As recentes declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, causaram grande indignação país afora, uma vez que ele questionou o atual modelo de inclusão de alunos portadores de deficiência em salas de aula, defendendo um modelo menos inclusivo e mais exclusivo.
A professora aposentada, Maria Rita Soares Miguel, com grande contribuição na área educacional, desde às séries iniciais até a acadêmica mostra no texto abaixo o seu ponto de vista sobre o tema.
Vale lembrar que Maria Rita tem uma longa história com a Serra. Morou na Serra sede, foi professora aqui, casou com um serrano, Antônio José Peixoto Miguel e é mãe do médico Gustavo Peixoto.
A educação inclusiva é uma concepção de ensino cidadã e contemporânea que garante o direito de todos à educação, independente de suas singularidades.
Fundamenta-se na igualdade de oportunidades e na valorização do humano, contemplando suas diversidades de qualquer natureza. Ela tem o mérito de orientar as relações humanas para a construção de uma sociedade mais justa , participativa e democrática.
Esse alcance se dá por meio do compromisso com o desenvolvimento e bem- estar social e para isso requer a inovação dos sistemas de ensino, por meio de suas políticas e práticas, a fim de garantir o acesso, a participação e a aprendizagem de todos, sem exceção.
Seus princípios são:
– Toda pessoa tem o direito de acesso à educação;
– Toda pessoa aprende;
– O processo de aprendizagem de cada pessoa é singular;
– O convívio no ambiente escolar comum beneficia todos; e
– A educação inclusiva diz respeito a todos.
Como existe um histórico de privação da participação das pessoas portadoras de deficiência nas redes de ensino, há um entendimento de que ela contemple apenas esse público. Essa é uma posição sectária e equivocada porque a inclusão diz respeito a toda a sociedade, à cidadania e à democracia.
E, é justamente essa compreensão que está faltando ao Sr. Milton Ribeiro, atual Ministro da Educação, que em seu discurso sinaliza retomar as antigas “classes especiais”, derrubando conquistas históricas das famílias e profissionais, que tanto lutaram por uma educação justa e de qualidade para todos. Essas conquistas, que hoje estão asseguradas por legislação própria, correm o risco de um retrocesso.
As “classes especiais”, geralmente improdutivas e estéreis, são emblemáticas e estigmatizadas. Dentro dessa ótica, está faltando marcar as crianças portadoras de deficiências com uma “estrela costurada ” em suas roupas….
Além disso, as “classes especiais” contemplam um modelo de menor investimento. E, essa “educação mais barata” não interessa a uma sociedade que luta por democracia.
A verdade é que uma educação inclusiva requer inovações das ideias, investimentos em formação de profissionais, formação de equipes multidisciplinares. Sou professora, com 50 anos de atuação nos ensinos fundamental, médio, técnico, tecnológico e universitário e mãe de uma deficiente auditiva severa.
Conheço muito bem essa luta, pois minha filha foi a primeira criança portadora de deficiência a entrar em uma dada escola, considerada para crianças “normais”, como dito à época.
Com a parceria escola/família, ela foi capaz de finalizar o ensino básico com brilhantismo. Cursou, em nível superior, duas faculdades: Administração e Direito e depois fez Pós-graduação. Passou em concurso público e hoje exerce sua função profissional com competência e muita responsabilidade.
Viveu todas as fases de sua juventude: dançou, se divertiu, namorou, casou- se e é mãe. Enfrentou, com galhardia, as dificuldades que a vida lhe impôs: harmonizou-se com o universo.
Essa é a história de uma criança que foi incluída socialmente. Essa é a luta de todos aqueles que acreditam na EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA EXCLUSÃO!
Por Professora Maria Rita Soares Miguel – Lic. em Ciências Biológicas, Bel em Administração, Especialista em Educação, MSc em Administração, professora aposentada do IFES, ex Diretora da Faesa, ex Conselheira do Conselho Estadual de Educação do Estado do Espírito Santo
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