O conteúdo abordado tem o objetivo de promover um condensado estudo sobre o racismo dando ênfase nos ambientes escolares. Para isso, será feita uma sucinta contextualização do processo histórico do negro e seu espaço que ocupa na sociedade contemporânea. Com o intuito de posteriormente, realizar possíveis análises dos fatores do racismo nos ambientes educacionais com a finalidade de buscarem tentativas que amenizem tal situação na esfera educacional.
Antes de partirmos para a presente temática, torna-se necessário um breve aporte teórico a fim de compreendermos melhor as razões das discriminações e injúrias raciais por meio da cor da pele na sociedade contemporânea. Com o processo de exploração do território luso-brasileiro, o Brasil recebeu uma gigantesca quantidade de negros provenientes da África, principalmente quando foi colônia de Portugal. Como consequência houve o uso da mão de obra negra, rebaixando sua existência enquanto ser humano para condições inadequadas e miseráveis de vida.
Por mais de 300 anos (séc. XVI ao XIX) o processo escravista foi muito forte, com várias tentativas de resistências. Com a abolição da escravidão, muitos negros ficaram a margem da sociedade, o que não era muito diferente da realidade quando eram explorados. Nesse ínterim começaram mudanças no cenário brasileiro, onde os negros começaram a ocuparem os grandes morros das principais capitais brasileiras, outros não tiveram a oportunidade de conseguirem empregos, tornando-se mendigos e os que conseguiam trabalho realizavam pequenos bicos.
Assim, inicia-se novas ondas de marginalizações dos negros, desencadeando os problemas atuais no que tange ao racismo e as tentativas desafiadoras de amenizarem essas situações, onde há distinções entre as pessoas, por conta da sua pigmentação.
Dentro desse cenário, vale destacar um fragmento do texto de Antônio Olímpio de Sant’Ana, – História e Conceitos Básicos Sobre o Racismo e Seus Derivados:
“O racismo não surgiu de uma hora para outra. Ele é fruto de um
longo processo de amadurecimento, objetivando usar a mão-de-obra
barata através da exploração dos povos colonizados. Exploração que
gerava riqueza e poder, sem nenhum custo-extra para o branco
colonizador e opressor”. (SANT’ANA, Antônio, 2005:42).
Compreender esse panorama realizado é necessário, pois é a partir dele que serão abordadas as questões do racismo nos ambientes escolares e as tentativas de combaterem as segregações raciais presentes nos espaços educacionais. Em um primeiro momento cabe abordar como a imagem do negro é abordada na sala de aula, mais precisamente nos livros didáticos, notadamente no ensino e na didática. Percebe-se de início o negro nos livros didáticos, segundo, Ana Célia da Silva, em seu texto, -A Desconstrução da Discriminação no Livro Didático-, onde demonstra:
“De um modo geral, o negro é representado nas ilustrações e descrito
como pobre. Porém, a representação do pobre corresponde à do
miserável, uma vez que é descrito e ilustrado como esfarrapado,
morador de casebres, pedinte ou marginal. Por outro lado, o livro
responsabiliza o indivíduo por seu estado de pobreza quando apenas o
descreve e o ilustra como pobre, sem propor uma discussão sobre as
causas da pobreza”. (SILVA, Ana C., 2005:29).
Essa questão não pode ser descartada, pois é a partir do ensino e da metodologia que começam as construções do referido conteúdo em sala de aula. Vale destacar que os alunos no ambiente escolar já possuem um “pré-conceito” sobre o assunto e quando se deparam com a caracterização do negro no livro tem-se uma visão mais profunda, em questão. Nessa ótica, a autora propõe:
“Existe por parte de muitos professores uma baixa expectativa em
relação à capacidade dos alunos negros e pertencentes às classes
populares. As origens dessa baixa expectativa podem estar na
internalização da representação do negro como pouco inteligente,
“burro”, nos meios de comunicação e materiais pedagógicos, um
estereótipo criado para justificar a exclusão no processo produtivo
pós-escravidão e ainda na atualidade. A visão dessa representação
pode desenvolver também nos alunos não negros preconceitos quanto
à capacidade intelectual da população negra, e, nas crianças negras,
um sentimento de incapacidade que pode conduzi-las ao desinteresse,
à repetência e à evasão escolar”. (SILVA, Ana C., 2005:26).
A partir desse campo teórico vale ressaltar que o racismo é presente, gerando discriminações não só entre os alunos, mas também na relação com o professor e o aluno no âmbito educacional, como foi apontado no fragmento anteriormente. Verificase que se trata da maneira como são abordadas as questões históricas sobre o negro, ocasionando o racismo nos ambientes escolares. Todavia, um ambiente voltado para a educação, o ensino e o respeito ao próximo é palco também de segregações raciais.
Tem-se um grande desafio na contemporaneidade, pois há muitas lutas com o intuito de combaterem os racismos. É patente observar esse reflexo, o qual vivemos atualmente sobre essas formas de discriminações raciais decorrentes de um longo processo sócio histórico. Mesmo com a Lei Áurea (abolição da escravidão) e as Leis que zelam pelo racismo, como a Lei N° 7.716, de 5 de janeiro de 1989 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor e a Lei N° 10.639, de 9 de janeiro de 2003 que se torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, ainda há muitas injúrias raciais e práticas racistas, mesmo essas leis mantendo a tutela sobre o racismo.
Dentro desse ângulo, ganha configuração real a relação do racismo com a psicologia. De modo como foi abordado pela pedagoga e professora da Universidade do Estado da Bahia, Ana Célia da Silva, a visão dos alunos, a partir da incapacidade do professor de lidar com a problemática social em sala de aula, caracterizando uma discriminação no ambiente educacional, gerando desinteresses e consequentemente angústias nos alunos. A partir desse raciocínio, infere-se desencadeamentos de sofrimentos psíquicos nos estudantes decorrentes desse racismo presente no meio educacional.
