Volta e meia é necessário dar uma olhada de maior amplitude no cenário político da Serra, dado o avançar do processo pré-eleitoral. A novidade é que houve, de fato, uma estabilização entre os nomes que podem efetivamente concorrer ao cargo de prefeito na eleição, embora as definições ocorram somente em princípios de agosto.
Weverson Meireles, lançado como pré-candidato à sucessão do prefeito Sergio Vidigal (ambos do PDT) em março, já passou pelo primeiro momento de estabilização. A mudança parece estar consolidada e foi internalizada por parte expressiva do grupo de apoiadores de Vidigal. Para aqueles que acreditavam que o prefeito estaria blefando ou agindo conforme alguma estratégia para confundir os adversários, a decisão de lançar Weverson vem se solidificando ao ponto em que a estrutura que orbita Vidigal manobra suas articulações cada vez mais intensamente em direção ao jovem escolhido.
Até mesmo o governador Renato Casagrande (PSB), aliado de Vidigal e um enorme transferidor de votos, tem visitado a Serra com muita regularidade e dado sinais públicos crescentes de alinhamento com Weverson. O próprio PSB-Serra está notoriamente bem alinhado com Weverson, sob a liderança da família Lamas. Há informações de que talvez seja necessário um maior afinamento com o deputado Alexandre Xambinho (Podemos), que, apesar de ter um bom relacionamento pessoal com Weverson, ainda se posiciona de forma cautelosa.
Além disso, a narrativa de Weverson está se desenhando para uma pré-candidatura pacifista, em contraste especialmente com a virulência do deputado Pablo Muribeca (Republicanos), que foi estabelecido como o adversário de Weverson no primeiro turno. A ideia parece criar uma antítese a Muribeca, valorizando aspectos de Weverson como alguém centrado, responsável, maduro e advindo de uma escola política que deu resultado, ou seja, a escola do professor Vidigal.
A construção da imagem de Weverson tem como objetivo dar segurança ao eleitor da Serra de que é possível mudar sem arriscar o futuro da cidade. A barreira continua sendo espalhar o entendimento de que Vidigal declinou da tentativa de reeleição e agora a bola da vez do grupo politicamente dominante é Weverson. Na verdade, é uma barreira natural, considerando que a Serra tem um grande número de eleitores e uma vasta extensão territorial, e os aspectos pré-eleitorais ainda não fazem parte do interesse massivo da população. Para isso, tem sido feito um trabalho contínuo nas redes sociais e nas ruas. Além disso, há a expectativa de que, pela primeira vez, a Serra tenha campanha eleitoral televisiva, o que pode ajudar a criar um recall mais rápido para o escolhido de Vidigal.
Do outro lado, a essa altura, também está bastante evidente que o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) ressurgiu no cenário eleitoral. Para alguém que até dezembro do ano passado sequer tinha um partido, o ex-prefeito já conseguiu avanços bastante louváveis. Após sua filiação ao PP no final do ano passado, Audifax conseguiu reestruturar um conjunto de apoiadores, o que lhe dá maior capacidade de mobilização. A montagem de chapas de vereadores não deixou a desejar, considerando que sua maior ferramenta de barganha era a expectativa de poder. Audifax também conserva sua característica pessoal que é a de não parar de andar, somado a uma narrativa convincente, comumente classificando os demais pré-candidatos como ‘meninos’, enquanto valoriza sua áurea de experiência e liderança.
Além disso, tem dado sinais de que está muito bem valorizado internamente no PP. Recentemente, inaugurou a Casa 11, que na prática é um comitê de pré-campanha, possibilitando-lhe ter uma central de apoio para sua atividade de pré-candidato. Desde o declínio de Vidigal na disputa de reeleição, Audifax pulou da 3ª colocação nas pesquisas de intenção de votos para o 1º colocado; resultado que já era esperado, uma vez que já estava pacificado o entendimento de que a rivalidade entre ele e Vidigal não necessariamente os fez opositores nas urnas, e sim, a realidade de que a disputa que protagonizam por anos os solidificou como partes de um mesmo projeto político que gerou resultados para a cidade; o que faz com que, paradoxalmente, um receba o “segundo” voto dos eleitores do outro.
Esse, inclusive, é um ponto revelador na hermenêutica eleitoral da Serra, que considera a dupla Vidigal/Audifax como os responsáveis pela superação do contexto histórico de problemas e desafios que marginalizaram a cidade por décadas, impondo um altíssimo nível de conservadorismo de voto, quase que peremptório na escolha do eleitor. Resta saber se, transcorridas quase três décadas, esse fenômeno será superado pelo cansaço do tempo e pela vontade de renovação do eleitorado. A decisão de declínio da tentativa de reeleição de Vidigal revela flagrantemente que o prefeito aposta no fim da alternância entre ele e Audifax, porém, sem sair da mesma escola de governança, da qual o próprio Audifax foi, no passado, um subproduto.
Sobre esse assunto, há um ponto bastante interessante, pois a estratégia de Vidigal parece ser muito similar à estratégia do próprio Audifax em 2020, quando este último lançou o então vereador Fábio Duarte para sua sucessão à prefeitura. Com algumas diferenças, entre as quais o fato de Fábio ter sido escolhido quase que no limite dos prazos e também o calendário eleitoral daquela eleição ter sido prejudicado pela pandemia, encurtando-o.
