Um morador de Jardim Limoeiro, Jean Nay Araújo Faria, é destaque quando o assunto são contos e poesias. Sua inspiração vem de temas fundamentais da vida como o amor e a morte.
Jean possui mais de 300 manuscritos e pretende lançar parte deles em um livro. Ele tem 39 anos e conta que sua vontade de escrever surgiu quando ainda era pequeno e que sua mãe, já falecida, foi uma das pessoas que mais incentivou seu talento. Seu mais novo conto fala sobre a saga dos negros.
Confira o conto:
História Emocional do Negro
Eu sei que você caminha com medo
De ficar à distância e perder o desejo
A violência floresce lenta e se abre
Como uma flor noturna em cima dos telhados
A luz fosca nas janelas reflete os gritos abafados
Nas esquinas, na praça do mártir enforcado
É onde faço de minha omissão um recado
Semeado como pétalas no quintal do meu lado
O punhal fumegante só aponta para o lado + fraco
E o vento leva a dor dos seus olhos cansados
Sufocando a beleza que correndo é um lago
Minha madrugada é um eclipse
Sinto seus dedos sem nome
Onde o remorso é um filme
Não há vencedor na vingança
E a herança do ódio são órfãos
O mensageiro da morte passa sorrindo na noite
Pois sem você sabem eles que me matam
Só + uma pílula de sangue
Que seu espírito engole quebrado
Nos olhos da verdade
Reflete a miséria a mão da vaidade
Nem todo momento de amor
Está previsto no dicionário
Explodindo a mentira
Cortamos a corda dos condenados
Flutuando a cada instante
Burlamos a cerca do conceito enquadrado
Na cela adotada do desprezo em compasso
Dentro da tempestade nós nascemos de fato
Espreitando a caça na face do acaso
Destruo as algemas, quebro meu laço
Ferro malhado no semblante marcado
E no regulamento já não vejo + que um fiasco
Fugindo da teia que espreita meus passos
No meio do tumulto nadando no asfalto
Eu sou meu folclore sou um mito abusado
Apontando sem medo para o demônio moderno
Meu próprio reflexo num espelho quadrado
Nunca serei um fantoche encerado
Jamais se atravessa um povo num pasto
No mundo sei eu, quem sou, quem me faço
No universo ao longe todo sussurrado
Tecendo um rio de perfume encantado
Em meu coração no deserto enterrado.