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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Entenda a substituição de Ferraço por Vidigal no 1º escalão de Casagrande

Vidigal Casagrande
Sergio Vidigal, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço. Crédito: Divulgação

Nesta segunda-feira (20), o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), foi anunciado como o novo secretário estadual de Desenvolvimento, substituindo o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). A nomeação está prevista para ser oficializada no dia 12 de fevereiro, uma data carregada de simbolismo na trajetória pública de Vidigal.

Em uma análise inicial, alguns podem interpretar a substituição como um rebaixamento de Ricardo Ferraço, mas, na verdade, ocorre o oposto. O vice-governador é o sucessor natural de Casagrande nas eleições de 2026. Contudo, o pragmatismo político deve prevalecer: se Ferraço não estiver eleitoralmente competitivo, o grupo casagrandista não dará um de suicida. Nesse contexto, Ricardo precisa “tomar um banho de rua” para fortalecer sua base e viabilizar sua candidatura.

Liberando Ricardo de suas atribuições na Secretaria de Desenvolvimento, ele estará mais apto a assumir o papel de “rosto” desta segunda metade do governo Casagrande, período em que estão previstas diversas entregas importantes. Apesar de ter sido um secretário ativo, com uma visão estruturante para o desenvolvimento do estado nas próximas décadas, sua atuação na pasta apresentou limitações em termos de projeção eleitoral.

Essa situação reflete um dilema entre a política de resultados reais – aquela que gera benefícios concretos e duradouros para a sociedade –, mas que frequentemente carece de apelo popular, e a política eleitoreira, de curto prazo, onde a presença física e temas, por vezes, meramente especulativos ou de menor relevância ganham mais destaque e engajamento junto à população.

Na prática, para se viabilizar como sucessor de Casagrande, Ricardo terá que se render à segunda opção: investir na política de curto prazo, mais próxima da base eleitoral. A substituição de Ferraço por Vidigal aponta claramente para uma estratégia de Casagrande de tornar Ricardo mais popular, já que ele é o plano A para a sucessão.

Por outro lado, a entrada de Vidigal evidencia o interesse de Casagrande em mantê-lo em evidência. Informações de bastidores indicam que foi oferecido a Vidigal qualquer espaço de destaque de sua preferência, incluindo a poderosa Secretaria de Saúde. Após a negativa de Vidigal, Casagrande teria mantido certa pressão para que ele não ficasse fora dos holofotes políticos. Assim, surgiu o entendimento de que a troca entre Ferraço e Vidigal seria uma solução conveniente para as três partes: Casagrande, Vidigal e o próprio Ricardo Ferraço.

Diferentemente de Ferraço, Vidigal não deve priorizar a relação com o alto empresariado, grandes investidores ou projetos de longo prazo. Sua ênfase será na conexão com pequenos empresários, microempreendedores, comerciantes e trabalhadores informais. Isso porque, na estrutura da secretaria que Vidigal assumirá no próximo dia 12, estão instituições estratégicas, como Sebrae, Aderes e Bandes.

Se bem articuladas, essas instituições podem oferecer a Vidigal uma visibilidade significativa no chamado “chão de fábrica” da pasta. Em termos eleitorais, essa abordagem pode representar um quantitativo de votos expressivamente maior, ao focar em públicos mais numerosos e diretamente impactados pelas políticas da secretaria. Ao que tudo indica, Vidigal deverá interiorizar mais as políticas de incentivo e apoio aos “pequenos”, alcançando especialmente o público das cidades menores. Esse movimento tem o potencial de levar seu nome para além da Grande Vitória, onde ele já é amplamente reconhecido como político.

Essa estratégia reforça o fato de que, se Ricardo Ferraço é o plano A para a sucessão de Casagrande, Vidigal é claramente o plano B. Contudo, é evidente que Casagrande não pode admitir isso publicamente no momento, pois precisa manter o PP e o Podemos alinhados ao seu grupo político, evitando que esses partidos migrem para o Republicanos, do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, ou sejam atraídos por uma eventual candidatura de Paulo Hartung (sem partido). A manutenção dessa unidade depende de um movimento político cuidadoso e bem orquestrado por Casagrande.

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