Por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, escolas da Serra e de outras cidades capixabas precisaram ser fechadas e suspender as aulas presenciais. E junto com os professores, as merendeiras – que preparam as comidas dos estudantes – precisaram ser afastadas. Na ocasião, foi firmado um acordo com as funcionárias: 30% do pagamento seria feito pela Prefeitura da Serra, através da empresa responsável, e os outros 70% seriam depositados todo mês pelo Ministério da Economia.
O principal problema é que esses 70% – benefício emergencial pago a trabalhadores que tiveram a jornada de trabalho reduzida na pandemia – não estão sendo pagos pelo Governo Federal para a categoria. Enquanto isso, as famílias das funcionárias da Prefeitura da Serra estão vivendo as mínguas com aproximadamente R$ 313 mensais. Esse valor que não dá nem para fazer as compras do mês é referente aos 30% depositados pelo Município.
O TEMPO NOVO apurou que mais de 300 profissionais estão sofrendo com a situação. Algumas delas conversaram com a reportagem, mas pediram para não ser identificadas, por medo de retaliações e até de perder o emprego, o que pioraria ainda mais a crise vivida por elas. “Estou vivendo de doações. Minha família me dá alimentos e até vizinhos me auxiliam, mas meus filhos estão quase passando necessidades, pois precisam de biscoitos, leite, essas coisas mais caras”, afirmou uma funcionária.
Já outra moradora da Serra ouvida pela reportagem cobra uma solução urgente. “Não estou aqui para culpar a empresa, a prefeitura ou o governo, mas eles precisam chegar em um acordo e nos socorrer. Sempre preparei a comida para centenas de crianças, mas agora falta alimento para as minhas filhas. Não é mentira que estamos com muitas dificuldades. Isso é justo?”, indaga a popular.
Para agravar ainda mais o problema, muitas merendeiras da Serra moram de aluguel e algumas até são mães solteiras. Com isso, elas estão precisando contornar a situação para colocar comida na mesa e ainda quitar contas essenciais, como de energia elétrica e água, por exemplo. Vale destacar que, na Serra, o serviço de merenda é terceirizado e a empresa responsável pelas trabalhadoras é a Soluções Serviços Terceirizados Eireli.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Economia, a Prefeitura da Serra e a empresa responsável pelas funcionárias. O Município disse por meio de nota que o pagamento referente a 30% do salário que cabe à prefeitura está em dia, sem atraso. Destacou ainda que algumas merendeiras já receberam doação de cesta básica através do Cras.
O Município também disse que a empresa terceirizada, responsável pelas profissionais, já acionou o Governo Federal para buscar soluções. O TEMPO NOVO tentou contato com a empresa. Uma responsável chegou a responder mensagens enviadas pelo WhatsApp, mas logo em seguida não deu retorno sobre o assunto, dizendo que estaria em contato com o setor jurídico.
Já o Ministério da Economia não se manifestou diretamente sobre as merendeiras, pois solicitou dados pessoais das profissionais, como CPF e nome completo. “Para casos específicos, é necessário informar os dados dos trabalhadores”, disse em nota.
Porém, o ministério ressaltou que o trabalhador que enfrentar alguma dificuldade pode entrar em contato com Superintendência Regional do Trabalho de seu estado.
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