Entregue incompleto pela gestão do ex-prefeito Audifax Barcelos (Rede), o Hospital Materno Infantil, em Colina de Laranjeiras, começará a receber pacientes acometidos pela Covid-19 nesta quarta-feira (7). Entretanto, para que isso acontecesse, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), precisou realizar, através da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), diversas adequações na estrutura hospitalar, além de comprar leitos e outros equipamentos – o que gerou um custo de R$ 12 milhões. A obra foi feita pela Prefeitura da Serra, mas a responsabilidade pela gestão foi repassada ao Governo do Estado em dezembro do ano passado.
Assim como ocorreu no ano passado – último da gestão de Audifax – o ex-prefeito e seus apoiadores estão espalhando informações distorcidas sobre quando, de fato, o hospital passou a ser de responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde. Em 23 de novembro de 2020, o TEMPO NOVO noticiou que a Prefeitura da Serra (gestão Audifax) havia sido desmentida pelo Governo do Estado.
Acontece que a administração municipal informava que o hospital já tinha sido assumido pela gestão do governador Renato Casagrande (PSB) há meses, o que não era verídico. O chefe do Executivo estadual havia apenas assinado um termo de intenção para transferência de patrimônio. Após isso, foram meses esperando licenças que não haviam sido solicitadas pelo Município, além das modificações por toda a obra.
Segundo nota divulgada pelo Governo do Estado, apesar da obra ter sido concluída pelo Município, faltavam diversas licenças para concretizar a transferência, além de adequações estruturais que teriam que ser feitas na estrutura. Também foi preciso comprar equipamentos e mobiliários. Quando a matéria foi divulgada, a prefeitura se defendeu e insistiu que a transferência já tinha ocorrido.
Somente no final de dezembro, o hospital foi transferido, oficialmente, ao Governo do Estado, que iniciou o preparo de adequações estruturais e compra de equipamentos, além de contratar funcionários.
Agora, na véspera da inauguração do hospital, o Governo do Estado divulgou que precisou gastar cerca de R$ 12 milhões para preparar o hospital e iniciar o atendimento de capixabas na nova unidade. São 30 leitos de enfermaria adulto. A previsão é de que, nos próximos dias, a unidade passe a dispor de mais 90 leitos de enfermaria adulto e, até final de maio, mais 13 leitos de enfermaria adulto e 19 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para casos de complicação súbita, totalizando 152 leitos Covid-19.
O hospital será integrado como anexo ao Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, referência do Espírito Santo para o tratamento de casos graves e potencialmente graves da Covid-19, tendo a sua estrutura incorporada no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde como endereço complementar ao Hospital Dr. Jayme. Além disso, o acesso à nova unidade será feito pela Central Estadual de Regulação de Leitos.
Casagrande confirmou o valor do investimento feito no Materno Infantil e garantiu pleno funcionamento da unidade assim que a pandemia estiver controlada.
“É uma boa notícia para a cidade da Serra e para todo o Espírito Santo. Estamos abrindo o Hospital Estadual Materno Infantil com 30 leitos nesta quarta-feira e iremos abrir 152 até o fim de maio. Enquanto for necessário, o hospital será utilizado para o enfrentamento à Covid-19, dando dignidade aos capixabas. Foram R$ 12 milhões em investimentos na estrutura física e compra de equipamentos para termos um hospital de médio porte neste momento. Quando vencermos a Covid, posteriormente, o hospital será uma unidade Materno Infantil”, afirmou o governador Renato Casagrande.
De acordo com a Secretaria da Saúde (Sesa), a expectativa é de que, ao final da pandemia, o perfil temporário de atendimento aos pacientes Covid-19 do Hospital Estadual Materno Infantil possa ser ajustado para a implementação do serviço de maternidade, com a possibilidade também de readequar o quadro de especialidades ofertados pelo Hospital Dr. Jayme.
O desejo de entrega do Município ao Estado ocorreu por conta do custo anual que o hospital irá gerar. Serão aproximadamente R$ 100 milhões – valor este semelhante ao gasto total para construção do Materno Infantil. Desde antes da finalização das obras, havia dúvidas de como a gestão de Audifax iria colocar a maternidade para funcionar. Por isso, o Município propôs ao Governo do Estado para que a gestão do novo hospital fosse estadualizada. O pedido foi aceito pelo governador Renato Casagrande (PSB).
A gestão do Materno Infantil será feita pela Associação Evangélica Beneficente Espírito Santense (Aebes). A empresa é a mesma responsável pela gestão do Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves, em Morada de Laranjeiras. Dessa forma, a maternidade será integrada ao “Complexo Hospitalar Dr. Jayme dos Santos Neves”, composto pelo hospital em Morada, e agora, também pela nova unidade.
Setembro de 2020: Prefeitura da Serra diz que obras estão prontas e faz ‘inauguração’
Setembro de 2020: Casagrande assina termo de intenção em assumir hospital
Novembro de 2020: Estado desmente Prefeitura da Serra e diz que ainda não havia assumido Materno Infantil
Dezembro de 2020: Estado assume Materno Infantil e inicia modificações
Janeiro, fevereiro e março de 2021: Governo do Estado inicia adequações na estrutura, compra de leitos, prepara hospital para atendimento e contrata funcionários
07 de abril de 2021: Materno Infantil começa a receber pacientes com coronavírus
Após a publicação desta reportagem, o ex-prefeito da Serra, Audifax Barcelos, entrou em contato com a redação do Jornal TEMPO NOVO pedindo espaço para nota onde se defende e diz que o Materno Infantil só pode funcionar “devido ao seu empenho durante gestão na Prefeitura”.
Apesar de solicitar o espaço, quem responde pelo texto é o ex-secretário de Saúde, Alexandre Viana. Segundo ele, o projeto inicial queria substituir a Maternidade de Carapina com a nova unidade. No entanto, o Estado decidiu transferir a maternidade do Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves para o Materno Infantil.
“No decorrer do tempo solicitado pelo governo do Estado, resolveu-se levar toda sua unidade de maternidade de “alta complexidade” que atua dentro do Hospital Jayme Santos Neves, para dentro das instalações da maternidade, desconfigurando totalmente o que foi planejado inicialmente pela administração municipal”, afirma.
Sobre a falta de mobiliários, leitos e adequações que precisaram ser feitas no novo hospital, Alexandre defende a gestão do ex-prefeito: “foi entregue pronto para uma maternidade de baixo risco, inclusive com leitos de UTI, respiradores, enfermarias equipadas com leitos e berços, sistema de ar-condicionado, autoclave, tudo pronto para a maternidade projetada”.
O ex-secretário assumiu que o Governo Audifax sabia que o Município não iria conseguir manter o Hospital em funcionamento, já que ele irá custar aproximadamente R$ 100 milhões por ano, mas disse que essa não foi a única motivação para a transferência de gestão.
Por fim, disse que todas as licenças necessárias foram entregues ao Estado no mês de setembro, o que foi desmentido pelo Governo Casagrande ainda em 2020 conforme revela matéria do TEMPO NOVO.
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