Já dizem os amantes dos animais, que eles, tem um amor incondicional! E na Serra, um acolhimento um tanto quanto curioso chamou a atenção da experiente ativista da causa animal Edmaura Fonseca. Um gato adotou um bebezinho recém-nascido fazendo o papel de mãe do bichinho, mesmo estando criticamente ferido.
A história de Gabriel, começou a mudar no último dia 24 de novembro, quando uma senhora resgatou os dois felinos, um adulto e um filhote recém-nascido, que foram largados no asfalto no meio da rodovia ES 010, em Jacaraípe, para morrerem, dentro de um saco preto, todo ferido, cheio de larvas e em meio chuva forte.
“Uma senhora ouviu os miados e debaixo da chuva forte me pediu ajuda para eles. Ela dizia que tinha um bebê vivo e que a mãe teria sido atropelada”.
Edmaura imediatamente abrigou a pequena família. “Como ela havia dito que era a mãezinha do gato, me preocupei imediatamente em cuidar das feridas. Quando vi os dois, percebi que se tratava de uma doença chamada esporotricose e que o corpinho dele está tomado pelo fungo. Fiz a limpeza das feridas, mediquei e os dois seguem juntos”.
A revelação veio no sábado (26), quando Edmaura foi mostrar os novos abrigados para uma amiga, que ao manipular o animal percebeu que não se tratava de uma fêmea e sim de um macho muito dedicado, que dá banho, estimula as necessidades fisiológicas e amamenta.
“Sabe quando as lições de amor e compaixão dada por eles, não param de surpreender? Ali começou a saga de remédios para esporo, e alimentar o máximo a “mamãe ” que apesar de tão fraca e ferida cuidava e amamentava seu bebê. Além de muita magrinha, estava com a respiração horrível, precisava se alimentar, e esse foi meu foco, até que minha amiga veio e viu que eram dois machos”.
O gato, batizado de Gabriel, em homenagem ao arcanjo, amamentou o bebê que está sendo chamado de Bolt, em alusão a Usain Bolt, ex-velocista olímpico jamaicano, por três dias, salvando-o da morte.
“Ela era ele o tempo todo, fiquei apaixonada pelo amor desse bichinho pelo seu próximo. Gabriel é um gato maravilhoso. Não tem mãe ali, e sim um machinho que sabe Deus como, foi jogado junto do bebê no asfalto para morrerem atropelados, e ele com todo amor do mundo, cuidou e amamentou e foi o que o manteve vivo por 3 dias”.
Depois da revelação curiosa, Edmaura passou a alimentar Bolt com mamadeira e os cuidados com Gabriel continuarão por pelo menos mais 6 meses por conta do fungo da esporotricose.
Um caso parecido com este foi registrado em Jundiaí, São Paulo em 2019 e é considerado raro. O Tempo Novo ouviu o biólogo Cláudio Santiago que disse que é possível machos amamentarem. “Nós somos mamíferos não é porque mamamos, somos mamíferos porque temos glândulas mamárias. Machos e fêmeas têm glândula mamária e se tem glândula elas podem produzir a secreção que é o leite. O que induz, entre outros fatores, são hormônios. Absolutamente possível e acontece produzam leite e amamentem em situação extremamente críticas como esta”.
Santiago citou alguns fatores para este comportamento, um deles, é tratamento com hormônios que podem estimular a glândula mamária. Outra questão é quando estão enfrentando desequilíbrios hormonais ou quando estão sob pressão. “Inclusive, existem alguns relatos de prisioneiros de guerra que podem produzir leite por causa das circunstâncias de estresse e falta de alimentos. Quando o peito é estimulado com regularidade, como por exemplo, colocando um bebê para sugar com frequência. A glândula pituitária no cérebro que é responsável por isso”.
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O biólogo foi ainda mais além e citou exemplos. “Em um artigo de 1995 para a Discover, intitulado “Father\’s Milk”, o ganhador do Pulitzer e fisiologista Jared Diamond alia a estimulação dos mamilos ao dilema dos hormônios, ressaltando que essa estimulação pode liberar a prolactina. Ele nota também que passar fome – o que inibe o funcionamento de glândulas produtoras de hormônios, assim como do fígado, que os absorve – pode causar lactação espontânea, como já foi observado em sobreviventes de campos de concentração nazistas e campos de prisioneiros japoneses na Segunda Guerra Mundial”.
Nas meninas, alguns hormônios são liberados para fazer com que o tecido do seio se desenvolva na puberdade e que elas possam produzir leite. Os homens não secretam esses hormônios, e é por isso que não têm os seios desenvolvidos. “Os gatos não diferem dos cães quanto ao espírito de família. Para eles, não interessa se os filhotes são ou não deles. Como mesmo depois de adultos, eles são muito infantis, se você jogar uma bolinha para o pequeno, o pai irá correr atrás também, numa grande harmonia, até o momento que o filhote manifestar o cheiro de macho, que muitas vezes representa o fim da amizade de forma irreversível”.
Cláudio explicou também que a prolactina é o hormônio responsável pelo estímulo à produção do leite.
O Tempo Novo também falou com a veterinária Ludmila Reinholz, da clínica Pet Medic, em Mata da Serra. Para a veterinária é preciso investigar se é um hermafrodita e ela revelou que já viu um caso de uma piometra (infecção no útero) em um cão macho hermafrodita. “Ele tinha pênis e útero. Machos não dão leite em hipótese alguma. A não ser que exista algum hermafroditismo. Ai sim é possível”.
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