João Loyola Pereira Borges foi um dos professores mais representativos da história da Serra. Atuou em um período de profunda miséria humana e fuga de intelectuais da cidade. E por insistência e amor com a Serra, foi o educador de um amplo número de alunos que no futuro seriam os responsáveis por tirar a Serra da obscuridade e colocar a cidade nos trilhos do desenvolvimento.
João Loyola foi o primeiro professor ‘multimídia’ da Serra, educou futuros professor, políticos, juízes e pessoas notáveis do Espírito Santo. Foi um ponto de convergência entre as famílias políticas da Serra que nutriam rixas entre si. Devido sua inteligência e articulação, era a pessoa responsável por recepcionar personalidade e autoridades que visitavam a Serra; educou e alfabetizou milhares de crianças no município em meio às penúrias de 120 anos atrás; no final da vida, foi o diretor do Grupo Escolar mais importante do ES, consagrando-se, portanto, em um dos professores mais importante da época. João Loyola foi fundamental na preservação e incentivo cultural e artístico da cidade, e aos 49 anos, terminou sua trajetória de vida autenticamente serrana.
Nota editorial: João Loyola foi um verdadeiro exemplo de professor no sentido mais humanístico da palavra, porém, é importante ressaltar que este texto não visa romantizar as mazelas que inúmeros professores vivem diariamente no Brasil. A categoria precisa de investimentos, estrutura e valorização. Logo, as reinvindicações – já bastantes conhecidas no Brasil – por melhorias no sistema de educação são absolutamente legítimas. Muitas vezes um professor é verdadeiro herói, mas não devia ser assim. No que pesa a louvável sensibilidade individual, mas quando vemos um educador tirar do próprio bolso para alimentar um aluno, por exemplo, é sempre sinal de gravíssima falha social por parte do poder dominante e regulador.
Feito este importante adendo, vamos à trajetória de vida desse serrano de coração e alma, que educou toda uma geração de futuros líderes. João Loyola nasceu no dia 04 de maio de 1873, filho do casal Henrique de Loyola Pereira e Anna da Silva Borges Pereira. Portanto, João Loyola é cunhado do personagem abordado na reportagem anterior, o coronel libanês João Miguel que casou com Anna Borges Pereira Miguel, irmã de João Loyola.
Conta-se que Henrique e Anna se encontravam em Maracapuaba, uma antiga região da cidade, distante 5 km de Serra Sede, na residência dos pais dela, o major João da Costa Silva Borges e Don’Ana, quando o futuro professor-destaque da Serra, João Loyola, resolveu que era hora de entrar no mundo. Imediatamente o pai enviou mensageiro aos avôs paternos do menino, o juiz municipal Ignácio de Loyola Pereira e Luíza da Conceição Pereira, que logo viajaram para o local de nascimento do novo neto. Assim rodeado pelos avôs, João Loyola nasceu.
Advindo da união de dois troncos familiares muito tradicionais na Serra, os Loyolas e os Borges, o pequeno João antecedeu e também sucedeu vários integrantes familiares que marcaram presença na vida política e cultural do município por anos. João Loyola nasceu em um período de forte ebulição brasileira, anos seguintes a sua chegada ao mundo, o Império brasileiro começaria a perder força e na mocidade de João Loyola, a República seria consumada.
Campinho da Serra é um dos bairros mais antigos que ainda existem na Serra. Atualmente a comunidade é tida como um bairro de periferia. Situado a pouco mais de 1 km de Serra Sede, Campinho é cortado ao meio pela BR-101, dividindo-a em partes I e II pela estrada e por um viaduto. Porém, naquela época, final do século XIX, a localidade era uma coisa só. Havia lá forte organização sociocultural, comércio e uma vida intensa que prosperava. Campinho da Serra mantinha festas e programas sociais próprios; no carnaval, apresentavam-se blocos e orquestras da comunidade. Cultura, dança, música e as artes de maneira geral, eram elementos presentes na vida daquele local.