Além disso, Fábio foi vendido como uma projeção de Audifax; e dessa vez, Weverson é a projeção de Vidigal, da qual o próprio Audifax também foi e que resultou em benefícios para cidade, fazendo dele um nome egresso da escola ‘original’. Por mais que possam parecer conceitos complexos, são elementos vivos no imaginário dos moradores da Serra, que fazem associações subconscientes que não estão plenamente sintetizadas. Vale ressaltar também que Jane Mary, a marqueteira estrategista de campanha de Fábio Duarte, é a mesma que está à frente da pré-campanha de Weverson; trata-se de uma profissional especialista em psicologia política.
E é nesse ponto que outro elemento eleitoral foi inserido na Serra: o deputado Pablo Muribeca (Republicanos). Ainda que ele se comporte como um chicote político para Vidigal, há um entendimento de que o perfil eleitoral de Muribeca é benéfico para Audifax e Weverson. Embora o deputado tenha ganhado rápida projeção em uma parcela de eleitores através das polêmicas às quais ele se envolve e do uso excêntrico do chapéu de cowboy, estas mesmas características agem como barreira para outra parcela de eleitores, que historicamente, optam pelo perfil de gestor sério e eficiente vinculado tanto a Vidigal quanto a Audifax, e que pode ser emprestado a Weverson.
Pablo é competitivo, isso é uma realidade, mas está em uma encruzilhada: se ele tirar o chapéu, sequer é reconhecido na rua; se mantiver o chapéu, como passar a imagem de sobriedade que um prefeito da Serra precisa ter? Evidente que o chapéu é só um item de simbolismo, o conceito maior é o de perfil eleitoral que ele representa. A rejeição do deputado parece acompanhar sua intenção de voto, conforme pesquisa contratada pelo Tempo Novo revelou. Este não é um fenômeno isolado e foi observado em diversos locais no Brasil em que políticos ganharam rápida projeção nas redes sociais, guiados por um modelo de grande engajamento em polêmicas e narrativas ferozes, mas que não se sustentaram no médio prazo.
De todo modo, é um candidato novo, que tem simpatia de uma parcela nada pequena da população, tem um poderoso arranjo de aliados por trás das cortinas que o blindam e o apoiam; vai ter estrutura de campanha, tem capital digital e reduto eleitoral (Serra Sede). Certo é que o alvo está em sua testa, considerando que ele figura em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de votos no cenário projetado, do qual Vidigal deixa a disputa para dar lugar a Weverson, fazendo de Pablo o pré-candidato a ser batido pelos demais para ingressar ao segundo turno.
Em termos de narrativa, Pablo está preso a uma segunda encruzilhada, já que parece ainda não ter superado o recuo de Vidigal em disputar a reeleição. Parecia um caminho simples: mirar em Vidigal e apertar o gatilho político até o último dia da eleição. Porém, sem o prefeito na disputa, Pablo foi forçado a se reinventar em termos de discurso e narrativa, o que ainda não conseguiu apresentar. Ao mesmo tempo, não pode trazer Weverson para o seu jogo, pois isso pode causar um efeito rebote, tornando o candidato de Vidigal mais conhecido em sua própria bolha digital.
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Na linha ideológica, tanto o representante do bolsonarismo, o vereador Igor Elson (PL), quanto do presidente Lula, o ex-deputado Roberto Carlos (PT), se consolidaram como pré-candidatos formalizados. Isso quer dizer que não é mais especulação e, em alguma medida, haverá uma parcela de polarização nacional na eleição da Serra, embora talvez não tão expressiva quanto se imaginava. Lula e Bolsonaro não são os maiores transferidores de votos e têm alta rejeição, obrigando com que Igor e Roberto Carlos misturem uma narrativa nacional nos ambientes apropriados, com um discurso local para ampliar a base de eleitores não contaminados com aspectos ideológicos.
Nenhuma dessas duas candidaturas pode ser subestimada, já que estão vinculadas a movimentos muito fortes em âmbito nacional, com ressonância digital. Em um hipotético crescimento de ambos ao longo do processo, assim como o crescimento natural que Weverson certamente terá, já que gira em torno dele uma enorme estrutura vinculada à vitrine vidigalista, pode haver um espalhamento de votos, e nem Igor e nem Roberto Carlos precisam ser o primeiro colocado, precisam ‘apenas’ ultrapassar o segundo colocado e ir para o segundo turno, quando poderiam deixar de lado a ideologia e focar nos assuntos pertinentes à cidade.
Pelo Novo, Wylson Zon também conseguiu se gabaritar como pré-candidato formal do partido. É uma sigla de pequeno porte na cidade e tem o desafio de debater pautas vinculadas ao liberalismo em um ambiente em que a maior parte da população é ultra dependente dos serviços públicos e da mão do Estado. Mas com uma candidatura majoritária, o Novo conseguiu montar chapa de vereadores, o que é uma novidade para a sigla, que no passado teve insucesso nessa tentativa. Pode ser um passo para desenvolver na Serra um partido que tenha representação legislativa.