindo no Pantanal e na Amazônia é estarrecedor. E não tem ficado restrito a esses biomas. O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) é culpado pela dimensão histriônica dessa tragédia. Ele não só vem desmontando a estrutura da proteção ambiental do país e afrontando o artigo 225 da Constituição, mas está deliberadamente estimulando a destruição.
O presidente faz isso com palavras ao negar a gravidade do aquecimento global, atacar a política de proteção às terras indígenas e reservas ambientais, achincalhar ativistas e lideranças que se dedicam ao cuidado com a natureza. Faz isso ao dizer que outros países não podem reclamar do Brasil porque já destruíram as florestas que tinham e ao desqualificar cientistas.
Bolsonaro estimula a destruição também ao exonerar e perseguir servidores de órgãos ambientais. Ao afrouxar multas para grandes desmatadores. Ao escalar um condenado pela Justiça por crime ambiental, Ricardo Salles, para comandar o Ministério do Meio Ambiente. Salles é aquele mesmo que aconselhou seu chefe a aproveitar as atenções voltadas para pandemia e ‘ir passando a boiada’ nas leis ambientais durante a burlesca reunião ministerial ocorrida no último dia 22 de abril.
Tudo isso deixou ainda mais à vontade parte dos grandes criadores de gado, de grandes produtores de commodities agrícolas, de madeireiros, grileiros e garimpeiros. Muitos desses financiados por bancos e/ou ligados a outros setores de parcelas da elite econômica nacional.
O Pantanal já perdeu 15% de sua vegetação nativa só esse ano. Não há paralelo na história de tamanha destruição num dos maiores santuários da vida selvagem da Terra. E a Amazônia desde 2019 vem quebrando recordes de incêndio e desmatamento, incluindo em reservas ambientais e terras indígenas.
A resposta de Bolsonaro a isso tudo é tão pífia que não exagera quem acusa o atual governo de dolo. Há três dias o presidente disse que o Brasil “está de parabéns” pela preservação ambiental. Deboche? Ignorância? Mais uma declaração que distorce a realidade para ser ‘ruminada’ por sua numerosa e agressiva claque? Um pouco de cada coisa.
Prejuízos à saúde e ao bolso também para
quem mora bem longe dos incêndios
Os incêndios agravam a crise ambiental. Haverá menos água ainda nas secas. Nas chuvas, enchentes cada vez mais catastróficas. A fumaça se espalha pelo Brasil, chegando aos maiores centros urbanos como Rio e São Paulo e piora a já castigada saúde respiratória de quem neles vive. Tudo isso em meio a mais severa pandemia em um século, com transmissão pelas vias respiratórias e atacando principalmente pulmões.
Mas a pandemia deve ser temporária, vacinas estão a caminho. Já o ar sujo é problema ainda mais complexo. Mata de sete e oito milhões de pessoas por ano no planeta segundo a OMS. E além do impacto à economia pelas mortes precoces, pesa no bolso de quem precisa gastar com remédios e atendimento médico. Custo que se estende aos sistemas públicos de saúde.
As queimadas gigantescas Brasil afora agravam outra catástrofe: o aquecimento global. E quanto mais quente o clima, mais suscetíveis a incêndios ficam florestas, cerrados, campos naturais, plantações e cidades.
É um círculo vicioso com potencial para colapsar não só a economia, mas a civilização. Duvida? Basta lembrar o que os moradores da Serra passaram durante a superseca de 2015 e 2016. Na época faltou água até para o rodízio de abastecimentos dos bairros. O incêndio que durou meses nas turfas dos alagados do Mestre Álvaro – o Pantanal Serrano – sufocou comunidades inteiras.
Isso que os serranos viveram há tão pouco tempo pode ser só fichinha perto do que está por vir caso tamanha destruição ambiental não seja freada. Tomara que não seja tarde, pois é indubitável que o ecocídio leva ao genocídio. Basta lembrar que a humanidade é parte do complexo e delicado ecossistema do planeta.
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