Não bastasse impedir que jornalistas do Jornal Tempo Novo adentrassem nas dependências da Câmara da Serra, o presidente Rodrigo Caldeira usou as redes sociais para desferir mais insinuações e insultos ao veículo de comunicação.
Por isso, o jornal entendeu por bem, retransmitir algumas informações; em um texto publicado por meio de dois stories na página do seu Instagram, Caldeira começou dizendo que: “bater de frente com o sistema é sempre uma guerra mesmo, não tem jeito”.
Caldeira é presidente por três vezes seguidas do maior poder legislativo municipal do Espírito Santo, tanto em orçamento quanto em estrutura. No conceito mais literal do significado político da terminologia de ‘sistema’, ele na verdade, é o sistema em pessoa.
No segundo parágrafo, ele afirma que não proibiu “a entrada de nenhum veículo de comunicação na Câmara nesta quarta-feira”, seguiu dizendo que estava focado na sessão e que “não disse que a imprensa não poderia acessar a galeria”.
O jogo de palavras distorce a censura cometida contra o jornal Tempo Novo. A primeira parte procede, de fato ninguém impediu que os jornalistas entrassem na Câmara, até por que isso seria absolutamente ilegal; entretanto, ao dizer que o jornal foi impedido de fazer a cobertura da sessão in loco, o veículo de comunicação se refere a atividade de plenário, que é o local onde os vereadores efetivamente estão e do qual não há registros de impedimento por parte de nenhum presidente à entrada de nenhuma equipe de imprensa.
O superintendente-geral da Câmara, Fabão da Habitação, de fato não impediu que os jornalistas acompanhassem pela galeria, o que seria também, absolutamente ilegal; mas este, sob ordens expressas do presidente (segundo o mesmo) não permitiu a entrada dos jornalistas nas dependências da Câmara; negativa nunca antes dada a este jornal e a nenhum outro – que se tenha registro.
A justificativa dada pelo controlador geral, era de que “o ambiente não estava bom” e que havia “muito conflito”. Tal justificativa embasa ainda mais a necessidade da presença da imprensa no acompanhamento in loco da sessão, para que, o veículo pudesse transmitir as informações na sua forma mais assertiva. Na sua missão de levar a informação ao morador, o Tempo Novo não pode ter tolhido o direito e dever de reportar os fatos, especialmente em momentos de conflito político – que são os momentos fundamentais em em que a verdadeira imprensa precisa se fazer presente.
O presidente segue o texto dando insinuações de que o veículo de comunicação em questão está “mentindo”. Na ante sala que divide a área externa do interior da Câmara, estavam duas recepcionistas, dois seguranças e vários populares. Todos puderam acompanhar o impedimento sumário e autoritário da entrada dos jornalistas no interior da Câmara.
Os jornalistas insistiram para entrar e durante a tentativa, vereadores passaram pelo local e testemunharam a cena, alguns deles se ofereceram para que os profissionais entrassem no interior da Câmara na condição de convidados deles, oferta prontamente negada pelos jornalistas, já que é de direito do veículo de comunicação, sério, responsável, com história e com profundidade, adentrar no parlamento, assim como faz outros jornais, em especial o Tempo Novo, desde 1983.
O presidente segue fazendo insinuações de “desinformação e má-intenção”. É importante ressaltar que um jornal que busca fazer a cobertura in loco, presencialmente, está exatamente imbuído de informar da forma mais precisa; inclusive, era intenção da equipe, fazer transmissão ao vivo da sessão nas redes do Tempo Novo.
Sobre a caracterização: “mal-intencionado”; fica ainda mais confuso compreender as justificativas do presidente, uma vez que impedir e censurar uma equipe de jornalistas profissionais de atuarem no exercício da sua função soa exatamente como má-intenção de poderosos, que não querem ter seus atos expostos ao público. Liberdade de imprensa é exatamente a ferramenta usada para combater a má-intenção, a desinformação, a mentira e o sistema; todos itens citados pelo presidente.
Portanto, o Jornal reitera: na Serra, se depender de nós, não será cedido um milímetro sequer frente aos avanços da liberdade de imprensa conquistados no Brasil. Censura é ferramenta usada por autocracias há muito combatidas pelas democracias insurgentes. O Tempo Novo tem esse nome, pois seu fundador, Eci Scardini, em 1983 vislumbrava um tempo novo no Brasil com a derrocada da ditadura militar e do autoritarismo – que um ano depois iria enfrentar a enchente social das Diretas Já.
O Tempo Novo é um levante Serrano contra a censura e os pretensos super-poderosos. Este jornal já viu a Serra sair de 60 mil habitantes para 540 mil. Já viu passarem inúmeros prefeitos, vereadores, deputados e governadores; enquanto se mantém firme e forte no pioneirismo da comunicação na Serra.
Prova disso são os 13 milhões de acessos em 6 meses de 2022; que consagram um jornal independente, sem grandes grupos empresariais financiadores, feito de serranos para serranos e que possui uma memória histórica única na cidade. Entre os jornalistas impedidos de entrar no interior da Câmara, está o sócio-fundador, Eci Scardini, hoje com 61 anos de idade, que diagramou o primeiro regimento interno da Câmara ainda nos anos 80.
Ao invés de se retratar com o jornal e com os jornalistas que foram censurados e impedidos de exercer a sua função, o presidente optou, mais um vez, por desqualificar o jornal, que foi fundado quando Rodrigo era somente uma criança. Vereadores e prefeitos passarão, e este jornal continuará.
Entenda o caso:
A Câmara da Serra como vem sendo noticiado pelo Tempo Novo, passa por mais um momento de instabilidades com vereadores se digladiando, cometendo supostos atos de decoro parlamentar, acusações mútuas e até de cunho homofóbicos.
O pano de fundo é a tentativa de um grupo de 13 parlamentares de antecipar a eleição da mesa diretora de novembro para julho. Enquanto isso, o atual presidente que já usou deste expediente no passado tenta segurar o requerimento que trata do assunto. Desde então os níveis de tensão vem em escalada.
Com isso, diante do ocorrido na sessão da última segunda-feira (11) do qual lamentáveis cenas ocorreram dentro do plenário da Câmara, a reportagem decidiu ir in loco cobrir a sessão, do qual os jornalistas foram impedidos de entrar.