Por Eci Scardini
Pode doer, soar mal, ou muitas pessoas não enxergarem assim; mas a Serra, com toda a potência econômica que é, não tem autonomia no seu destino político. Infelizmente, ela ainda é comandada por Vitória.
De todos os juízes que compõem a Comarca local, nenhum reside na Serra; todos os nossos promotores residem fora da cidade. Metade do secretariado municipal reside na capital. Dos grandes empresários da Serra, pouquíssimos moram aqui. Os grandes nomes da advocacia do estado estão em Vitória, e nós não temos nenhum grande escritório de negócios.
É no Palácio Anchieta que são tomadas decisões importantes que irão impactar no nosso destino. É na Assembleia Legislativa que é “costurada” boa parte da nossa política. É do Tribunal de Justiça que saem, hoje, as principais decisões que garantem a ordem (ou desordem) político-administrativa.
É na Federação das Indústrias onde se discutem novas plantas de grandes negócios; é no Sinduscon que se amarram os negócios na área imobiliária, setor que por anos foi o responsável pelo desenvolvimento da Serra.
O polígono principal das grandes decisões é Praia do Canto, Ilha do Frade, Enseada do Suá e a Cidade Alta. É onde se concentram as residências, os escritórios e os órgãos de quem decide o nosso futuro.
A nós aqui só resta dizer “sim senhor”; acatar, votar, aliar-se às escolhas que vem de lá e torcer para que tudo dê certo e, em algum momento, tenha autonomia nos seus destinos, assim como Vila Velha tem.
Habemus Amaro, Coragem e Coração
Agora mesmo estamos vendo (à revelia dos políticos locais) a Serra ser oferecida na “bandeja” para o deputado federal Amaro Neto (PRB), com o objetivo de desobstruir a eleição para prefeito em Vitória. Acredita-se que a eleição de Amaro na Serra seria “mamão com açúcar”, ainda mais que têm vazado pesquisas eleitorais de intenção de votos para consumo interno dos partidos e que indicam um caminho fácil para Amaro no município.
Corre nos bastidores da política que o próprio governador, renegando o seu partido (o PSB), teria “oferecido” ao deputado Amaro a Prefeitura da Serra. O pano de fundo seria três: tirar Amaro Neto e o presidente da Assembleia Legislativa, Erik Musso – ambos do PRB – do “colo” do ex-governador Paulo Hartung; desidratar uma possível candidatura de Audifax Barcelos ao Palácio Anchieta, em 2022 e tirar Amaro da disputa pela prefeitura da capital, onde aparece bem na frente dos até então possíveis candidatos do PPS, partido de Luciano Rezende, fiel aliado de Casagrande e do PSB.
Ainda segundo as informações de bastidores, nesse “pacote”, entraria inclusive o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT), que perdeu autonomia e hoje estaria muito dependente das vontades do governador.
Migalhas para quem ficar na sobra
Mas não é só Casagrande que está “paparicando” Amaro não. O prefeito Audifax, vendo a “onda”, antecipou-se e formou uma aliança com o presidente da Assembleia e com Amaro, em que entra a Prefeitura da Serra.
Nesse tabuleiro político, o que está em jogo é o poder. Casagrande não quer “pagar o mico” de perder a eleição em Vitória para Amaro e quer vencer na Serra para enfraquecer Audifax. Por sua vez, Audifax precisa passar o bastão para um aliado e continuar no jogo para o Palácio Anchieta.
Onde ficam aí Bruno Lamas (PSB), Sérgio Vidigal e Vandinho Leite (PSDB)? Bem, esses seriam coadjuvantes. Bruno, por falta de forças para contrapor o “chefe” Casagrande; Vidigal, por assistir às suas forças reduzirem a cada eleição; e Vandinho, para não ser “atropelado” pelo contexto político.