A Serra, como fenômeno de urbanização, tem mostrado sinais de maturidade tanto no tecido social quanto na estrutura de ocupação. Recentemente, divulgamos novos dados demográficos do IBGE, que apontaram Colina de Laranjeiras como o bairro mais populoso da Serra, tendência de crescimento também notada em Morada de Laranjeiras.
Mais significativo do que os números em si, é o fato de que, pela primeira vez desde a série histórica iniciada em 1960 — período que deslocou o eixo de desenvolvimento da Serra Sede para a região do Planalto de Carapina —, nenhum bairro regularmente ocupado conseguiu liderar esse ranking. Até então, a liderança era dos grandes conjuntos habitacionais resultantes de ocupação integral ou parcialmente irregular, como Feu Rosa.
Agora trazemos outros dados, desta vez, sobre o envelhecimento populacional da Serra. Um estudo do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), baseado em dados do IBGE, revelou que o envelhecimento populacional na Serra, embora lento, está acontecendo de forma gradual e com um pico entre 2010 e 2022. Esse fenômeno é um claro indicativo do amadurecimento da ocupação urbana da região, sugerindo transformações positivas como o acesso expandido a serviços de saúde, saneamento e nutrição, e, consequentemente, uma maior expectativa de vida. Essa evolução também reflete mudanças sociais e econômicas.
Vamos aos números: o crescimento percentual da população idosa no município da Serra, de 2010 a 2022, foi de 79,86%. Esse índice reflete o aumento da proporção da população idosa em relação à população total. Em 2010, 7,1% da população total da Serra era idosa. No entanto, no censo de 2022, essa proporção quase dobrou, com 12,77% dos moradores da Serra tendo 60 anos ou mais. Embora a Serra tenha, proporcionalmente, uma das menores populações idosas entre as cidades do Espírito Santo, em termos absolutos, esse grupo de mais de 65 mil pessoas supera a população total de 66 dos 78 municípios capixabas.
O processo de ocupação urbana da Serra, iniciado após 1960 com a fase de industrialização, transformou a cidade de uma configuração predominantemente rural para urbana, atraindo uma ampla população jovem, de baixa renda e com expectativa de vida reduzida. Isso explica o porquê de a Serra ter, proporcionalmente, um dos menores Índices de Envelhecimento entre as cidades capixabas. No entanto, o amadurecimento da ocupação urbana da Serra pós-1960 continua a ocorrer e aparentemente a passos largos nessas primeiras décadas do século XXI.
A pirâmide etária da Serra, por exemplo, está passando por mudanças expressivas, deixando de ser uma pirâmide, como era em 2000 para assumir uma forma mais próxima de um losango. Esse padrão de transição demográfica, característico de sociedades com alto desenvolvimento, resulta no envelhecimento da população e na estabilização do total populacional a longo prazo. Esse é um processo lento, influenciado também pelo constante fluxo migratório para a Serra, impulsionado pela economia local robusta, com flutuações que dependem de contextos locais, nacionais e internacionais, considerando a forte base exportadora da economia serrana.
Entre 2010 e 2022, a proporção da população idosa em relação à população total cresceu quase 80%, uma tendência que provavelmente se intensificará até o próximo censo demográfico, previsto para daqui a dez anos. Esse fenômeno é especialmente relevante na Serra, a maior cidade capixaba em termos populacionais, onde as dinâmicas populacionais são marcadas pelo superlativismo.
Por exemplo, embora Itaguaçu lidere o Índice de Envelhecimento entre as cidades capixabas (a cidade tem 23,65% de população com idade de 60+), a implementação de políticas públicas voltadas para o público idoso é menos desafiadora lá, considerando que, em termos absolutos, trata-se de um número de pessoas comparável ao de algumas ruas de um bairro de porte médio da Serra. Já os 12% de idosos na Serra representam uma população total maior do que a de muitas cidades do Espírito Santo, uma proporção que tende a aumentar significativamente nos próximos anos, conforme evidenciado pela recente transformação da pirâmide etária da cidade em 2022 para um perfil em losango. Isso faz com que a Serra coloque esse público como um dos desafios a serem enfrentados nos próximos anos.
Pode-se argumentar que, embora a população total de idosos da Serra seja grande, o orçamento público do município é proporcionalmente amplo. No entanto, isso é apenas parcialmente verdadeiro. Segundo o Tribunal de Contas, o orçamento da Serra em 2023 foi o segundo maior do estado, atrás apenas de Vitória. Porém, quando esse valor é distribuído entre os 520 mil habitantes, a Serra cai para a 68ª posição entre 78 cidades no ranking de orçamento per capita. Por essas razões, a cidade não pode se dar ao luxo de não planejar seu futuro. Não que isso não esteja acontecendo; um exemplo é o fato de a cidade ser uma das poucas que possui um Conselho Municipal do Idoso, instituído em 2004, que fomenta o debate e dá encaminhamentos concretos a várias questões relacionadas ao tema.
O processo de envelhecimento da população parece ser numericamente e sociologicamente irreversível, iniciado com a mudança do eixo de desenvolvimento econômico impulsionada pela era dos ‘Grandes Projetos’, que trouxe para a região norte metropolitana projetos como os Portos de Tubarão e Praia Mole, Vale, CST (atual ArcelorMittal) e Aracruz Celulose (atual Suzano), alterando toda a dinâmica de ocupação urbana, antes mais concentrada ao centro-sul a partir de Vitória. Mesmo quase seis décadas após o início dessa transformação, a maturação ainda está em fase de consolidação. O fato de Colina de Laranjeiras ter superado Feu Rosa em número de habitantes, tornando-se o primeiro bairro ‘planejado’ a liderar em população, rompe com a série histórica marcada por invasões e ocupações irregulares. Além disso, o crescimento de 80% na proporção de idosos em relação à população total em apenas 12 anos é outro indicador da complexidade da dinâmica atual.