Como não poderia deixar de ser, o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro na operação Lava Jato na última quarta-feira (10) teve um significado muito mais político do que jurídico.
Lula negou as acusações de que seria dono do triplex, bem como a de que o imóvel teria sido reformado pela empreiteira OAS do empresário Leo Pinheiro, como forma de pagamento de propina por contratos da empresa junto à Petrobrás.
Habilidoso orador, Lula aproveitou para reforçar o discurso de que está sendo perseguido pelo Ministério Público e pela Justiça, que supostamente estariam agindo em consonância com interesses políticos eleitorais de grupos adversários a ele e ao seu partido, o PT.
Líder nas pesquisas de intenção de votos para as eleições 2018, Lula desperta paixões, é amado e odiado. E essa polarização, que não é de agora, explodiu mais uma vez, na última quarta-feira, com as redes sociais inundadas de comentários pró ou contra o ex-presidente.
Ao que parece, não será a exclusivamente a sentença do juiz Sérgio Moro que vai dizer se Lula é culpado ou inocente. Ainda que Moro o faça à luz da letra fria da lei, só a história pode absolver ou condenar uma figura do tamanho de Lula.
Basta lembrar que o que até agora se desvendou do modus operandi do PT à frente do governo federal entre 2003 e 2016, não difere da prática dos outros partidos, dos grandes como PSDB e PMDB aos menores. E que se repetem em outras esferas do executivo nos estados e municípios. Nem legislativo e judiciário escapam. A despeito das exceções, parece que já faz cultura política nacional à promiscuidade entre dotadores de despesas e empreiteiras/fornecedoras.
Se não for condenado ou morrer, Lula vem forte em 2018. E isso deve mexer com a eleição no ES, transformando lideranças como Givaldo, Coser e Helder Salomão, em nomes competitivos numa chapa ao Palácio Anchieta, já que o grupo será de coadjuvantes de luxo no palanque capixaba de Lula.
Agora, se a Lava Jato engolir Lula, outros caciques da política nacional e local também podem dançar. Caso do governador Paulo Hartung, do senador Ricardo Ferraço, do ex- governador Renato Casagrande e até prefeitos como Audifax, da Serra, Max Filho de Vila Velha e Luciano, de Vitória. Todos citados nas delações da Odebrecht. Aí a coisa embola muito mais do que já está, abrindo espaço para surpresas.
Filósofo para alguns, sofistas para outros, o grego Protágoras, mais de 4 séculos antes de Cristo, cunhou a frase “o homem é a medida de todas coisas”. No Brasil do século XXI, parece que Lula já é a medida de todas as coisas. Pelo menos para as eleitorais em 2018.