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Fíbria reabre canal e lama da Samarco atinge rio de Aracruz

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Assim ficou a água do rio Riacho na captação do SAEE após a abertura das comportas do canal que liga ao rio Doce. Foto: Divulgação
Assim ficou a água do rio Riacho na captação do SAEE após a abertura das comportas do canal que liga ao rio Doce. Foto: Divulgação

Clarice Poltronieri

A comunidade de Vila do Riacho em Aracruz está sofrendo com abastecimento de água. Isso porque, segundo moradores, a água que abastece a comunidade ficou imprópria desde a reabertura do canal Caboclo Bernardo, construído pela Fibria (ex-Aracruz Celulose) em 1999 para trazer água do rio Doce e levá-la para a bacia do rio Riacho, onde é captada para suprir a demanda da fábrica de celulose localizada também em Aracruz, município do litoral norte do ES.

Com a reabertura do canal, que segundo a Fíbria aconteceu no dia 28 de novembro, a lama formada por rejeitos de minério do rompimento da barragem da Samarco (Vale + BHP) atingiu também a bacia do rio Riacho.  Moradores da região denunciam que houve mortandade de peixes e o aspecto da água mudou, forçando o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) a suspender a captação no manancial.

Desde o último dia 28 de janeiro a comunidade está sendo atendido por carros-pipa fornecidos pela própria Fíbria. A medida já havia sido adotada dias após a reabertura do canal. Logo depois chegou a ser suspensa, gerando protesto  dos moradores.

A Fíbria havia fechado o canal de novembro do ano passado a pedido da SAAE de Aracruz, após lama que descia o rio Doce (e ainda segue descendo) chegar ao município de Linhares, onde está o início do canal. Na ocasião a medida visava preservar os ecossistemas da bacia do rio Riacho e a qualidade das águas para abastecimento.

“Depois que a Fibria reabriu o canal, mesmo com tratamento, nossa água começou a ficar estranha, parecia que tinha uma cola. Tomava banho e o cabelo ficava grudando. A louça ficava embaçada. Com a manifestação, o SAAE parou de captar água no rio Riacho e está abastecendo com caminhão pipa fornecidos pela Fíbria. Isso aconteceu depois que os peixes começaram a morrer, há uns 20 dias”, contou sob a condição do anonimato uma moradora que reside na Vila do Riacho há 47 anos.

Na página no Facebook Vila do Riacho um vídeo postado no último dia 22 de janeiro denuncia mortandade de peixes e atribui à abertura do canal que liga o Doce ao rio Riacho. Os moradores fizeram uma manifestação no último dia 27 de janeiro com o bloqueio da rodovia ES-010 no km 69 que durou o dia inteiro, das 5h30 até às 17h, a fim de chamar a atenção para o caso.

Após a manifestação, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Aracruz assinou um termo de compromisso onde se compromete a fornecer água via caminhões-pipa da Saae e da Fibria até encontrar uma solução definitiva para tratar a água do rio Riacho ou achar outra fonte.

Estado diz que responsabilidade é do governo Federal

Através de sua assessoria de imprensa, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou que a autorização para a abertura do Canal Caboclo Bernardo é de competência da Agência Nacional das Águas (ANA), e que a mortandade de peixes ocorreu em função da entrada da lama presente no rio Doce para o canal Caboclo Bernardo. A reportagem entrou em contato com a ANA mas ainda não teve retorno.

Já a Fibria confirmou que a reabertura do canal ocorreu em 28 de dezembro de 2015 a pedido da prefeitura de Aracruz e que teve autorização da ANA. A empresa afirma estar fazendo o tratamento que reduz a turbidez da água e nega contaminação da bacia do rio Riacho pela lama de rejeitos da Samarco.

Disse também que o volume de água do rio Riacho ainda está abaixo do normal e atribui a mudança de qualidade da água relatada pelos moradores às  fortes chuvas das últimas semanas, que teriam alterado o pH (indicador que mede acidez) nos rios, porque as chuvas levam para os rios matéria orgânica presente na região.

A empresa acrescenta que cedeu quatro caminhões-pipa à prefeitura de Aracruz para fazer o abastecimento da localidade até que a situação da água se normalize.

Produção de celulose é altamente dependente da água

A produção de celulose branqueada a partir do eucalipto é altamente dependente de água. Segundo informação da assessoria de imprensa da Fíbria divulgada em 2015, a empresa possuía outorga (autorização) para captar 5 mil litros de água por segundo.

Fábrica da Fíbria em Aracruz: atividade que depende de muita água. Foto: Arquivo TN
Fábrica da Fíbria em Aracruz: atividade que depende de muita água. Foto: Arquivo TN

O valor é quase o dobro do que a Cesan capta no rio Santa Maria de Vitória para abastecer toda a Serra, zona norte de Vitória, parte de Cariacica e Praia Grande em Fundão, incluindo aí os polos industriais da Serra e as gigantes Vale e ArcelorMittal Tubarão.

Questionada sobre o consumo atual, a Fíbria não revelou valores. Disse apenas que reduziu em 8% nos últimos sete anos e que 85% da água usada retorna ao rio de onde é captada.

Outra produtora de celulose que foi afetada pela lama da Samarco é a Cenibra, localizada no município mineiro de Belo Oriente, no vale do rio Doce.

Segundo o jornal Diário do Aço, a empresa ficou sem produzir entre 07 e 22 de novembro por conta da lama, já que depende da água do rio Doce.

 

 

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