Foi neste contexto que João Loyola cresceu; o que sem dúvida nenhuma foi importante na sua formação pessoal e profissional, sendo um dos seres humanos mais representativos na manutenção da cultura e tradicionalidade da Serra, preservando festas que duram até os dias atuais.
Foi também em Campinho da Serra, ao lado de seus nove irmãos, que João Loyola teve o primeiro contato com a Educação, área em que iria militar pelo resto da vida, mesmo com as penúrias que o contexto lhe impunha. Em Campinho da Serra, João Loyola foi aluno do professor Manoel Laureano do Bonfim Júnior, em seguida foi para ‘a cidade’, Serra-Sede, para concluir o curso primário, sob a direção do latinista e prof. Manoel Correia do Nascimento.
Assim como a maioria dos filhos advindos das famílias mais abastadas da Serra, João Loyola iniciou os estudos na Serra, mas finalizou em Vitória, já que a capital dispunha de instituições de ensino adequadas para a formação profissional, enquanto a Serra não. Concluído o primário em Campinho e Serra-Sede, João Loyola foi aprovado com louvor no Ateneu Santos Pinto, em Vitória, uma escola tida como referência. Lá, concluiu o Curso de Humanidades. Assim, apto a ensinar, João Loyola preferiu voltar a Serra e difundir seus conhecimentos em Campinho da Serra, retornando ao local de sua infância. Atitude que demonstra a relação afetiva com a cidade, pois como professor, João Loyola poderia lecionar em qualquer lugar do Espírito Santo, já que havia escassez de mão de obra.
Casou-se aos 23 para 24 anos, num sábado de 1897, com a jovem chamada Grata, filha de Luiz Barboza Leão (uma proeminente figura política da Serra) e de Vitória Maria do Sacramento Leão. O novo casal construiu uma descendência solidamente preparada para a vida social e moral, nas pessoas de seus seis filhos: José Câncio, Durval, Lucilla, Luiz Henrique, Manoel Avany e Victória Maria (conhecida como Sinhá).
A história registra que outro filho, infelizmente veio a falecer. A morte prematura do filho de João Loyola foi registrada no Jornal ‘A Serra’ em 27 de novembro de 1910, com os seguintes dizeres (escrita adaptada ao português atual): “Com poucos meses de nascido, alou-se para o céu a 18 do fluente mês [novembro de 1910] o inocente Darly, querido filhinho do estimado professor João Loyola e da exma. sra. d. Grata Leão Borges, deixando os seus desvelados pais mergulhados na dor e nas saudades”.
Durante a juventude de João Loyola a Serra era um lugar que crescia e evoluía. Era chamada de ‘Atenas Capixaba’ em referência aos intelectuais capixabas que tinham origem na Serra. Estimava-se que 60% das pessoas de destaque do Espírito Santo, no campo das letras, música, justiça e política em Vitória, tinham raízes na Serra. Ocupavam mandatos, por exemplo, no Parlamento estadual ou tinham cadeiras na Academia de Letras do Espírito Santo e em outros espaços intelectuais e de poder. Esse período equivale às últimas décadas do século XIX.
Entretanto, o crescimento da Serra estava associado a Vitória, que experimentava um forte desenvolvimento urbano e social, com investimentos robustos do Governo Estadual. Quanto mais Vitória crescia, mais a Serra também absorvia desenvolvimento, uma vez que era o entreposto da capital, para quem vinha do norte do ES ou descia a região montanhosa pelo Rio Santa Maria em direção a Vitória, que registrava o trânsito de grandes canoas carregadas de toneladas de produtos agrícolas, movimentando não só a economia do comércio, bem como a própria agricultura serrana.
Porém tudo isso começou a mudar com a construção de outras rotas de comércio para a capital. A cada nova estrada, a Serra perdia movimento de pessoas e cargas. Esse processo de exclusão regional se intensificou com a construção da estrada de Ferro Vitória-Minas no início do século XX. De um lugar ativo, a Serra passou a experimentar grande obscuridade intelectual. Isso porque o escanteamento da cidade como rota de comércio para a capital causou um intenso êxodo de pessoas em busca de trabalho e oportunidades em outras localidades. Da Atenas Capixaba, em poucos anos a Serra se transformou em um rincão que prosperava a miséria e a escassez de todas as formas possíveis. João Loyola foi um dos poucos que insistiu na Serra como um lugar a se viver.
