Ter um diagnóstico preciso e rápido nem sempre é fácil. A descoberta de algumas doenças ainda é um desafio, apesar dos muitos avanços que a medicina apresentou nas últimas décadas.
Seja por falta de informação por parte da população ou pela carência de especialistas que atuam no tratamento de algumas doenças, há patologias que demoram anos para serem detectadas com precisão.
No universo feminino, por exemplo, há patologias de difícil diagnóstico, e algumas delas são confundidas com outras condições de saúde parecidas. Um exemplo é o lipedema, doença crônica inflamatória caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura nos membros afetados, que podem ser pernas, braços, coxas ou quadris.
Apesar de não ser nova, essa condição, que afeta principalmente as mulheres, foi reconhecida como doença somente em 2022 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O lipedema é constantemente confundido com obesidade devido ao acúmulo de gordura nos membros afetados, e isso contribui para a demora no diagnóstico e, consequentemente, o avanço da doença que pode evoluir para estágios mais graves.
“No caso do lipedema, a gordura é inflamatória e localizada, diferente da obesidade, quando o sobrepeso se estende por todo o corpo. Geralmente, as pacientes relatam que se sentem com dois corpos, um da cintura para cima e outro nas partes inferiores”, informou a cirurgiã plástica Patricia Lyra, do Instituto Lipelife.
A médica endocrinologista Lusanere Cruz, que atua no tratamento de lipedema, destacou que é importante estar atento aos sinais do corpo.
“A gordura acumulada provoca dores, sensibilidade, inchaços, exaustão e hematomas no corpo. Ao observar esses sintomas, é importante buscar ajuda especializada para que seja feita uma investigação detalhada. Em pessoas com lipedema, a perda dessa gordura doente causada não acontece apenas com exercícios e dieta, é necessário um tratamento conservador e multidisciplinar com endocrinologista, angiologista, nutricionista, fisioterapeuta e educador físico. E em alguns casos, com cirurgião plástico, quando há indicação de cirurgia para a retirada de gordura”, esclareceu.
A endometriose, doença ginecológica crônica, também figura na lista de patologias de difícil diagnóstico. Apesar de afetar de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva (entre 15 e 49 anos), a endometriose demora, em média, sete anos para ser detectada, desde o surgimento dos primeiros sinais e sintomas.
A médica ginecologista Thaissa Tinoco explicou que essa demora se dá, principalmente, porque os sintomas são muitas vezes ignorados. “A endometriose causa fortes cólicas menstruais, dores pélvicas, e muitas pacientes cresceram acreditando que isso é normal ou ‘coisa de mulher’, e com isso vão convivendo com uma rotina de dores, desconfortos, exaustão e distúrbios emocionais. E como agravante tem o risco da infertilidade, pois se não for tratada corretamente, a endometriose também pode dificultar a gravidez”, esclareceu a médica.
Outra doença ginecológica que pode demorar anos para ser descoberta é a adenomiose. Os dois principais sintomas dessa condição são o sangramento menstrual intenso e cólicas muito fortes. “A demora acontece pelo mesmo motivo, quando os sintomas são ignorados e a mulher acredita que com o tempo vai passar, mas é justamente o contrário. A falta de tratamento pode trazer complicações, como inchaços abdominais, dores fortes e dificuldades para engravidar”, alertou a ginecologista Thaissa Tinoco.
Câncer
Apesar dos avanços da medicina diagnóstica, alguns tipos de tumores malignos ainda são difíceis de serem descobertos em sua fase inicial. Um deles é o câncer de ovário.
“Diferente do câncer de mama ou do câncer de colo de útero, não existe exame de rastreamento que consiga identificar o tumor ovariano em um momento inicial”, afirmou a médica oncologista Virgínia Altoé Sessa.
Dores pélvicas, constipação, massa abdominal palpável e aumento de volume abdominal são alguns dos sintomas associados ao câncer de ovário.
“Ao observar um ou mais sintomas suspeitos, é importante ir ao médico para investigar as causas. Esses sintomas podem sinalizar diversas outras doenças, graves ou não, mas é fundamental estar atenta aos sinais do corpo e procurar ajuda médica”, alertou a oncologista.