Fechado desde o início da pandemia do coronavírus em fevereiro de 2020, o Pronto-Socorro do hospital Jayme Santos Neves, em Morada de Laranjeiras, está fazendo falta na Serra. Como consequência disso, a demanda por atendimento emergencial explodiu nas UPA’s da Serra. E o pior, pelo jeito o Governo do Estado pretende manter o hospital com a ‘porta fechada’ para a população.
Em fevereiro agora, completa-se três longos anos em que o maior Pronto-Socorro do Estado do Espírito Santo está fechado. Anos difíceis em especial para quem precisa de atendimento de urgência e emergência. A reportagem do Jornal Tempo Novo buscou a assessoria de imprensa do Governo do Estado para perguntar se haveria a previsão de reabertura do Pronto-Socorro. Em nota, o Governo indiretamente confirmou que não tem a intenção de reabrir.
“O Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves informa que a unidade está em pleno funcionamento. O hospital recebe pacientes regulados pela Secretaria de Estado da Saúde (SESA), que chegam via transferência de PA’s, UPA’s e outras unidades hospitalares, ou também por meio de ‘vaga zero’ pelo SAMU 192”.
Ou seja, dentro da modalidade de hospital de ‘porteira fechada’, o Jayme está em ‘pleno funcionamento’. A ante-resposta dada pela assessoria é uma confirmação implícita de que a intenção é manter o hospital sem Pronto-Socorro, atendendo apenas os casos em que os pacientes são transferidos. Desde sua inauguração em 2013, o hospital Jayme foi idealizado como modelo para atendimento de Pronto-Socorro. Não é atoa que na época o Governo do Estado, que também estava sob a liderança do governador Renato Casagrande, disse: “O Hospital terá abrangência sobre 2,3 milhões de capixabas e será referência para urgência e emergência, clínicas e cirúrgicas, cirurgia cardíaca, traumato-ortopedia, gestação de alto risco e contará com um Centro de Tratamento de Queimados – CTQ”.
Além disso, desde a inauguração do Jayme, o hospital Dório Silva passou por reformulações e fechou o Pronto-Socorro, deixando esse serviço fundamental para ser realizado somente no Jayme, já que se tratava de um hospital com maior estrutura e mais moderno. Agora, com o fechamento do serviço de urgência e emergência do Hospital Jayme, a população fica dependendo única e exclusivamente das três UPA’s da Prefeitura da Serra (Castelândia, Serra-Sede e Carapina).
O resultado é a superlotação das unidades gerenciadas pela Prefeitura, que não dá conta do grande volume de pacientes em busca de auxílio médico. Em recente podcast feito pelo Jornal Tempo Novo, o próprio prefeito Sergio Vidigal listou o fechamento do Pronto Socorro do Jayme como um dos itens que tem dificultado a gestão de saúde na cidade.
A Prefeitura da Serra também já revelou em vários momentos que a estrutura de saúde pública municipal acaba recebendo pacientes de outras cidades, em especial, Vitória e Cariacica; devido a universalidade do acesso a saúde no Brasil, a Prefeitura não pode restringir o atendimento somente aos moradores da Serra, e por isso acaba pagando a conta de outras cidades, pois apesar do sistema ser único, tal como preconiza o SUS, os orçamentos municipais são independentes e dimensionados para a demanda da cidade, e não da macrorregião, caso esse da Grande Vitória.
Ou seja, o Pronto-Socorro do Jayme que sempre serviu de válvula de escape tanto para a população da Serra bem como das outras cidades, foi encerrado sem previsão de retorno, causando um afogamento do sistema de saúde na Serra, que pelo menos desde a saída dos médicos cubanos, já vinha dando sinais de exaustão. Desde sua idealização e inauguração em 2013, ao custo da época de R$ 165 milhões, o Jayme foi pensando como uma solução para desafogar a demanda por atendimento de urgência e emergencial de todo o estado.
Durante a pandemia, o hospital se tornou referência no tratamento da doença e ficou por conta. Esperava-se que após o controle da enfermidade, tal como o período que vivemos hoje, desde a virada de 2021 para 2022, o Governo fosse devolver ao Jayme e a população, o Pronto Socorro. Diante da resposta prestada pela assessoria, fica cristalino que o Jayme continuará de portas fechadas para receber pessoas que necessitam de atendimento rápido, e, portanto, jogando toda a pressão da região metropolitana nas costas dos serranos, que devem continuar a saga em busca de atendimento nas UPA’s e vão continuar pagando a conta das outras cidades, das quais não possuem a estrutura que a Serra dispõe.
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