Bruno Lyra
Não dá para prever como será o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. No entanto, alguns nomes escolhidos para a sua equipe e sinais do próprio Bolsonaro dão pistas do que o Espírito Santo e a Serra podem esperar da União nos próximos anos.
Uma delas está na escolha do militar Tarciso Gomes de Freitas para o Ministério da Infraestrutura. Ex-diretor do DNIT, Tarciso é um dos articuladores da proposta de que a Vale deva construir ferrovia na região Centro-Oeste ao invés de fazer a linha férrea no litoral sul do ES como contrapartida à renovação da concessão da Vitória-Minas. A proposta atende o agronegócio nacional das commodities, coisa que os capixabas estão praticamente fora.
A não ser pela produção de ovo e café na região serrana, sendo que a segunda está mais ligada a lógica de pequenos produtores organizados em cooperativas. No estado, o forte é a agricultura familiar. Há dúvidas se o governo Bolsonaro irá manter e aprofundar os incentivos ao setor.
Isto por conta do perfil da escolhida para o Ministério da Agricultura: Teresa Cristina, ligada ao agronegócio. Também pelo nome escalado para a Secretaria de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, presidente da UDR. E ainda pela proposta da incorporação da Secretaria da Agricultura Familiar ao ministério.
A tomada de partido do Brasil na guerra comercial EUA x China é outra frente que pode repercutir aqui. Bolsonaro não esconde o alinhamento automático com os Estados Unidos. Segundo o Sindiex, hoje 5 % das exportações e 23 % das importações do ES são com a China. Não só o estado pode sofrer com o declínio do comércio com os orientais, mas também a Serra, dona do principal parque logístico e industrial capixaba.
Para quem tem economia altamente ligada ao comércio exterior, como a Serra e o ES, é salutar que haja boa condução da política externa, sem paixões ideológicas. Mas o futuro chanceler Ernesto Araújo considera aquecimento global “alarmismo climático” e já falou em combater “pautas anticristãs da ONU”. Pura ideologia.
Ideologia, aliás, que já falou mais forte na saúde, com a saída dos médicos cubanos. Embora não diga que irá acabar com programas sociais, Bolsonaro defende auditoria no setor, que já deve sofrer com o congelamento de gastos aprovado no governo Temer. Só na Serra, cerca de 100 mil moradores vivem abaixo da linha de pobreza, com renda igual ou menor que R$ 178 mensais. O dado é da secretaria municipal de Assistência Social.