Durante seu quase meio século de vida, dos quais 30 foram dedicados a educar, João Loyola foi presença viva da elegância e do dinamismo altruísta, em vários locais do Município da Serra, como Campinho, Jacaraípe e Sede; e na parte final da vida, atuando na Capital do Estado. Na época, eram muito raros aqueles que se habilitavam para lecionar, ainda mais escolhendo a Serra como cidade de atuação. O historiador Galbo Benedicto Nascimento cita a importância de João Loyola ao inspirar vários alunos que no futuro se notabilizariam no ofício do magistério no município da Serra, tais como: Afonso Duarte do Nascimento – Fundão e Nova Almeida. Demétrio Pereira do Nascimento – Jacaraípe. Ignacio dos Santos Pinto – Timbuí. José Pereira Duarte do Nascimento – Queimado. João da Cruz Pereira da Fraga – Sede. Manoel Corrêa do Nascimento – Sede. Manoel Francisco Duarte do Nascimento – Sede. Presciliano do Nascimento Amaral – Campinho da Serra. Logo, portanto, aqui temos uma das importâncias estruturais de João Loyola na Serra: ele era o professor dos futuros professores.
Outro historiador, Clério Borges, elenca que pelas carteiras e salas de aulas do Professor Loyola passaram muitos serranos ilustres e que teriam grande participação na vida política da Serra e de outras cidades, como: Xenócrates Calmon de Aguiar (serrano que governou Colatina, foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e desembargador), Mirabeau da Rocha Pimentel (Promotor, juiz, e secretário de estado três vezes), Francisco Clímaco Feu Rosa, José Celso Cláudio, Gerson Loureiro, Álvaro Castello, Rômulo Leão Castello (futuro Prefeito da Serra), Odilon Castello Borges, Robinson Leão Castello, Thaurion Rocha Pimentel, entre inúmeros outros. A influência de João Loyola na população da Serra do final do século XIX e início do século XX, em que faltava de tudo, foi importante para dar continuidade a vida cotidiana em um contexto de miséria extrema e êxodo de talentos. Ou seja, além de ter sido professor dos futuros professores, ainda foi o educador dos futuros promotores, juízes, advogados e políticos que influenciariam profundamente a Serra e o Espírito Santo nas décadas seguintes,
Um fato curioso sobre João Loyola era que ele publicava a nota de seus alunos no jornal ‘A Serra’. Na edição de 9 de outubro de 1910, o jornal registrava as notas de mais de 4 dezenas de alunos, dentre os melhores da turma, estava o futuro prefeito da Serra, Rômulo Leão Castelo. Este não é um aluno qualquer, na verdade trata-se de um dos líderes políticos mais emblemáticos e influentes da história dos 466 anos da Serra. Inclusive, percebe-se o quanto João Loyola foi importante na vida e formação de Rômulo, que na edição do Jornal ‘A Serra’, publicado em 6 de novembro, alunos exaltavam a figura paternal do professor, que na ocasião completava 20 anos de magistério. Um dele é o próprio Rômulo Leão Castelo, que na época tinha apenas 10 anos de idade. Dado a expressividade de Rômulo para a existência da Serra enquanto um local no mundo, a reportagem entendeu por bem, reproduzir na íntegra as palavras do então futuro prefeito da Serra, direcionadas a João Loyola, que inicia com o título “Uma data memorável”:
Fez no dia 5 de novembro, 20 anos de professorado o meu bom mestre João Loyola Pereira Borges, que é muito estimado por todos desta cidade. Imaginem, durante esse tempo, quanto ele não tem gasto a paciência! Quanto não tem ensinado nesses 20 anos de serviço! Quantas mágoas não tem sofrido por causa dos meninos que não querem aprender! Devemos nos educar, obedecendo sempre ao nosso querido professor. Ele nos ensina com um gosto extraordinário, com uma coragem invencível, para mais tarde sermos homens robustos. Não robustos na força bruta, mas na força da inteligência. Esses 20 anos foram para ele de alegrias e de aborrecimentos e como só durante as férias que ele descansa, peço a Deus que durante as férias, seja muito feliz. Novembro de 1910. Rômulo Leão Castelo.
