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Investir onde não tem água?

Por Bruno Lyra 

Em 2015, um pouco antes do rompimento da barragem dos rejeitos de mineração da Samarco (Vale + BHP Billiton), o governo do estado anunciou que o rio Doce seria alternativa de água a médio/longo prazo para a Grande Vitória, lugar onde estão concentradas a maior parte do PIB e  praticamente metade dos moradores do estado.

 Isto porque os rios que atendem a região – o Jucu, o Santa Maria, o Reis Magos e o Beneventes são de pequeno porte e a degradação dessas bacias associadas ao efeito do aquecimento já estão inviabilizando o crescimento econômico. Quem vai querer investir num lugar que não tem água? 

É contraditório. O capitalismo que só faz acelerar o consumo e o consumismo,  reduz a quantidade e qualidade da água. Mas é profundamente dependente dela para continuar de pé.  Ainda mais na realidade capixaba, cuja economia é literalmente refém de setores como a siderurgia/mineração, produção de celulose e petrolífero, atividades que são grandes consumidoras de água e geradoras de problemas ambientais. Por esta razão, chegam a ser rejeitadas e exportadas de países mais ricos para nações em desenvolvimento como o Brasil.

O desastre/crime ambiental da Samarco foi o golpe final no rio Doce. Que já vinha morrendo com a desertificação gerada pela mineração e criação de gado extensiva em sua bacia. Agora, o pouco de água entre bancos de areia tingidos de grená pelo minério derramado, está com metais pesados. Água essa que voltará a ter tons supercarregados a cada temporada de chuva, quando a torrente enorme revolver leito e margens enlameados.

Nesse cenário é ainda mais surreal que as empresas como as de Tubarão (Vale e ArcelorMittal) ainda não estejam usando esgoto urbano da Grande Vitória, ao invés da pouco água limpa que resta do rio Santa Maria e de poços artesianos cavados entre Serra e Vitória. Ambas estão tendo as licenças de operação renovadas e é hora oportuna para que isto seja amarrado como condicionante.

Mais a frente a alternativa deverá ser a agora custosa dessalinização da água do mar. O Espírito Santo vai precisar investir nisso. E não é de agora o alerta para a escassez de água no estado, vem dos anos 1960 pela voz do patrono nacional da ecologia, o cientista espíritossantense Augusto Ruschi. 

Caso continue na inércia, fazendo só marketing ambiental, restará ao Espírito Santo pleitear sua inclusão total à Sudene, assim como já é com sua metade norte. Não vai ser difícil. Desde os tempos do Marquês de Pombal e sua barreira verde o Brasil nos enxerga como o patinho feio e pobre do Sudeste. Estamos quase “rebaixados” a integrar o sofrido Nordeste.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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