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Escritor vende picolé para ajudar a pagar publicação de livro

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Jean precisa arrecadar R$ 7 mil, valor cobrado pela gráfica para rodar os exemplares. Foto: Ana Paula Bonelli

O escritor Jean Nay Araújo Faria conhecido no meio cultural da Serra por seus contos e poesias está vendendo picolé nas ruas de Laranjeiras com o intuito de juntar recursos financeiros para confeccionar seu primeiro livro, cujo título será ‘Entropia’.

Segundo Jean, o objetivo é juntar R$ 7 mil, valor cobrado pela gráfica para rodar os exemplares. “Fui contemplado com a Lei Chico Prego que incentiva a cultura na Serra, mas tive dificuldades para trocar os bônus, por isso decidi arregaçar as mangas e vender os picolés. Preciso vender pelo menos R$ 200 por dia para alcançar meu objetivo em 35 dias”, conta o poeta.

Jean é morador de Jardim Limoeiro e sua inspiração vem de temas fundamentais da vida como o amor e a morte. Ele possui mais de 300 manuscritos e parte deles estará presente neste livro.

O escritor tem 39 anos e conta que sua vontade de escrever surgiu quando ainda era pequeno e que sua mãe, já falecida, foi uma das pessoas que mais incentivou seu talento.

Confira um dos contos de Jean:

Marta

Três dias que havia mudado para aquela vizinhança e ainda não fizera nenhum conhecido. Botaram as carinhas pra fora da janela no dia da mudança mas arrumar um pião que ajudasse foi custoso teve de procurar em uns três botecos até que suas vistas alcançassem o Joãozinho da Fruta alcunhado também Zé do Pisca Pisca. Talvez a Rose não devesse ter aparecido logo na primeira noite com o pretexto de ajudar a arrumar as coisas quando na certa veio é fuçar a sua vida. Do jeito que se vestia todo mundo ficou olhando ela chegar entrar rodar e sair até que fosse embora no outro dia a tarde depois de bater aquele prato de macarrão com galinha que ela não sabia fazer mas que a Martinha além de saber fazia e comia com gosto. Depois fez a unha da Rose e lavou a louça.

A outra cochilou até as quatro tomou um banho e foi pegar no batente. Não antes de trocar umas gentilezas de praxe. “Cê é maluca, né Marta? Vim prá esse fim de mundo, assim sem mais nem menos, com a mão na frente e a outra atrás, mal deu prá pagar o frete da mudança, mulher…” Não deu nem tempo da menina respirar a Marta já estava com a resposta na ponta da língua. “E vou ficar pagando aluguel a vida inteira, garota? Aqui pelo menos a prestação é mais barata.” Rose deu uma sopradinha na unha com cheiro de acetona e continuou com cara de deboche prestes a gargalhar como quase sempre fazia depois de falar. “Desabou do centro de Vitória prá esse cafundó…Há se nego fica sabendo disso, assim…Até provar que sapo não é jacaré…” “Com ele trato eu, Rosa.” “Pera lá, mulher! Precisa disso?” “Vai indo Rosa, vai indo. Aqui eu já terminei. Não arranquei nenhum bifinho. E cê já tá atrasada também.” Rosa foi e não voltou. Seria a única visita que receberia da Cidade Alta por um bom tempo. E o César demorou a dar as caras.

A mãe de Marta tinha a guarda dos filhos desde que ela os deixara em sua casa e não mais voltara. Tentava vê-los de vez em quando mas a avó sempre arrumava um falatório na sua cabeça e as duas acabavam brigando. O cheiro de pintura nova a estava enjoando naquela manhã cedinho em que seu pó de café acabou e ela teve de sair pela porta da cozinha e dar de cara com a luz fraca porém quase ofuscante daquele sol. Não se deixou afetar pelo friozinho vindo com o sereno da manhãzinha. Ligou o rádio na estação AM de costume botou os pezinhos e o resto do baby doll no quintal sentindo os grãozinhos de terra entrarem por entre os dedos estancados na chinela branca e azul. Chegou e cutucou a vizinha que já cedinho esticava a roupa no varal de nylon. “Oi como vai?” “A senhora sabe esqueci de comprar açúcar ontem quando eu saí e na volta a venda tava fechada. A senhora pode me arrumar um pouco de açúcar fazendo um favor?” E esticou a xícara vazia não sabendo o que viria de retorno. “Deixa disso, vizinha…” abriu um sorriso suave e entrou. Daí a pouco saiu com uma sacola pela metade de açúcar tampado com um pregador de roupa. Certo dia a vizinha do açúcar bateu na sua cerca de manhã cedinho como ela fizera. “…óleo, que acordei hoje de manhã que eu fui lembrar.” Papo vem papo vai ela convidou a senhora de vestido longo com florzinhas vermelhas prá vir a casa dela uma hora dessas fazer uma visita. Ela foi aproveitou e fez as unhas dos pés e das mãos com uma coloração leve e ofuscada. César apareceu. Ela foi capaz de não demonstrar a medida exata de quão profundo fora seu abalo emocional naqueles dias.

