Em tempos de mudanças climáticas e custo ‘salgado’ dos combustíveis fósseis, sobretudo o petróleo, uma notícia animadora: é cada vez maior no Brasil o consumo da energia elétrica de fonte solar e a Serra, mais populosa e industrializada cidade capixaba, acompanha esse crescimento.
Basta uma rápida pesquisa na internet para ver que, no município, já há pelo menos 20 empresas especializadas na instalação e manutenção de sistemas fotovoltaicos. Outra prova inequívoca é a presença cada vez maior das placas solares em telhados de imóveis na paisagem da Serra, sejam eles residenciais, comerciais ou industriais.
Há três anos, empresário serrano Thiago Cosovsk resolveu investir neste mercado com a Future Energia Solar. Ele diz que de lá para cá houve uma expansão em 70% nos negócios, tanto na Serra quanto noutras cidades e estados onde a empresa atua.
“Temos clientes residenciais, comerciais e industriais e os dois últimos é que tem tido o maior crescimento. Principalmente no setor de posto de combustíveis, supermercados e indústrias de rochas ornamentais”, frisa Thiago.
O empresário conta que a Future conta com clientes, além da própria Serra, em todo o Espírito Santo, Rio de Janeiro, sul da Bahia e nos municípios mineiros próximos à divisa com o ES.
Custo, ‘pay back’ e ganho ambiental
De acordo com Thiago, para instalar um sistema fotovoltaico numa residência de classe média na Serra com quatro moradores, por exemplo, o investimento fica entre R$ 25 mil e R$ 28 mil. Ele explica que o retorno com a redução na conta – o chamado pay back – paga este valor num prazo entre 3,5 anos e quatro anos.
“Tem também o fator ambiental, onde o ganho é gigantesco. A geração hidrelétrica tende a ficar cada vez mais instável por causa da crise da água. E a geração térmica nas usinas a óleo (petróleo), carvão e gás, além de custosa, é suja, piora o aquecimento global”, analisa o empresário.
‘On grid’, ‘off grid’ e desmistificação
Quando se fala em sistema fotovoltaico, é comum o uso das expressões em inglês ‘on grid’ e ‘off grid’. A primeira significa que a unidade geradora está ligada ao sistema nacional de energia, enquanto a segunda, diz que o sistema é independente.
Segundo Thiago, cerca de 99% das unidades de geração fotovoltaicas são ligadas ao sistema nacional, ou seja, ‘on grid’. “Os sistemas autônomos são caros e de manutenção complexa por conta das baterias, por isso quase não são usados. E quando se adota a rede ‘on grid’, você interliga ao sistema nacional e sua conta de luz reduz entre 90% e 95%. Não cai 100% por conta da taxa mínima cobrada pela operadora, que no caso do ES é a EDP, e também dos impostos”, explica.
O empresário acrescenta que o novo marco legal da micro e mini geração de energia elétrica (Lei Federal 14.300/22) acabou criando o mito de que o investimento em placas fotovoltaicas não é vantajoso. “Isso não é verdade. Na prática, a nova lei cria mais segurança jurídica. A mudança é que o micro ou minigerador terá que pagar um deságil de 20%, ou seja, se ele gera 100 kw (kilowatts) para o sistema nacional ele receberá 80 kw. Essa diferença é para ajudar a custear a manutenção das redes, pois sem isso havia risco da deterioração. E, por outro lado, garante que nos próximos 25 anos não haja qualquer taxação extra”, detalha.
Atenção com empresas e profissionais para evitar riscos
Ao lado do crescimento do número de empresas e profissionais atuando no mercado de placas fotovoltaicas, há também o aumento do risco de más práticas, alerta Thiago.
“Um sistema tem que ser bem instalado para evitar danos à instalação elétrica do imóvel e até riscos de incêndio. Por isso o consumidor deve buscar empresas que não terceirizam o projeto nem a instalação, pois se garante a qualidade. Tem eletricista autônomo que subcontrata engenheiro só para emitir a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica). E o cara ganha por quantidade de instalação, então ele tenta fazer o maior número no menor tempo possível. É aí que mora o perigo, já vimos muitas instalações problemáticas, inclusive aqui na Serra”, aponta Thiago.
Escolas públicas adotam tecnologia
Em setembro, a o CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Vantuil Raimundo, em lagoa de Jacaraípe, passou a gerar a própria energia com a instalação de placas fotovoltaicas. No mesmo mês a EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) João Calmon também adotou a tecnologia.
Não foi coincidência. É que ainda em setembro a Prefeitura da Serra anunciou que está investindo R$ 21 milhões para instalar energia solar nas 144 unidades de ensino em que administra. Saiba mais nesta reportagem.
Porém, na contramão da medida de incentivo, o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) acabou vetando o projeto de lei 75/2022 aprovado na Câmara de Vereadores que prevê desconto de 20% do IPTU ao imóvel que tiver geração de energia votovoltaica na cidade. O projeto é de autoria do vereador Professor Arthur (Solidariedade). O veto do prefeito ainda será apreciado pela Câmara.
Em levantamento feito em setembro pelo site Canal Solar junto à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), na Serra havia àquela altura quase 3 mil sistemas fotovoltaicos conectados à rede de distribuição e pouco mais de 28,2 MW (Megawatts) de potência instalada.
Consumo e geração recordes no país em outubro
Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), apontam que em outubro de 2022 houve recorde de geração no país: cerca de 2,6% de toda a eletricidade veio da fonte solar fotovoltaica. E no dia 17 de outubro, às 10h, foi registrado o pico de 5,3 mil MW de geração fotovoltaica, o equivalente a 6,5 % de toda a produção nacional de eletricidade.
Ainda de acordo com a Absolar, Minas Gerais é o estado com a maior capacidade instalada, seguido por São Paulo e Rio Grande do Sul. Já o Espírito Santo é o 16º do ranking e produz cerca de 2 % de toda eletricidade de fonte solar no país, segundo a entidade.