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Gramado: a cidade que respira turismo durante 365 dias do ano

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Foto: o vice prefeito Luia Barbacovi, o jornalista capixaba Luiz Ximenes, o prefeito Nestor Tissot, e os jornalistas Itamar Gurgel, Júlio Huber e Eci Scardini. Divulgação

Gramado, no Rio Grande do Sul, é uma das cidades mais turísticas do Brasil. Lá, respira-se turismo 365 dias do ano. E é turismo de qualidade, diversificado, com excelente gastronomia, uma gama enorme de entretenimento, uma natureza generosa, que propicia paisagens extraordinárias. Tudo isso aliado às tradicionais arquiteturas alemã e italiana.

Um grupo de veículos de comunicação, formados por jornalistas e influencers digitais do Espírito Santo está em Gramado, visitando a cidade. Entre os convidados para a agenda está o diretor do Tempo Novo, Eci Scardini (Gerereu).

Confira abaixo a entrevista com o prefeito Nestor Tissot, que narra o sucesso da cidade, que tem 44 mil habitantes, mas recebe sete milhões de turistas por ano.

Gramado, com suas belezas naturais e investimentos se tornou uma das cidades mais procuradas por turistas de todo o Brasil. Qual é a população de Gramado e quais são as contrapartidas que esta população recebe oriundas de turistas ao longo dos anos?

Nossa população é de 44 mil habitantes, e no ano de 2022 nós recebemos 7,7 milhões de visitantes, sendo 99% de brasileiros e um pequeno percentual de estrangeiros. Esse foi o maior número [de turistas] da história. Mas nós temos um número médio de 6 milhões, 6.5 milhões de visitantes ao ano. Este último ano tivemos uma visitação recorde em toda nossa história.

Museu de Cera, em Gramado. Crédito: Divulgação

Esse quantitativo de turistas visitam a cidade em períodos distintos? Qual é a época que eles mais procuram a cidade?

A sazonalidade ainda temos, mas diminuiu muito nos últimos anos. Ainda é o verão, por ser um período maior, o próprio Natal, que são mais de cem dias, e traz uma população ainda maior durante o ano. O inverno é um período curto, é verdade, as férias escolares, mas é uma população muito grande.

Eu diria que, proporcionalmente, pelo número de dias, o inverno traz mais gente ainda, mas é mais curto, e o verão é o que traz mais gente para a cidade. Mas também, ao longo dos anos a cidade também proporciona espaços físicos para congressos, feiras em espaços privados, muitos hotéis têm hoje os seus espaços de congressos, então tem trazido uma visitação mais equilibrada nos 12 meses do ano. Então, conseguimos, através de ações do poder público, equilibrar um pouco mais a visitação.

E a cidade têm infraestrutura sanitária, abastecimento de água e sistema viário para receber este número de turistas?

Vou usar uma expressão de um amigo da cidade, e eu guardei essa expressão, que é: “no final dá tudo certo”. Realmente, podem vir 10 milhões de brasileiros e estrangeiros, que no final dá tudo certo. Então, temos acomodação; a cidade evolui nesta questão de hotéis, restaurantes, de comércio. Estamos evoluindo bem na questão de abastecimento de água, esgotamento sanitário.

Mobilidade urbana é um problema um pouco maior, mais difícil de resolver, é um outro desafio. Mas tem atendido a população muito bem, tanto é que este número tem aumentado ano após ano. Acreditamos que a população visitante também está satisfeita com o que vê em Gramado.

É um desafio da nossa gestão, de outros que passaram e outros que virão aqui, exatamente esses dois pontos: a questão ambiental da água e do esgoto e a mobilidade urbana. Duas situações que nós temos que organizar. O plano diretor que ficou quatro anos sendo estudado, melhorado, ele traz muitas proibições de construções em algumas áreas da cidade; facilita construções em outras áreas.

A gente está incentivando muito o nosso interior. Estamos levando asfaltamento para praticamente todas as vias do interior e isso faz com que as famílias e seus descendentes vão continuando sua vida lá no interior, com as agroindústrias, os passeios de agroturismo, construindo suas pousadas, restaurantes. Isso a gente está incentivando muito, e o turista tem aceitado essa proposta muito bem.

Um dos incentivos é exatamente procurar levar todo esse investimento, crescimento mais para o interior do que na área urbana, para equilibrar exatamente e que a cidade continue por muitos e muitos anos ainda a ter sua possibilidade de receber os brasileiros, que a cada ano vem crescendo. Tem que estar preparado para tudo isso.

A gente nota que a cidade tem uma população pequena e movimentação muito grande. Como fica a mão de obra para atender à demanda? Tem que buscar nos municípios vizinhos?

