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Em meio à pandemia, professores da Serra ficam sobrecarregados e enfrentam desmotivação

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Gabriela, Fabíola e Fabrício: professoram contam um pouco sobre a rotina durante a pandemia. Fotos: Arquivo pessoal

Nesta quinta-feira (15) é o Dia dos Professores, mas será que existe muita coisa para se comemorar? Se desde os anos anteriores já são muitos desafios que precisam ser enfrentados diariamente pelos profissionais, imagina agora: em meio à pandemia causada pelo coronavírus onde as aulas presenciais foram suspensas, mas o trabalho continuou sendo feito e com muitas outras dificuldades.

O TEMPO NOVO conversou com alguns educadores que relatam sobrecarga de trabalho, desmotivação profissional, desvalorização salarial, entre outros problemas. Se não bastasse isso tudo, os professores ainda precisam lidar com ataques de pessoas, que os acusam de estarem “recebendo sem trabalhar”. Apesar disso, eles não desistem da profissão, que classificam como um “dom”.

Quem conta um pouco da sua rotina e desmente sobre a falta de trabalho nos últimos meses é a Gabriela Felix, que é especialista em Educação de Jovens e Adultos, licenciada e bacharel em Química. Ela afirma que, durante a pandemia, seu trabalho triplicou: jornada escolar, como mãe e jornada dos afazeres domésticos. “Acredito que todo profissional da educação sentiu esse aumento na carga de trabalho, tentando conciliar a rotina do trabalho a distância com a rotina da sua casa.”

Gabriela Félix é uma das professoras ouvidas pelo Tempo Novo. Foto: Arquivo pessoal

Gabriela ainda explica que muitas dificuldades foram enfrentadas para conseguir ensinar os estudantes de sua casa. Por exemplo, ela teve que contratar uma internet melhor, investir em um novo computador para atender melhor as demandas escolares, além de ter que fazer seus filhos entenderem o seu horário de trabalho e o horário de mãe.

“Todos esses investimentos estavam fora do meu orçamento. Além disso, por vários momentos, estava dando aula amamentando um bebê que não entende o que é um trabalho remoto. Dificuldades e desafios encarados com muita coragem para levar o conhecimento e ao menos ajudar os alunos a não perder o vínculo com a escola, com os professores.”

Mesmo não tendo muito que comemorar nesse Dia dos Professores, a docente afirma que mesmo se pudesse voltar no tempo, não desistiria de se formar para trabalhar na área da Educação. “Escolheria a mesma carreira sim, pois eu ainda acredito que a educação terá o seu valor reconhecido. Ser professor é um dom que precisa ser valorizado todos os dias, e reconhecido materialmente. Eu acredito no meu dom e sei que fui escolhida para ensinar”, disse.

Fabíola é professora e conta seus desafios enfrentados durante a pandemia. Foto: Arquivo pessoal

Fabíola Cerqueira, professora de Sociologia, também diz que seu trabalho multiplicou na pandemia. “Me vi diante de uma nova realidade sem ter as condições materiais para desenvolve-la. Tive que aprender a usar aplicativos e a dar aula sem ver os alunos. Tive que criar metodologias e técnicas de avaliar que não foram exitosas porque eu dependia que meus alunos também soubessem usar os aplicativos e tivessem equipamentos e internet para isso. O governo não investiu em nós e nem nos alunos para que os efeitos da pandemia na educação fossem menos perversos.”

Assim como Gabriela, Fabíola afirma que não desiste de ser professora, mesmo com todos os problemas enfrentados. “Eu sou professora por escolha. Meus pais foram contra e eu até tentei ir por outros caminhos, começando minha vida profissional com programação de computador. Mas não houve jeito. Os ventos contrários que tentavam me levar para longe da docência cessaram (ou deram um tempo) e, cá estou eu, há 20 anos na sala de aula. E é na sala de aula que me sinto potente e capaz de contribuir com a formação cidadã dos jovens das classes populares. Mas e os desafios? Ninguém me disse que seria fácil. Por isso, eu luto. Luto, para professor, é verbo! Eu luto por uma educação de qualidade, por melhores condições de trabalho, por valorização salarial, por uma escola mais justa, equitativa, inclusiva e empática”, afirmou.

Fabrício atua na Rede Estadual de ensino. Foto: Arquivo pessoal

Já o professor da professor da Escola Estadual Hilda Miranda Nascimento, Fabrício Rufino, relata como é ter uma rotina dupla, já que agora as aulas presenciais voltaram nas escolas estaduais do Espírito Santo, mas as remotas continuam ocorrendo. “Nesse momento de dupla tarefa, onde estamos presencial com aqueles alunos que optaram e remoto com todos os alunos, temos trabalhado exaustivamente durante todo o dia e no final de semana.”

E continua: “sempre temos que comemorar porque professor forma todas as profissões. Que sejamos valorizados, respeitados e devidamente reconhecidos na construção de uma sociedade mais justa. Se pudesse voltar no tempo, escolheria ser professor. Se fosse mera transmissão de conhecimento, a internet realizaria nosso trabalho. Se fosse por riqueza, já teríamos desistido. Se fosse medo das ameaças e dos discursos de ódio a nossa profissão, sucumbiríamos. Mas com a crença de que tudo pode ser diferente e melhor, persistimos”, afirmou.

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