Este texto é extraordinário na perspectiva histórica da Serra, pois denota a dificuldade enfrentada pelo professor na educação de seus alunos e registra, em especial na parte que Rômulo diz que João Loyola os ensina a ser homens “robustos na força da inteligência” a figura influente que de fato João Loyola foi para seus alunos, já que muitos deles foram efetivamente notáveis pessoas em várias áreas da vida humana, tendo a inteligência com ponto de confluência. O próprio Rômulo, que no futuro arquitetaria Jacaraípe, foi o maior deles na perspectiva geral da Serra. Uma curiosidade sobre a relação paternal entre João Loyola e o jovem Rômulo Leão Castelo, é que o professor era irmão de Ana Borges, por isso cunhado de João Miguel, o patriarca da família Miguel, que no futuro iriam protagonizar disputas políticas com Rômulo Leão Castelo.
Tudo indica que João Loyola não era um homem dado a brigas, disputas e política de grupos, e sim um ser humano voltado às artes, em especial a arte de educar e com profunda ligação sentimental com a Serra, transitando por diferentes troncos familiares rivais entre si da cidade, talvez sendo um ponto de convergências entre eles. Por isso e por outros aspectos elencados abaixo, João Loyola foi um professor tão importante para a vida na Serra.
O historiador Michel Dal Col cravou uma importante qualificação a João Loyola: o primeiro professor multimídia da Serra. Por meio de estudos nos arquivos da Biblioteca nacional digital, Michel registrou a importância de João Loyola nas discussões políticas e as ações culturais da Cidade da Serra entre os anos 1910 e 1911, que ficaram gravados na história pelo jornal “A Serra”, o primeiro jornal impresso do município.
“É possível, dentre muitos assuntos, ver o quanto a figura do professor João Loyola era atuante no universo cultural e político da cidade. Na flor da idade, aos 38, 39 anos, e com um vigor impressionante, ele atuava como líder cultural, professor, orador em momentos importantes e até ator. Em suma, um homem vivido e engajado na realidade da Serra daquele tempo”, explicou Michel ao Jornal Tempo Novo em maio de 2012 para a série ‘Protagonistas da Serra’.
João Loyola era comumente escalado para recepcionar visitantes ilustres na Serra; uma dessas vezes foi noticiada pelo jornal ‘A Serra’ no dia 25/09/1910, que mencionava uma homenagem feita por ocasião da visita do governador do Espírito Santo, Jerônimo Monteiro, quando regressava ao Estado depois de uma viagem. Dentre os vários oradores que discursaram, lá estava o Professor João Loyola, que falou “brilhantemente” durante o evento, bem como registrou o jornal da época.
Um importante momento noticiado pelo jornal “A Serra” e destacado por Michel Dal Col foi a retomada da “Sociedade Dramática Francisco Salles”. Este tipo de entidade era muito comum em várias cidades do Espírito Santo desde o Século XIX. Seu principal objetivo era entreter a comunidade com peças teatrais. Dentre os ‘pais da ideia’ estava à figura de João Loyola, que foi eleito presidente do grupo. O próprio jornal publicou em várias edições um pedido de doação para seus leitores, com o objetivo de incentivar o projeto na construção do espaço-sede da Sociedade Dramática. João Loyola não só estava à frente do processo, mas também era um dos principais doadores financeiros.
