Após denunciarem assédio moral e suposto plano de desmonte da biblioteca mais antiga da Serra, as duas funcionárias que trabalhavam há décadas no espaço foram demitidas pela Associação de Moradores de Parque Residencial Laranjeiras (AMPRL). A atual presidente da comunidade, Lusmar Furtado, tomou a decisão em meio a uma instabilidade que se instaurou na diretoria por conta de ameaças de destituição da chapa atual.
Conforme informado anteriormente pelo Jornal TEMPO NOVO, a atual diretoria da Associação de Laranjeiras classificou a biblioteca comunitária como “um problema”, “espaço subutilizado” e “lan house”. As funcionárias do espaço denunciavam que a Associação planejava encerrar as atividades da biblioteca, que funciona há mais de 41 anos.
A funcionária mais antiga da biblioteca, Rejane Afonso, confirmou que foi demitida. Informou ainda que sua colega – que não terá o nome identificado – foi mandada embora por justa causa. Porém, segundo Rejane, a Associação não apresentou uma justificativa plausível para isso.
“Nós sofremos assédio moral; fomos perseguidas pela Associação, que ainda me acusou de roubo, algo que eu nunca fiz. Eu construí essa biblioteca e estou muito triste, principalmente, pela forma que nos mandaram embora. Minha colega foi demitida por justa causa. Eles querem fechar a biblioteca a qualquer custo”.
A reportagem entrou em contato com a presidente do bairro, Lusmar Furtado, que se negou a conversar com o jornalista. Logo depois, Lilian Souto – que se apresenta como advogada da AMPRL – conversou com o Jornal TEMPO NOVO.
De forma agressiva, Lilian se negou a responder os questionamentos. Disse ainda que a Associação de Laranjeiras é uma empresa privada e que, por isso, o jornalista não tinha o direito de fazer questionamentos.
Questionada mais uma vez sobre o motivo das demissões e sobre o funcionamento da biblioteca, Lilian afirmou que não iria mais atender nenhuma demanda do veículo de comunicação.
Desta forma, se negou a informar sobre o futuro da biblioteca e se ela será fechada ou continuará aberta com novos funcionários.
Conforme informado anteriormente, um clima de instabilidade foi instaurado, mais uma vez, na Associação de Moradores de Parque Residencial Laranjeiras. Um grupo de cerca de 200 moradores do bairro se uniu e fez um abaixo assinado com o intuito de destituir a atual diretoria. A reivindicação é contra o suposto fechamento da biblioteca mais antiga da Serra, situada nas dependências da instituição.
Desde que o assunto ganhou repercussão, moradores que utilizam a biblioteca estão se movimentando para impedir o fechamento. Um deles é Denilson Magalhães.
“A nova administração da Associação de Moradores de Laranjeiras, que está com ideia, de fechar a biblioteca da instituição vai causar um dano muito grande aos moradores do bairro; isso é inadmissível”, afirmou.
Outro usuário da biblioteca praticamente desde que ela existe é Jean Nay. “Se for necessário faremos uma mobilização pública. O acervo de lá é grande, eu faço uso do espaço desde os meus sete anos e com certeza os livros que estão lá, que estão considerando obsoletos, podem auxiliar muito estudante carente a ter acesso a livros de autores renomados”.
Conforme noticiado pelo TEMPO NOVO, nos últimos dias, segundo os moradores, a biblioteca estaria completamente fechada e a entrada de usuários estaria sendo impedida. Uma das populares que denunciou a situação foi a Graça Egner. Moradora antiga do bairro, ela relata dificuldades para acessar as dependências do centro comunitário ao todo.
Vale ressaltar que a biblioteca é comunitária e possui administração da Associação de Moradores de Parque Residencial Laranjeiras, que atualmente está sob a gestão da presidente Lusmar Furtado.
“Já faz tempo que a Associação está deixando a nossa biblioteca completamente fechada. Estamos sendo impedidos de acessar o local, que é nosso. A atual gestão do bairro demitiu funcionários e deixou o espaço vazio, sem pessoas que pudessem nos atender. Isso me deixa triste; sempre utilizei a biblioteca e não somente para leitura, mas também para fazer cópias, digitalização e informática”, denunciou Graça.
Uma fonte ouvida pela reportagem que faz parte da chapa eleita para diretoria da Associação e pediu para não ser identificada por medo de represálias também denunciou o suposto desmonte do bem público. “Já ouvimos que a diretoria possui novos projetos para o espaço, que segundo eles, estaria sendo mal utilizado. O problema é que essa é uma das únicas bibliotecas comunitárias da Serra e possui uma carga histórica com todos nós”, disse.
Em setembro de 2017, o Jornal TEMPO NOVO divulgou uma matéria onde demonstrava a importância da biblioteca, que fica dentro das dependências da associação. Naquela época, o local recebia cerca de 43 mil visitantes por ano e possuía um acervo de mais de 20 mil livros. Além disso, tinha um espaço para realização de pesquisas, utilizado por estudantes de escolas públicas e privadas.
Diferente do que a advogada Lilian Souto afirmou, a Associação de Moradores de Laranjeiras é uma entidade comunitária, que deve respostas a sociedade, ainda mais quando diz respeito ao fechamento da biblioteca mais antiga da Serra. Vale ressaltar que a associação é a mais rica do Espírito Santo e vem sendo assediada pelo mercado imobiliário há anos, informação, inclusive, denunciada tanto por Lilian, quanto por Lusmar, antes da atual direção assumir a instituição.
O caráter formalmente particular da Associação de Laranjeiras, não exime seus responsáveis da atuação jornalística, desde que resguardadas sob a alçada da Lei. O Jornal Tempo Novo faz cobertura jornalística sobre as associações de moradores da Serra desde 1983, com especial atuação em torno de Laranjeiras, exatamente pelo contexto sempre beligerante e grande expressão patrimonial.
Em nenhuma situação registrada desde 1983, um representante da Associação foi tão infeliz em sua postura frente ao Jornal Tempo Novo. Aqui, o veículo de comunicação ratifica que não permitirá nenhuma tentativa de intimidação e seguirá firme em defesa da Associação, do patrimônio comunitário, em especial da biblioteca mais antiga da Serra.
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