Desconversaram ele fez que voltaria a dar-lhe as costas mas foi ficando… Pintava de vez em quando pegava uma grana trazia alguma coisa de maquilagem barata fingia ciúme e sumia. Quando ela começou a reclamar de falta de atenção e ameaçou lhe fazer ciúmes de volta ele passou a espancá-la “De leve” como dizia para aliviar sua barra. Então o ciclo das coisas retornava ao equilíbrio comum e fazia uma volta completa. Ele ganhava mais dinheiro com o camelô ficava mais agressivo e ela reclamava pouco. “Hoje a gente vai fazer uma visita na igreja central, na cidade.

Por que você não vai com a gente?” Ela declinou com receio mas com boa argumentação. “Hoje não vai dar irmã…etc…fica prá próxima, tá?!” Depois de uma vez que o César veio e ela ficou com os braços tudo roxo de banhar com água de sal. A irmã foi lá no outro dia acudir os hematomas. “Mas como é que você deixa esse cara fazer isso com você?” Com aquela voz de quem ainda não tem muita intimidade sabe? “Há, dona Sara, eu não agüento mais essa vida, com esse homem, que não larga do meu pé; eu já falei prá ele sumir da minha vida mas ele não se toca. E eu preciso dele prá ver os meus filhos…” “E aí contou a história toda do primeiro marido e do cafetão e as duas emendaram a tarde com um cafezinho. De vez em quando uma chorava um pouco depois dava a vez prá outra. Ela ia lavando a louça e chorando fazendo unha e engolindo choro. A vizinha contou um pouco da própria vida e tinha sido de amargar também. “Cheguei a querer me suicidar minha filha. Tomei uma caixa de valium (obs:mentira.Só tomou uns cinco). Fui parar no hospital…” Frequentemente se viam e com aquele negócio todo a irmã levou umas amigas na casa da Marta prá fazer um culto. Foi muito bonito.

O César botou umas das suas camisas sociais que ela passara as pressas fez a barba com um prestobarba já meio gasto se cortou um pouquinho e de noite ele tava lá. De pé no canto da sala já que não tinha cadeira prá todo mundo iluminados estavam pela fraca luz da lâmpada do antigo dono ainda. De vez em quando ele ia lá fora fumava um cigarro e voltava. Camisa meio aberta peito cabeludo a mostra. Achando que as irmãs babavam em secreto por ele. Talvez até fosse. Mas nenhuma delas chegou a declará-lo naquela noite. Passado isto toda vez que a irmã ia na casa dela voltava a chamá-la prá ir na igreja. Até que um dia ela topou.

O culto foi realizado no domingo a noite das sete as nove como de costume. Na segunda feira de manhã Marta vai passar o café correndo e correndo também liga a tv para ouvir o noticiário local enquanto se arruma. Ela planejou acordar cedo pois tem que pegar o seletivo se quiser chegar a tempo da senha ser distribuída antes da consulta.

 O gasto com medicação médico maquilagem vestimenta transporte esteticista é significativo e a Marta toma desperdício como uma ofensa. Ela escuta confusamente a descrição do evento que paralisou o trânsito da capital na noite anterior. Sobre incêndio e sobre um cinema em condições precárias que cederam as vigas de sustentação e o fogo espalhou-se pelo quarteirão. Os bombeiros ainda estão no local. Ainda não se sabe o número completo de vítimas. Entre elas o nome da irmã vizinha.           

 

 

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