A “Sociedade Dramática Francisco Salles” foi um movimento de cunho cultural que visava expandir a intelectualidade e as artes na Serra, envolveu muitos outros moradores e líderes políticos das principais famílias da cidade. Mais uma vez, percebe-se que João Loyola era um ponto de convergência entre as famílias políticas poderosas da Serra, que apesar de brigar entre si, tinham em João Loyola um homem de convívio e confiança.
A sede da Sociedade Dramática ficava situada na atual Avenida Getúlio Vargas, em direção à atual Praça Barbosa Leão, era um casarão onde se realizavam as apresentações teatrais pela comunidade, e funcionou também o antigo cinema. A construção foi demolida para dar lugar a um aterro de ampliação da via no final da década de 1940. O projeto é tido como um marco cultural na cidade, tendo João Loyola como um dos idealizadores e promotores.
Já no contexto da ‘Sociedade Dramática Francisco Salles’, o Jornal ‘A Serra’, noticiou também na edição de 15/01/1911, a apresentação de peças teatrais, que teve como encerramento um show da “Philarmônica Estrela do Norte”. Uma das peças, “A Orphã de Goyaz”, contava com oito atores, dentre os quais o versátil Professor João Loyola, no papel de “Comendador Mattoso”. O Jornal noticiou que os atores foram aplaudidos “provando assim o bom gosto e dedicação pelo palco e o desejo de verem progredir o nosso torrão natal [Serra]”.
João Loyola ainda foi membro importante da banda de música Estrela do Norte. Essa banda é citada por Maria Antônia Pimentel (Toninha) – primeira filha de Mestre Antonio Rosa – como uma das quatro principais bandas que abrilhantou a história da Serra. Esse agrupamento musical do qual João Loyola era tesoureiro em 1910, tem uma origem muito nobre. Foi criado pouco depois da Lei Áurea (1888), quando defensores do abolicionismo e os próprios negros livres, se juntaram para formarem uma banda para contribuir culturalmente nos festejos de São Benedito. Na época a ‘banda da cidade’ por assim dizer, Recreio dos Artistas, tinha um caráter elitista, e se recusavam a tocar nesta data festiva por considerarem ‘mera brincadeira de senzala’. Por isso, a banda Estrela do Norte é um levante anti-escravidão na Serra do qual, anos depois, João Loyola seria incorporado.
Michel Dal Col diz ainda que “pelo que se pode verificar pelos registros do jornal ‘A Serra’, Joao Loyola era uma espécie de “multimídia” do início do Século XX serrano”. Ensinava aos pequenos e jovens na escola local, discursava em momentos políticos importantes da região e separava tempo para atuar com líder teatral e, mesmo, como ator. “As imagens de João Loyola que ficaram, a partir da leitura deste antigo jornal, são de um homem alegre, culto, animado para as festas e a cultura do entretenimento”, completa o historiador.
A vida de João Loyola seguiu nesse ritmo, educando quantos alunos fosse possível em um período de penúria social extrema, sem deixar de lado sua veia cultural e artística, alimentado a tradicionalidades da Serra – cidade pela qual militou por toda a vida. Com uma reputação formada como um educador de referência estadual, em 1920, o Professor Loyola foi nomeado para dirigir o Grupo Escolar Gomes Cardim, considerado “Escola Padrão”, em Vitória.
João Loyola foi indicado diretamente por um ex-aluno, Mirabeau da Rocha Pimentel que na época exercia a Secretaria de Instrução da equipe de governo de Nestor Gomes, então presidente do Estado (como era chamada a função). Isso mostra mais uma vez a influência do professor junto a seus alunos, que ocuparam cargos e funções das mais distintas da época, e não se esqueceram da figura do Professor Loyola. Talvez, seja essa uma das principais características de João Loyola, foi o verdadeiro educador de uma geração que iria governar a Serra e participar ativamente da vida política e cultural do Espírito Santo.
