Clarice Poltronieri
O abandono do trecho sul da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), antiga Leopoldina, que já ligou Vitória ao Rio de Janeiro pelas montanhas capixabas, tem levado pelo menos mil carretas bitrem com toras de eucalipto a circular pela BR 262 e 101 por mês, além de carretas com blocos de pedras ornamentais. Atualmente a FCA é administrada pela VLI Logística, empresa ligada à Vale.
Em 2015 a Fibria fez um acordo com a concessionária e transportava as toras de eucalipto pela via, embarcando-as em um depósito em Araguaia, Marechal Floriano, e depois se interligava com a Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM) para levar a carga até Portocel. Na época a empresa anunciou que o uso da ferrovia tirava cerca de 12mil viagens de caminhões por ano das estradas capixabas, uma média de mil viagens mensais.
Mas a via foi desativada e os caminhões voltaram às estradas. O executivo do Conselho de Infraestrutura e Energia (Coinfra) da Findes, Rodrigo Romeu Rodrigues, confirmou que a estrada de ferro está desativada e que já transportou até pedras entre norte e sul do estado.
“O trecho sul da FCA que liga Vitória ao Rio foi desativado, não está sendo utilizado. O transporte de granito produzido no norte do estado era feito por ela até Cachoeiro, embarcado em Colatina no centro de concentração de cargas da EFVM e seguia pela FCA. Mas o trecho da FCA se tornou antieconômico por causa do volume de cargas e por ser um traçado muito antigo, em região montanhosa”, explica.
Ele detalhou que as duas ferrovias (EFVM e FCA) são administradas por concessionárias diferentes (Vale e VLI Logística) que trabalham com tráfego mútuo e direito de passagem, quando precisam se interligar.
Questionada sobre a desativação do trecho sul da FCA, a concessionária VLI Logística disse, via assessoria de imprensa, que não há demanda do mercado por operação de transporte ferroviário de cargas no trecho. E que o trecho citado faz parte do contrato de concessão e arrendamento firmado em 1996 e se encontra no momento em processo de renovação antecipada, pela ANTT.
O trecho da FCA em funcionamento liga o centro oeste do país (Goiás) ao litoral, interligando-se à EFVM.
Mesmo com a desativação do trecho sul da FCA, o transporte ferroviário no estado circula mais de 175 milhões de toneladas. Só na EFVM, segundo a assessoria da Vale, em 2017 foram transportadas 22.194 milhões de toneladas de carga geral e 122.306 milhões de toneladas de minério de ferro, 30% da carga ferroviária do país. E no trecho da FCA entre Goiás e a ferrovia Vitória – Minas, segundo assessoria da VLI, 31 milhões de toneladas de produtos como grãos, fertilizantes, calcário, derivados do petróleo, carvão, celulose e ferro gusa.
Estado quer nova ferrovia da Vale
O governo federal pretende antecipar a concessão da EFVM para a Vale e como contrapartida fazer com que a empresa construa uma nova ferrovia (Centro-Leste) ligando o Mato Grosso a Goiás. Mas Espírito Santo e Minas estão na briga.
A Federação das Indústrias Capixabas (Findes) e o Governo do estado lutam para que a contrapartida seja para a construção de uma nova ferrovia que interligue o estado ao Rio.
Rodrigo Romeu da Coinfra aposta na demanda do estado. “A proposta do governo federal é de que a Vale construa a Centro-Leste, mas o estado e a Findes querem que essa contrapartida venha para construir uma nova ferrovia que ligue Vitória a porto do Açu no RJ, que está isolado de ferrovias. Como o trecho sul da FCA tem problemas que não valem a pena investir, o ideal é a nova ferrovia com capacidade para atender uma demanda que acreditamos existir, com cargas de vários tipos, como toras, minério, calcário, coque de petróleo, carvão, soja, etc”, explica.
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