Orçada em R$ 290 milhões, a obra do Contorno do Mestre Álvaro deve começar dentro de um mês. Pelo menos essa é a expectativa, uma vez que na última terça-feira (30) foi assinada a ordem de serviço pelo ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes. Além dele, estavam presentes vários políticos da Serra, que preveem uma nova área de expansão no município.Segundo dados do Governo Federal, a construção da via deve gerar, aproximadamente, 430 empregos diretos e mil indiretos.
O Contorno será um desvio na BR-101, entre o Km 249 – próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) – até o km 275, próximo ao condomínio Alphaville Jacuhy, e terá uma extensão de 19 km sem semáforos, com pista dupla e ciclovia.
A obra tem o objetivo desafogar o trânsito de veículos pesados na BR. A estimativa é de economizar até 40 minutos entre a Serra Sede e a cidade vizinha, Cariacica, com a redução de 15 quilômetros.
Segundo o ministro Tarcísio, já existem “R$ 100 milhões garantidos” para o início dos trabalhos. “Finalmente, podemos iniciar a obra, que vai ter uma repercussão grande do ponto de vista da segurança viária, da economia do tempo de viagem, tirando o trânsito pesado de dentro da Serra”,comentou o ministro.
Coordenador da Comissão Externa que fiscaliza o empreendimento, o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) estava entre os presentes à solenidade. “A obra é imprescindível para que se preservem vidas, para a segurança viária e para o desenvolvimento do Espírito Santo”, comemorou Vidigal.
O secretário especial da Presidência, Carlos Manato (PSL), disse que a obra dará a oportunidade de a Serra municipalizar a rodovia. “A maior obra do Governo Federal no Estado. Vai melhorar muito o fluxo da parte Norte e Sul do Espírito Santo. É uma obra que tira o trânsito pesado da Serra e abre as portas para a cidade municipalizar a BR-101”, comenta.
Entretanto, essa não é a primeira vez que a União autoriza a construção do Contorno. Vale lembrar que, em 1º de agosto de 2016, o então ministro dos Transportes do Governo de Michel Temer, Maurício Quintella, esteve no estado e assinou a ordem de serviço ao lado do ex-governador Paulo Hartung; porém, a obra não saiu do papel.
Com a nova rodovia que irá passar atrás do Mestre Álvaro, o município espera conter os acidentes no atual trecho da BR-101, desafogar o trânsito e criar um novo eixo de desenvolvimento para a porção central da cidade. É aposta do prefeito Audifax Barcelos (Rede), que disse, ainda, que haverá um estudo para municipalizar o trecho de Carapina:
Essa é uma obra muito esperada; mas, efetivamente, o que vai gerar de benefício para a Serra?
O primeiro ponto é a questão humana, porque o trecho da 101 na Serra é lugar de muitas mortes. Moradores de bairros como Cidade Pomar, Nova Carapina e Taquara convivem diariamente com a rotina de acidentes e mortes. Então, para mim, essa é a razão principal. A outra é que vai facilitar a vida das pessoas com economia de tempo perdido no trânsito, uma vez que vai desafogar o trecho de Carapina e, consequentemente, a Norte Sul.
E na perspectiva econômica, o que o município projeta a partir dessa nova rodovia?
Entendemos que regiões de Serra Sede, Belvedere e Divinópolis, por exemplo, podem receber uma carga de investimentos e negócios com prédios, empresas, indústrias e condomínios, que redunda em geração de emprego e arrecadação de impostos para sustentar a demanda por serviços públicos. A Serra cresceu muito na região de Laranjeiras, Civit e na orla. Agora, eu acredito que essa estrada vai ser um dos fatores para alavancar a região da Serra Sede.
A Prefeitura tem planos de municipalizar o atual trecho da BR 101 em Carapina?
Esse trecho é concessionado, pertence à Eco 101; não é mais relação com o Dnit. Eu vou orientar a minha Procuradoria para analisar isso. Não podemos criar ilusão para a população. Hoje, para se ter uma ideia, para eu trocar a iluminação e colocar lead, preciso pedir autorização à Eco 101.
A região por onde irá passar a nova rodovia é muito rica, do ponto de vista ambiental. A Prefeitura vai montar algum esquema especial de fiscalização nesse sentido?
Tenho certeza de que isso está garantido. O órgão que autorizou foi o Iema, não foi a Secretaria de Meio Ambiente da Serra. Mas iremos manter a vigília ambiental e acompanhar a obra, não tenha dúvida disso.
Entre os pontos de debate decorrentes da obra do Contorno do Mestre Álvaro está a municipalização do atual trecho da BR em Carapina. Está previsto em contrato que, após a inauguração do Contorno – a ser construído com dinheiro público -, a rodovia passe para a administração da Concessionária Eco-101. No entanto, não há clareza se,de fato, o trecho urbano de Carapina passaria à gestão municipal.
A reportem questionou à Eco-101se o Contorno será administrado pela empresa depois de pronto. E também indagouse há alguma negociação em curso entre a empresa, o DNIT e a Prefeitura da Serra. A concessionária confirma a previsão contratual de fazer a gestão do Contorno depois de pronto, mas falou que não iria estender o assunto, uma vez que a obra ainda não foi iniciada. Quanto à municipalização do trecho de Carapina a Serra Sede, a empresa não se pronunciou.
Prefeitura e Eco-101 têm um histórico de confrontos. O município chegou a processar a empresa por conta da falta de manutenção na rodovia e desligamento de radares. Além disso, a Prefeitura já criticou a empresa por ter que iluminar os trechos concessionados que pertencem à Eco.
A obra do Contorno Mestre Álvaro já passou por muitas idas e vindas, além de ser palco de muitas promessas não cumpridas. Para se ter uma ideia, a primeira ordem de serviço assinada para o início da obra foi em 2016, quando o prazo era para que o Contorno fosse executado em pouco mais de dois anos. Se isso tivesse acontecido, a obra estaria pronta ainda no primeiro semestre de 2019.
No ano seguinte, em 2017, uma novela se desenrolou. O Contorno teve sua responsabilidade repassada do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para o Departamento Estadual de Estradas e Rodagem (DER-ES). Mas pouco tempo depois, a obra voltou para a responsabilidade do Dnit.
No mesmo ano, a promessa do então ministro dos Transportes, Maurício Quintella, era de que os trabalhos começariam em setembro. Em outubro daquele ano, o projeto da obra foi barrado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por indícios de irregularidades, que poderiam gerar “grave desequilíbrio econômico-financeiro”.
Já em 2018, surgiu uma nova promessa: a obra começaria em julho e seria concluída em 2020; outra promessa que não foi cumprida.
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