Falta mão de ora há muitos anos aqui. No ano passado, com esse crescimento, a gente percebeu essa dificuldade. Até então, das cidades vizinhas, das migrações para cá, se supria. Hoje, aqui no próprio poder público, a gente tem notado essa dificuldade para contratar alguma pessoa talvez um pouco mais preparada para determinado setor, e não encontra; coisa que na outra gestão minha, de 2016, não tínhamos essa dificuldade.

Em 2022, 2021, já notamos isso. Então, a cidade tem falta de mão de obra. Os migrantes hoje vêm de toda parte do Brasil. O nordestino, que tinha dificuldade de vir aqui por causa do frio, hoje o frio não é mais barreira. Ele está vindo para cá, morar, trabalhar. E graças a esse migrantes nós conseguimos ainda funcionar a cidade; porque ela cresce a níveis muito grandes.

Em termos de municípios do nosso tamanho eu desafio outro município a dizer que está crescendo aos números de Gramado. É um crescimento muito grande. Falta mão de obra, realmente, e o nosso desafio é preparar essa mão de obra que vem de fora, que talvez não tenha essa mesma cultura nossa do bem receber, do em atender, que é uma cultura que nós implantamos muito bem aqui na cidade.

Mas isso tem dado certo, e as pessoas que têm vindo para cá, independentemente da região, têm se adaptado muito bem aqui. Acredito que vêm para cá com esse viés de interesse muito grande: “eu quero ir para Gramado; quero trabalhar em Gramado e vou me preparar conforme a cidade e os negócios da cidade exigem”. Tem dado muito certo, temos levado a cidade a bom termo.

Hollywood Dream Cara. Crédito: Divulgação

Gramado é uma cidade cuja economia gira em torno do turismo. Como foi possível fazer a população entender a importância deste segmento para o crescimento da cidade?

Estou na vida pública há mais de 30 anos na cidade. Antes de mim, meu irmão estava como vereador. Eu acompanho a vida da cidade há quase 40 anos. Estou com 65, e ainda muito jovem acompanhava e dava alguma opinião. Ouvia mais do que falava principalmente sobre a bandeira do nosso grupo político, sempre despertou nele e levou adiante a questão do turismo.

Lá atrás achávamos que o turismo poderia ser uma atividade  interessante para nossa cidade, para o seu crescimento. E na época tínhamos muitas indústrias em Gramado. Tínhamos uma indústria de calçados infantis que era a maior da América Latina, a Ortopé; tínhamos uma indústria moveleira numa crescente muito grande e ainda hoje temos muitas fábricas na cidade.

Tínhamos metalúrgica numa crescente muito grande, continuamos com metalúrgica ainda hoje; tínhamos um polo malheiro, que se perdeu ao longo do tempo, com cidades vizinhas.

O artesanato cresceu; este não parou desde a época. Tínhamos muitas atividades, mas pensávamos que o turismo podia ser colocado em atividade, independentemente das indústrias que estavam ai ou de qualquer outro negócio. Isso foi acontecendo ao longo do tempo, e a população também, vendo essa bandeira do turismo, da indústria, esses debates políticos, principalmente em períodos eleitorais, que era posto no ouvido da população.

Ao longo dos anos, a população foi percebendo que o turismo poderia ser realmente um grande negócio para quem tinha seu comércio, para quem estava pensando em abrir um restaurante, hotel, e assim por diante. Nos custou eleições falar sobre turismo, porque não era bem compreendido; lá atrás, para a população pequena, interiorana.

Mas com o passar do tempo isso ficou bem claro e hoje temos uma atividade turística consolidada; é verdade que absorveu algumas indústrias no caminho porque o turismo paga melhor, mais rápido, a distribuição de renda é mais equilibrada.

Tem um ambiente de trabalho melhor que muitas indústrias, então por si só, atrai mais pessoas. Mas nem todo mundo gosta de trabalhar em um hotel, restaurante, comércio. Muitas pessoas gostam; eu fui calçadista a vida inteira, gosto de trabalhar em calçados. Sou metalúrgico, gosto da atividade metalúrgica, e vou ficar. Então não atrapalha, só contribui com qualquer outra atividade.

Ao longo do tempo foi priorizando o turismo, mas foi acontecendo automaticamente, e o poder público foi uma parte muito importante neste processo. O poder público, com o nosso grupo, quando estava no Governo, sempre deu muita atenção para o turismo, mas nunca descuidou de qualquer outra atividade.