Para dar dimensão ao leitor da importância de dirigir o Grupo Escolar Gomes Cardim, é necessário voltar 12 anos. Inaugurado na cidade de Vitória em 1908, o Grupo Escolar Gomes Cardim era sinônimo de modernidade. Antigamente existiam as chamadas ‘escolas isoladas’ que eram vistas como uma herança do passado imperial. Naquela época o ideário republicano entendia esse modelo escolar como ultrapassado e obsoleto. Para tanto, foi criado o Grupo Escolar em São Paulo, do qual equiparava em alguns aspectos meninos e meninas (geralmente nas escolas existiam consideravelmente mais vagas para meninos do que para meninas, o que dificultava em muito o acesso de mulheres à educação). Além disso, apresentavam um formato articulado de educação, com grade curricular mais moderna e aprofundada, valorizando ideias reformistas republicanas. E obviamente, recebendo mais recursos públicos para infraestrutura escolar.
No ES o Grupo Gomes Cardim demorou para engrenar e ficou aquém de outros estados, bem como pontua Elezeare Lima de Assis, em sua dissertação de mestrado em História, pela UFES, publicado em 2014. Mesmo assim, era o que de melhor havia no Espírito Santo. Em sua inauguração, por exemplo, o grupo escolar foi apresentado no mesmo dia da inauguração do reservatório de água e da iluminação elétrica para a capital.
Com o passar do tempo o grupo escolar ganhou tamanho e transformou-se em uma escola voltada as elites de Vitória. Seus profissionais eram escolhidos a dedo pelo próprio governador do estado. Por isso, não é exagero afirmar, que o professor responsável pela direção do Grupo Escolar, na verdade era o professor mais prestigiado do estado. João Loyola é muitas vezes citados pelos jornais da época como um ilustre e respeitado professor, o que demonstra que ele conseguiu romper os limites da Serra, cidade que atuou em praticamente toda a sua vida.
João Loyola permaneceu na direção da escola até sua retirada do mundo, em uma quinta-feira chuvosa de 2 de novembro de 1922, depois de mais de 30 anos de atividades no magistério, sem férias ou licenças. Foi uma morte prematura, aos 49 anos, registrada pelo Jornal Diário da Manhã, na edição do sábado. O Jornal faz uma síntese de quem foi João Loyola, afirmando que ele “nasceu para a bondade e para a virtude […] vivendo na sua pequena cidade (Serra) que o viu nascer e assistiu sua morte, dedicou 30 anos de sua vida a causa do magistério, guiando as gerações mais brilhantes de que hoje se tem no Estado”. Percebe-se que já naquela época, João Loyola era reconhecido como o professor das pessoas notáveis do estado, um serrano nascido e criado em Campinho da Serra.
Na edição de terça-feira, dia 07 de novembro de 1922, o mesmo jornal publicou um extenso texto, em que lamenta a morte de João Loyola. Nele, o jornal afirma que “são inestimáveis os serviços prestados a infância capixaba, e portanto, a Pátria […] com o seu falecimento a Serra perdeu um dos professores mais dedicados e cultos […]”.
A memória de João Loyola foi eternizada pela Academia de Letras e Artes da Serra, que o homenageou com o patronato de sua Cadeira n° 23, em 28/08/1993. Outra importante homenagem prestada ao professor das gerações serranas foi a Escola que leva seu nome, situado em Serra Sede. A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor João Loyola está localizada na Avenida Getúlio Vargas. É mantida pelo Governo do Estado do Espírito Santo, pertence à Secretaria Regional de Educação (SRE) de Carapina. As atividades letivas iniciaram em 1937, sendo inaugurada em 1938 com a nomenclatura de Grupo Escolar Professor João Loyola. No ano de 1976, mudou para Escola de Primeiro Grau Professor João Loyola. Através da Portaria E nº1838/82 de 23 de novembro e a Resolução do CEE 41/75 foi aprovado o ensino de 1ª à 4ª série. Em 1991 foi transformada em Unidade do Ensino de 1º Grau – 1ª à 8ª série. Em 12 de junho de 2002 foi reconhecida como Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor João Loyola.
