O envelhecimento da população, a nível social, é parcialmente um bom indicativo, pois a longevidade pode ser um dos resultados do avanço na qualidade de vida coletiva. Esse fenômeno vem ocorrendo na Serra de forma acelerada. Conforme os dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo IBGE, que detalham gênero e faixa etária da população, fica evidente que a Serra está avançando para um cenário de envelhecimento populacional, trazendo consigo desafios inerentes a uma cidade em transformação.
Há 22 anos, o IBGE, através do Censo de 2000, registrou uma população de 16.439 residentes com mais de 60 anos na Serra. Naquela época, esse contingente de idosos correspondia a 5,1% da população total da cidade, que somava 321.181 pessoas. Uma década mais tarde, no Censo de 2010, o número de idosos havia aumentado; eram 29.040 pessoas acima de 60 anos, representando 7% do total de habitantes da cidade, que havia crescido para 409.267.
O salto para quase 13 mil idosos adicionais, apesar de modesto em termos proporcionais – de 5,1% para 7% –, pode ser parcialmente explicado pelo boom populacional vivido especialmente na região da Grande Laranjeiras entre 2000 e 2010, impulsionado pela construção de condomínios fechados, que trouxe uma população significativa para a faixa média da pirâmide etária.
Entretanto, os dados recentes do IBGE mostram uma mudança expressiva nesse panorama, com um crescimento acentuado tanto no número total quanto na proporção de idosos. Em 2022, foram registradas 66.481 pessoas com mais de 60 anos residindo na Serra, o que representa 12,7% dos 520.649 habitantes da cidade. Houve um aumento de 304% na população idosa em apenas 22 anos, um crescimento bem mais acentuado que o da população em geral, que foi de 62% no mesmo período.
É explicito que a Serra está se direcionando para um perfil populacional com presença cada vez mais marcante de idosos. Existe uma excelente oportunidade de melhorar a qualidade de vida para essa parcela da população. Embora o processo de envelhecimento ainda esteja em curso na Serra, que está longe de ser a cidade com a maior proporção de idosos no estado – de fato, está bem atrás, com Itaguaçu liderando com 23,7% –, os números absolutos impõem desafios que vão além da análise proporcional. Considerando apenas o volume total de idosos, a Serra ocupa a segunda posição entre as 78 cidades capixabas, ficando atrás apenas de Vila Velha. Se os 66.481 moradores da Serra com mais de 60 anos formassem seu próprio município, ele seria a 12ª maior cidade do Espírito Santo; e, mantendo o ritmo de crescimento atual, no próximo Censo, a Serra poderá ter um idoso em cada grupo de cinco habitantes.
No passado, a Serra não dispunha de muito tempo nem de recursos para planejar seu desenvolvimento, especialmente após os anos 1960, quando a introdução da indústria na economia local provocou um boom populacional sem que Estado e União respondesse a altura com investimentos. Desde os anos de 1990, quando a cidade passou a experimentar maior estabilidade institucional, houve avançou na implementação de políticas voltadas para o público com mais de 60 anos, que incluem desde a revitalização de espaços de lazer e convívio até ações na área da saúde e assistência social. Contudo, o contínuo envelhecimento da população local exige que sejam enfrentados desafios para transformar o município em um lugar cada vez mais acolhedor para os idosos. A velhice deve ser vista não como uma doença, mas como uma fase da vida repleta de oportunidades.
Este público é economicamente ativo e capaz de inaugurar novos empreendimentos voltados a eles; no Espírito Santo, 16,2% dos idosos acima de 65 anos dependem economicamente de um responsável, índice ligeiramente superior à média nacional. Na Serra, essa taxa é mais baixa, o que é positivo. Dos idosos com mais de 65 anos, apenas 11,8% dependem fisicamente e/ou economicamente de alguém, enquanto a maioria mantém autonomia como consumidores e cidadãos.
A Serra ostenta o terceiro menor índice de Razão de Dependência para essa faixa etária, ampliando as possibilidades para que esse segmento tenha um papel decisivo no debate urbano. Inclusive, o atual prefeito da Serra, Sergio Vidigal, aos 66 anos, faz parte dessa demografia, o que reflete e enfatiza as transformações vivenciadas pela cidade e a crescente importância dos cidadãos mais experientes, que podem contribuir significativamente para a dinâmica da Serra, inclusive no aspecto político e econômico.