Mas o turismo, quando tinha uma promoção, Gramado estava lá; quando tínhamos que discutir o que fazer, fazer um evento, o festival de cinema, na Festa da Colônia, no Natal Luz, “vamos fazer”. Mas nada impedia de fazer uma feira de artesanato; de fazer um trabalho com a metalúrgica, com a fábrica de móveis, que até hoje a rua coberta é cedida para a feira de móveis, que o próprio Sindicato das Indústrias faz, e a prefeitura cede o espaço gratuitamente.

E ali é um atrativo turístico também. Então, se aproveitou várias atividades industriais para incorporar ao turismo. Esse conjunto de ações, sempre na liderança do poder público, fez de Gramado hoje uma das cidades mais cobiçadas para visitar, a segunda cidade mais procurada. Em termos de tamanho é a primeira, disparada.

Com todo respeito a todos os municípios brasileiros, mas Gramado alcançou um patamar interessante nesta questão do turismo, para receber 7 milhões e 700 mil habitantes por ano, em uma cidade de 44 mil habitantes; sem aeroporto, um aeroporto muito distante, no Sul do Brasil, é porque ela tem um produto bom para oferecer.

Apesar da dificuldade para atrair mão de obra, a receptividade com o turista é impecável. Como isso é possível?

Em anos passados era praticamente 100% de mão de obra gramadense e com essa discussão política sobre o que é melhor para a cidade; e essa mesma população foi vendo que o turismo era um negócio bom para o seu negócio. então, se tinha um restaurante entendeu que tinha que tratar bem e ser carinhoso porque o gramadense vem ao estabelecimento, mas o turista vem em maior número.

Isso foi pegando consciência; nós tínhamos em determinados anos, e nossa intenção é voltar de novo agora a disciplina “Turismo” nas escolas. Isso foi muito importante porque ninguém mais importante do que a criança para levar uma informação para casa, dizer para o pai e para a mãe o que ouviu o professor e a professora dizendo.

A questão ambiental não tem melhor interlocutor que a criança e isso foi muito bem feito em Gramado, acredito eu. A criança, que hoje já são empresários, tem filhos desses empresários nos negócios. Isso está muito bem impregnado e ele, por si só, quando contrata um trabalhador de qualquer parte do Brasil ele sabe que tem que preparar.

A prefeitura tem cursos diretamente em muitas atividades; o gabinete da primeira dama faz cursos o ano inteiro, em diversas especialidades, mas principalmente na área do turismo.

Se não tem ele busca isso também, se prepara porque se o funcionário dele não está preparado, o restaurante do lado está melhor e ele vai perder a clientela. E a administração pública procura falar, cobrar, conscientizar, ajudar no preparo da mão de obra porque aqui isso é fundamental.

E isso pesa muito porque nossa população, com essa consciência, está muito infiltrada nos negócios. Sendo garçom, sendo balconista, sendo proprietário, está junto com todo trabalhador. Então as pessoas que vêm para cá eu acho que têm esse senso de se integrar na comunidade porque quer essa oportunidade. Sonhou com essa oportunidade de vir para cá e estando aqui vai procurar fazer a coisa bem feita.

Eu sei que as pessoas que vêm para cá, independentemente de região, elas logo se adaptam ao nosso sistema. E nossa cultura, o que predomina hoje, lá atrás os portugueses começaram, depois os alemães e, por último, os italianos. Mas os negócios nossos hoje basicamente estão os alemães e os italianos na linha de frente.

Isso também ajuda, a cultura é diferente. Essas duas etnias trabalham e querem saber o resultado no mesmo dia. Isso tem ajudado na continuidade dos negócios.

Qual é a capacidade de hospedagem da cidade de Gramado?

Temos hoje 24 mil leitos registrados. Temos ainda os alugueis de temporada, em todo o Brasil, porque a gente ainda não tem uma legislação estadual ou federal que nos permita organizar isso. Mas é uma preocupação que nós temos; porque isso está na rua, nós não temos número nem para dados estatísticos, muito menos para acompanhar este trabalho.

Mas registrados e legalizados são 24 mil leitos; isso dá quase 206 hotéis e pousadas registrados; é um número muito grande para 44 mil habitantes. O crescimento no restaurante, no hotel e no comércio é muito grande nos últimos anos. Eu diria que nós triplicamos esses números em dez anos.

E a questão da segurança pública para moradores e visitantes?

Para fazer turismo a cidade tem que contar com organização como um todo. Limpa, organizada nas flores, na sua gente e segurança física e de saúde tem que estar junto. Isso para nós é fundamental.

A segurança pública seria dever do Estado, mas a prefeitura repassa recursos interessantes para os órgãos de segurança para eles poderem se manter, seja num reparo de carro, abastecimento de combustível, conserto dos prédios, enfim tudo aquilo que precisa de recursos.

