O lugar que mais deveria ter água no Espírito Santo, a região da foz do rio Doce, está sem o precioso líquido. Esse é o resultado de uma das piores secas da história, que reduziu a vazão do Doce a tal ponto que a água do mar o invadiu, salinizando o maior rio que corta o território capixaba.
A consequência é a falta d’água na bucólica vila de Regência em Linhares, que fica na margem sul do rio. A situação é tão grave que está até a escola estadual Vila Regência suspendeu as aulas nesta sexta (06).
Segundo informou a diretora da escola, Maria da Glória Buecker, a escola já vem enfrentando o problema de abastecimento de água desde o início do ano, onde os alunos tem que levar água de casa, tendo em vista que a água está com alto grau de salinidade. A escola faz coleta de água diariamente vem constatando que a qualidade só vem piorando, salientou Glória.
“Crianças estão com pressão alta, tendo problema de diarreia por causa dessa água salgada. É uma situação já atestada pelos profissionais do nosso posto de saúde. Há risco até de perdermos o ano letivo”, alerta.
A diretora falou que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAEE) vem cavando poços para tentar abastecer a localidade, mas muitas vezes encontra água com qualidade ruim. Desde a última quarta (04) o abastecimento de Regência está suspenso.
Desvio da Fíbria
Maria da Glória, que também é moradora e ativista de Regência, disse que o desvio de água do rio Doce para atender a fábrica de Celulose da Fíbria em Aracruz piorou a situação. “Eles dragaram e alargaram o canal Caboclo Bernardo, onde captam água do Doce. Parece que estão usando até a água para abastecer Aracruz, Vila do Riacho e outras localidades da região”, aponta.
“Vamos, junto com a Associação de Moradores de Regência, protocolar um pedido no Ministério Público na próxima segunda (09) pedindo providências em relação a esse desvio que tem nos prejudicado neste período de escassez de água”, completa.
Através da assessoria de imprensa, a Fíbria disse que o Canal Caboclo Bernardo é declarado pelo Governo do Estado como de utilidade pública e atende diversos usuários, incluindo produtores rurais, comunidades rurais, comunidades urbanas e indústrias, entre elas a Fibria. Acrescentou que se reduzir o volume captado, o qual não deu valores, prejudicaria todos esses usuários.
Ainda sem dizer quanta água gasta em sua planta industrial, a assessoria da Fíbria informou ainda que a fábrica reduziu em 8% o consumo nos últimos sete anos. E que reutiliza 83% de toda água que chega lá.
Desastre ambiental
Além da baixa vazão de água doce e da salinização do rio, o acidente na barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, na tarde da última quinta (06) deve agravar ainda mais o quadro. É que os rejeitos da extração de minério já atingiram o rio Doce e devem chegar a Linhares na noite da próxima segunda (09), de acordo com boletim emitido pelo Serviço Geológico do Brasil.
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