O anúncio da venda de um superterreno de 4,5 milhões de m2 abrangendo terras do Mestre Álvaro e seus alagados nos fundo do TIMS para fins de projetos logísticos e industriais chamou a atenção do biólogo e ativista ambiental Iberê Sassi.
É que segundo ele caso a intenção dos vendedores de atrair projetos empresariais para a área seja bem sucedida, o impacto vai muito além da destruição de um dos trechos mais preservados dos alagados. Iberê aponta que na área brotam nascentes formadas por uma gigantesca reserva de água, ainda pouco conhecida, chamada aquífero de Santa Teresa.
O biólogo, que também é membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente da Serra (Condemas) e foi um dos responsáveis pela implantação do Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) Litoral Centro- Norte, diz que o aquífero é uma imensa bolsa d’água subterrânea que abarca desde as nascentes dos rios Santa Maria, em Santa Maria de Jetibá, e Reis Magos, em Santa Teresa, até os alagados do Mestre Álvaro.
“A parte baixa em volta do maciço do Mestre Álvaro tem o surgimento de minas de água que vem desse aquífero. São elas que formam esse grande alagado, que em parte já foi aterrado por obras particulares e até pelo governo do estado, onde hoje está o bairro Cantinho do Céu. Junto com os aterros veio a abertura de canais, que ajudou a secar áreas de turfas e foi a causa dos incêndios cuja fumaça tanto prejudica a saúde dos moradores da Grande Vitória”, afirma Iberê.
A preocupação de Iberê não é só com os alagados e o própria reserva d’água. “O aquífero responsável pelo fornecimento de 2/3 da água doce que forma os manguezais da baía de Vitória. Estamos falando do maior manguezal em área urbana do Brasil. Nele há cinco reservas ambientais em Serra, Cariacica, Vitória e Vila Velha”, salienta.
As reservas a que Iberê se refere são a Área de Proteção Ambiental (APA) Municipal Manguezal Sul, na Serra; Estação Ecológica Ilha do Lameirão (Vitória); Reserva de Desenvolvimento Sustentável dos Manguezais e Parque Natural Municipal Manguezais do Itanguá (Cariacica); Parque Natural Municipal do Morro da Mantegueira (Vila Velha).
Risco de morte aos manguezais
“Minha preocupação não é só com aquela área (que está à venda). Mas é que o manguezal de Vitória pode morrer. A culinária capixaba, os costumes locais, tem relação com o manguezal. Caranguejo, moqueca, paneleiras, todo mundo está ameaçado. É uma luta de todos. A ganância e esse desprezo pelo ambiente que algumas pessoas estão tendo joga a própria história do capixaba no lixo”, critica Iberê.
Influência
Iberê também tem histórico de atuação em manguezais. Foi servidor do Ibama e atualmente dirige uma ong, o Instituto Goiamun, sediada em Balneário Carapebus, Serra.
O ativista também participou dos estudos para a implementação da APA Manguezal Sul, na Serra, no final da década de 2000. Ocasião em que afirma ter percebido a influência das famílias proprietárias de terras na região contra políticas de preservação. O que no entendimento dele deve ficar ainda mais latente com a implantação do Contorno do Mestre Álvaro (BR 101).
Lagoas Juara, Jacuném e Rio Jacaraípe
Iberê lembra ainda que o aquífero Santa Teresa não só forma os alagados e manguezais ao longo da divisa de Serra, Cariacica e Vila Velha, mas também dá origem às nascentes das lagoas Juara e Jacuném, formadoras do rio Jacaraípe, uma bacia hidrográfica 100% serrana. Sem contar que também forma os dois rios que abastecem a Serra, o Santa Maria e o Reis Magos.