Yuri Scardini / Gabriel Almeida
Na última segunda-feira (11), o deputado federal e ex-prefeito da Serra Sérgio Vidigal (PDT) virava pela primeira vez a alavanca do gerador de energia solar do IFES em Manguinhos. Em 2017, ele destinou R$ 490 mil em emendas para esse projeto, que vai economizar 40% de energia para a instituição (algo perto de R$ 15 mil por mês).
Para além do mérito, politicamente, o ex-prefeito parece querer reciclar sua imagem e se aproximar do público jovem em pautas modernas e conectadas com as novas tendências. A reportagem esteve presente à cerimônia a convite da assessoria do deputado. Recebido com gala pelos servidores do Instituto Federal, Vidigal discursou para um auditório lotado de jovens estudantes.
Já em seu gabinete em Laranjeiras (lotado de pessoas à sua espera), ele concedeu entrevista ao Tempo Novo. Crítico ao falar de Bolsonaro, ele afirma que “é preciso mais tempo” para fazer uma avaliação sobre o seu governo, mas crava: “Não me lembro de um início com tantos problemas internos”. O deputado também levanta dúvidas sobre a governabilidade no Congresso Nacional.
Sobre a Serra, cidade que administrou por 12 anos, Vidigal diz que se a eleição fosse hoje ele não seria candidato, uma vez que não representa o “novo” na política. O ex-prefeito ainda descarta uma reconciliação com Audifax: “Impossível!”. Mas, ao mesmo tempo, deixa a porta entreaberta, ao dizer que ele e Audifax têm “responsabilidade” em não deixar ninguém de fora tomar o município num “projeto pessoal de poder”. Seria a senha para uma abertura de diálogo com o antigo rival?
Verdade é que perto de completar 62 anos, este parece ser um Vidigal mais pé no chão e convicto de que sua missão com a Serra não terminou. E é a pergunta que se faz hoje: Audifax e Vidigal, juntos? Como dizia o mineiro Magalhães Pinto: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”.
Qual a sua avaliação do desempenho do governo Bolsonaro nestes primeiros meses?
O tempo é curto para fazer uma avaliação mais aprofundada. Mas assim, percebo que eles ainda estão tentando se encontrar; não estão falando a mesma língua entre eles. Não me lembro de um governo com tantos problemas internos, como está tendo o governo Bolsonaro. Até agora não mostrou um rumo ainda, e isso preocupa.
E a governabilidade? Bolsonaro vai conseguir tocar as pautas do governo lá no Congresso?
Acho que Bolsonaro ainda está imaginando que está no processo eleitoral. Ele tem de lembrar que passou; os detentores de mandatos foram escolhidos pela população; e que precisa conversar com o parlamento. Não digo especificamente com o PDT, que temos nossas bandeiras já; digo com o “centrão”, por exemplo. Ele vai ter que conversar com o “centrão”, porque a realidade impõe isso. Vai ser difícil ele explicar isso aos seus seguidores, mas vai ter que acontecer.
Qual sua avaliação sobre a reforma da Previdência proposta pelo governo? Quais pontos positivos e negativos?
O positivo é que se compreendeu a necessidade urgente de promover uma reforma. Mas eu já fiz duas reformas na minha casa e ambas melhoraram a casa; então, não posso aceitar que uma reforma piore as coisas. Previdência é um tema complexo, mexe com o futuro das pessoas. E antes de tudo, tem que proteger os direitos dos trabalhadores e reduzir os privilégios. O militar, por exemplo, tem de entrar na proposta. Não justifica um coronel com 49 anos se aposentar com o teto da polícia militar. Vamos mexer com tudo ou só com alguns grupos?
O que você defende para a reforma da Previdência?
A aposentadoria tem de ser autofinanciável; então, tempo de serviço é fundamental, é mais importante que a idade mínima. E tem que respeitar a diferença entre profissões. Eu sou médico, posso trabalhar por mais tempo; agora, não posso dizer se o cara que coleta lixo e corre atrás de caminhão pode continuar com até 65 anos. Outra coisa é respeitar as diferenças de cada região do Brasil, que têm uma expectativa de vida diferente. Acho que essa proposta de reforma quer convencer principalmente os mais pobres, de que vai tirar privilégios de muitos; mas na verdade não vai tirar.
Trazendo a conversa aqui para nossa realidade local. Está em seus planos ser candidato a prefeito da Serra em 2020?
A população tomou seu posicionamento em 2018 ao optar por nomes novos e cabe a nós, os mais experientes, esperar um pouco para ver se a população vai continuar fazendo essa opção ou vai recorrer a nomes já testados. Mas é certo que o PDT vai continuar trabalhando na Serra; porém, isso não quer dizer que toparei ser o candidato. Se a eleição fosse hoje, eu não seria candidato. Até porque eu não represento mais o “novo”.
Existe a possibilidade de reconciliação entre você e Audifax?
Olha, impossível! E vou te dizer por quê? Algumas coisas são caras para a gente, como o respeito, e ele faltou comigo ao longo do tempo. Por mais que eu ame a Serra, eu prefiro não participar do processo a alterar meus princípios; eu iria arrumar problema dentro de casa. Eu estaria violentando tudo aquilo que sofri e sofro. A política tem que ter critérios. Prefiro perder uma eleição respeitando os meus princípios do que ganhar uma eleição violentando meus princípios.”
Sem você e Audifax nas urnas, pode abrir a eleição para político de fora da Serra tentar ganhar a prefeitura?
Se nós dois tivermos mesmo esse peso eleitoral – o qual não sei se possuímos mais -, eu e Audifax temos a responsabilidade de apoiar alguém da Serra em 2020. Nós trabalhamos a vida toda dizendo que a Serra não é lugar para forasteiros; então, não podemos permitir que a Serra vire um projeto político pessoal de ninguém, ainda mais agora que o município é protagonista na economia. Audifax não pode ter uma vaidade que satisfaça apenas a ele, e sim a Serra. É a mesma coisa para mim.
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