Temos o Mocovi, que é um movimento comunitário que faz esse trabalho voluntariamente e serve de elo entre o poder público, empresários e forças de segurança, e tem funcionado muito bem. Então, a segurança, embora não se perceba na cidade, está presente, através das câmeras de vigilância, monitoradas pela Brigada Militar.

Os delinquentes, se tiver, graças a Deus é muito pouco, se estiver riscando um automóvel, a câmera tá pegando ele. A cinco passos do local ele já é buscado. Não existe praticamente índices de qualquer tipo de violência. Você anda em qualquer hora do dia e da noite, principalmente na área urbana, onde acontece todo o turismo, tranquilamente com crianças e com bebês, com idosos, sem problema nenhum.

Então, isso a gente vende muito, uma cidade segura. E a questão também de saúde, qualquer cidadão, seja morador daqui, vindo de fora, que está aqui trabalhando há uma semana ou que vem visitar a cidade, tem o hospital 24 horas, tudo gratuito, não paga nada. Se precisar ser removido para uma cirurgia de emergência o hospital todo faz a avaliação, acompanha, se for o caso.

Mas caso contrário, o atendimento aqui, eu já ‘n’ vezes durante a noite, estive no hospital, interagi muito com os visitantes e eles ficam impressionados como que o familiar esteve aqui e recebeu um atendimento bom, está indo para o hotel recuperado. Pedir a conta e não ter que pagar nada. Isso tudo o poder público banca, mais o SUS. Então, a cidade mantém, tem que ter essa segurança para poder o cliente voltar.

Vinícola Seganfredo. Crédito: Divulgação

O morador de Gramado ainda paga o plano comunitário de saúde?

O único hospital é privado; agora foi vendido e tem outra administração. Nós, na outra gestão, em 2016, estávamos no poder público e fizemos a intervenção no hospital; porque na época os proprietários estavam, nós temos uma UTI no hospital, muito boa, que foi montada pela comunidade, pela prefeitura, na época, o Governo do Estado ajudou, e o Governo federal. E isso tudo foi colocado em um hospital privado e, de repente, esses proprietários resolveram e disseram que estavam desativando a UTI porque era deficitária.

Começou um atendimento no hospital, de modo geral também, piorado. Aí nós fizemos a intervenção, que cabe isso; é uma exigência da legislação que o poder público intervenha. De lá para cá continua. O governo municipal passado ficou 4 anos e deixou a intervenção.

Nós estamos há dois anos com a intervenção, mudamos o diretor e eu tenho visto e acompanhado a mudança para melhor no hospital. Nesse período todo foi continuado comprando equipamentos, contratando profissionais, ampliando atendimentos.

A prefeitura aportando mais recursos porque entende que a saúde é fundamental para nossa existência, para nossa vida; não só do gramadense, mas quem vem para cá. Então hoje, na verdade, é bancado pelo Governo federal, estadual e municipal.

Mas uma das determinações que eu dei para esse novo diretor é criar mecanismos para a comunidade ajudar a custear um pouco isso ai; e a comunidade vai ajudar. Nós não temos nenhuma dúvida disso.

A gente percebe, eu tenho uma empresa da família onde eu percebo os funcionários e várias vezes conversei. “Se você tiver que pagar R$ 5 por mês, a empresa paga mais R$ 10. Junta ai R$ 15, cada funcionário mais a empresa, vocês pagariam? Mas com muito prazer porque a gente sabe que tem atendimento a hora que precisar. Então imagina um número fictício de R$ 15 por pessoa na cidade. Olha o volume de dinheiro que dá para botar no hospital, o que dá para melhorar na saúde.

E saúde, não adianta dar discurso, tem que botar dinheiro.  A saúde brasileira a gente percebe que é mal gerida ao longo dos hospitais. Dinheiro tem, tem forma de como a população ajudar.

Qual é a receita anual do município e o seu PIB?

Nosso orçamento para 2023 é de R$ 470 milhões previstos. Acho que a gente alcança tranquilamente este número. Se a economia permanecer, pode até chegar a R$ 500 milhões. Sobre o PIB não tenho números precisos no momento.

Em Gramado foram visitados mais de uma dezena de estabelecimento, entre entretenimento, gastronomia, vinícolas, parques e também desfrutar da boa acolhida da rede hoteleira que recepcionou o grupo e os serviços de translado executado pela Transitar.

Gramado é um mundo encantado, para todas as idades. Ao entrar nos sites dos estabelecimentos abaixo, o leitor terá uma pequena noção:

 

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