Vendido como solução para problemas como a indisciplina e a violência no interior das escolas o controverso modelo cívico militar só será adotado na rede de educação da Serra se o governo federal bancar, diz o secretário Alessandro Bermudes. Neste terceiro bloco da entrevista concedida ao Tempo Novo ( leia o primeiro e o segundo aqui), Alessandro e a subsecretária pedagógica Luciana Galdino também revelam que nas 141 escolas municipais não há intenção de implantar ideias como as do “Escola Sem Partido”. Na próxima segunda feira (01) as aulas presenciais serão retomadas gradualmente e de forma híbrida na rede de educação da cidade após ficarem paradas por quase um ano em razão da pandemia.
A Serra tem interesse em implantar escolas cívico-militares?
Alessandro: Na verdade essa não é uma política da Secretaria Municipal de Educação, é do Governo Federal. Não temos recursos para manter uma escola cívico-militar porque é um ensino caro. Então essa escola cívico-militar pode ser implantada em qualquer bairro, desde que o Governo Federal assuma o custeio e a gestão. Não temos perna.
Luciana: nosso objetivo agora é trabalhar com as nossas unidades de ensino, melhorar o que nós temos hoje.
Alessandro: Nós temos uma dificuldade muito grande hoje, o município é o primeiro lugar do estado em analfabetismo. Então temos que trabalhar isso. E ainda há uma preocupação muito grande com a analfabetismo estrutural (funcional) – aquele em que a pessoa até lê mas não consegue interpretar um texto – a minha equipe está de olho nisso aí.
Luciana: A interpretação é cobrada em todas as avaliações a nível nacional, por isso nosso resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não é satisfatório. Um dos nossos desafios ao longo desses quatro anos é melhor nossos índices. Temos um desafio grande, porque antes da pandemia já existia esse déficit. Agora a tendência é que o analfabetismo seja ainda maior.
Como o senhor vê essa história de escola sem partido? Há chance da rede de educação da Serra adotar alguma medida nesse rumo?
Alessandro: A educação é um todo. Para a cidadania, para a educação política. Não da política partidária, porque cada um escolhe o sua. Mas o aluno tem que conhecer a sua história, a história política de seu país. Não tem porque, por exemplo, esconder o regime militar, todos os períodos que passamos, o que significou a Lava-Jato. Tudo isso tem que ser ensinado para que a gente não fique cometendo erros do passado. Então isso me preocupa muito. A formação do cidadão é um todo, não tem como dissociá-lo da religião, da política, de uma comunidade. O que falta hoje é respeito e vamos trabalhar isso também junto às famílias. Tem que respeitar as pessoas com sua pluralidade de ideias, ter empatia, se colocar no lugar do outro.
E essa polarização do país, como isso se reflete na escola e no ensino?
Alessandro: A gente precisa de alguém que chegue e una o país. E é isso que eu tenho tentado com a nossa equipe fazer na nossa rede. Numa reunião recente, um diretor demonstrou preocupação do retorno das aulas em plena pandemia. Eu disse a ele que temos que pensar no outro, naquela criança que está na rua, naquele pai de família que está indo trabalhar preocupado. Nós gestores temos que ser a solução e não o problema.
Tenho falado para os meus diretores que, neste primeiro momento, esquece um pouquinho do conteúdo. Vamos olhar o ser humano que está voltando. Vamos levar mais humanidade para o ambiente escolar. Nós precisamos disso.
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