Diante dessa ótica, é necessário buscar desafios e propostas de soluções para essas situações nos ambientes escolares na tentativa de atenuar o preconceito racial, em questão. Destaca-se a conciliação do professor com os alunos em sala de aula e a presença de psicólogos capacitados para fornecerem amparo aos estudantes que se sentem constrangidos diante do presente cenário, além de promoverem rodas de conversas e palestras sobre o racismo e formas de combate nas escolas.
No papel do professorado em sala de aula frente à discriminação, Ana Célia propõe propostas de soluções quando a situação ocorrer em sala de aula, bem como o educador lidar com a problemática. Em suas palavras, tem-se:
“Cabe ao professor, munido dessas e outras informações, demonstrar
aos seus alunos que não existe correlação entre capacidade intelectual
e cor da pele. E formar neles atitudes favoráveis às diferenças étnicas
e raciais das pessoas com as quais convivem na sociedade”. (SILVA,
Ana C., 2005:26).
Continuando em sua argumentação:
“A desconstrução da ideologia abre a possibilidade do
reconhecimento e aceitação dos valores culturais próprios, bem como
a sua aceitação por indivíduos e grupos sociais pertencentes a outras
raças/etnias, facilitando as trocas interculturais na escola e na
sociedade”. (SILVA, Ana C., 2005:33).
Intercalando o raciocínio com os paradigmas de Nilma Lino Gomes no que tange a esse assunto e as propostas de soluções para o racismo nos ambientes escolares há um fragmento em seu texto, Educação e identidade negra, associando-se com a temática abordada:
“Articular educação e identidade negra é um processo de reeducação
do olhar pedagógico sobre o negro. A escola, como instituição
responsável pela socialização do saber e do conhecimento
historicamente acumulado pela humanidade, possui um papel
importante na construção de representações positivas sobre o negro e
demais grupos que vivem uma história de exclusão. Mais do que
simplesmente apresentar aos alunos e às alunas dados sobre a situação
de discriminação racial e sobre a realidade social, política e
econômica da população negra, a escola deverá problematizar a
questão racial. Essa problematização implica descobrir, conhecer e
socializar referências africanas recriadas no Brasil e expressas na
linguagem, nos costumes, na religião, na arte, na história e nos saberes
da nossa sociedade”. (GOMES, 2002:47).
Feito esse balanço teórico, a partir das buscas dos desafios contra o racismo não se pode negar a presença do psicólogo, onde o seu papel nesse cenário, de acordo com a resolução do Conselho Federal de Psicologia, N° 018/2002 que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial e considerando os artigos da presente resolução, tem-se:
Art. 1º – Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da
profissão contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão
sobre o preconceito e para a eliminação do racismo.
Art. 2º – Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a
discriminação ou preconceito de raça ou etnia.
Art. 3º – Os psicólogos, no exercício profissional, não serão
coniventes e nem se omitirão perante o crime do racismo.
A partir das propostas de soluções tematizadas cabe aos professores e psicólogos exercerem o seu ofício com o propósito de colaborarem na diminuição das discriminações presentes nos ambientes escolares. Diante desse ângulo é uma tarefa desafiadora, em razão de ser um problema social persistente na atualidade. Analisando a abordagem feita e averiguando as buscas dos desafios contra o racismo demonstrados ao longo do artigo, acredito que não seja impossível. Entretanto necessita-se de paciência e muita dedicação pelos educadores e psicólogos, pois é uma situação complexa na configuração sócio espacial da realidade do âmbito escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Nilma Lino. Educação e Identidade Negra. Revista Aletria: alteridades em questão, Belo Horizonte, POSLIT/CEL, Faculdade de Letras da UFMG, v.06, n.09, dez/2002, p. 38-47.
SANT’ANA, Antônio Olímpio. História e conceitos básicos sobre o racismo e seus derivados. In: MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.
SILVA, Ana Célia. A desconstrução da discriminação no livro didático. In: MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.
RESOLUÇÃO CFP N.º 018/2002. Brasília-DF, 19 de dezembro de 2002. (ODAIR FURTADO – Conselheiro-Presidente).
Esse artigo é fruto do meu trabalho quando estava no 6º período em minha graduação (UFOP – Mariana/MG), cursando a disciplina de Psicologia da Educação. Assim dedico a todos os docentes da área, educadores e pedagogos que possuem a importante missão de ensinarem com carinho e zelo, mesmo diante dos obstáculos encontrados. O conteúdo abordado é recorrente na esfera educacional, mas diante das leituras e constantes revisões de especialistas capacitados, o bom senso, a colaboração e ajuda mútua entre professores e alunos por meio de muitas conversas e esclarecimentos sobre o tema, podemos sim fazermos dessa adversidade presente uma possível igualdade nas redes escolares.
Davi Silva de Carvalho – Licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.
Em 2017 lecionou na turma de licenciatura (Pedagogia, História e Letras) do Departamento de Educação- DEEDU/ICHS/UFOP. No ano seguinte, desenvolveu seus trabalhos de manuseio e transcrição de documentos avulsos pertencentes ao Arquivo Histórico da Câmara de Mariana/MG. Após sua formação acadêmica (2018), obteve duas aprovações nos processos seletivos para cursar disciplinas como aluno especial no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo, PPGHIS/UFES. A primeira aprovação ocorreu em agosto de 2019 e a segunda em março de 2020. Já em 2021, seu artigo intitulado: Memória e História – Análise do documentário Que Bom Te Ver Viva foi aceito e publicado na revista Horizontes Históricos do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, UFS.