Este texto é um trabalho do jornalista Yuri Scardini, que contou com um laborioso trabalho de pesquisa e identificação. Foram utilizados os textos de acervo do Jornal Tempo Novo, em especial a edição 967 de 2011, da série ‘Protagonistas da Serra’ escrita pelo advogado e historiador João Luiz Castello Lopes Ribeiro com colaboração do também historiador, Michel Dal Col. Contou também com as seguintes publicações: ‘Histórias da Serra’, de Clério José Borges; Patronos Academia de Letras da serra – Aleas. Além de outras produções literárias e acadêmicas dos autores: Naly Miranda, Galbo Benedicto Nascimento e Elezeare Lima de Assis. Por fim, foi realizado um trabalho de coleta de dados em arquivos históricos da Biblioteca Nacional Digital, nos extintos jornais ‘Diário da Manha’ e ‘A Serra’; Por fim, foram consultadas informações da Revista Ágora, Vitória, n. 18, 2013, p. 65-76.
Outra personagem com sobrenome Loyola, que não poderia deixar de ser citada é a professora Evany Lucas Loyola, que dedicou toda sua vida ao ensino e a causa da educação para crianças e adolescentes. Evany foi pioneira na implantação do Ensino Particular na Serra. A reportagem tentou contato com ela, porém não conseguiu um retorno. O que é justificável, já que Dona Evany – como é conhecida – é uma senhora de 94 anos e que necessita de todos os cuidado possíveis, especialmente em vista da escalada de contaminação da Covid-19 no ES.
Evany Lucas Loyola nasceu em 1928 e de acordo com Clério Borges, ela chegou a Serra quando tinha 6 anos, tendo ingressado no Magistério Público aos 18 anos de idade, em 1946, lecionando na extinta Escola Mister, em Jacaraípe. Dona Evany foi casada com o senhor Carlos Corrêa Loyola, homem público, de família tradicional da Serra, também preocupado com os interesses administrativos do município, inclusive, chegou a ocupar, por três mandatos, uma cadeira de vereador na Câmara Municipal da Serra. Atualmente a biblioteca pública de Valparaíso leva seu nome. O sobrenome Loyola advém, portanto, do marido. Não foi possível obter informações sobre hipotética ligação consanguínea de Carlos Loyola com João Loyola.
Da união de Dona Evany com Carlos Loyola nasceram sete filhos. Eryx Guimarães, assim como Clério Borges, narrou que Dona Evany ainda jovem, formou-se professora e após concurso público estadual, escolheu sua primeira escola em Jacaraípe onde permaneceu como regente de classe durante 18 anos. “Sua dedicação sempre foi plena na boa aplicação dos métodos e técnicas de ensino”, disse o ex-prefeito para o Jornal Tempo Novo em 1998.
Em 1965 por necessidade de ampliar os horizontes estudantis de seus filhos, dona Evany transferiu-se para Vitória quando enfrentou vestibular e graduou-se em pedagogia: “sempre ampliando seus conhecimentos”, diz Eryx. Nesse período colaborou como auxiliar de secretaria na Escola Bob Kennedy, hoje Mascarenhas de Moraes e Adão Benezath. Logo após torna-se pedagoga, dona Evany foi nomeada diretora do Complexo Escolar de Goiabeiras e depois da Escola Almirante Barroso onde se aposentou em 1982 com 35 anos de efetivo exercício na área educacional.
Logo após tomar-se pedagoga, dona Evany foi nomeada diretora do Complexo Escolar de Goiabeiras e depois da Escola Almirante Barroso onde se aposentou em 1982 com 35 anos de efetivo exercício na área educacional. Na área particular, poucos anos antes de se aposentar do serviço público, Dona Evany fundou em 05 de agosto de 1978 uma pré-escola, chamada de Branca de Neve, consagrando a professora como pioneira do ensino particular na Serra.
A escolinha Branca de Neve seria o embrião para que no futuro fosse criado o Centro Educacional Valparaíso (CEV), escola pela qual este jornalista que vos escreve foi aluno por 11 anos. O CEV foi o responsável pela educação estudantil de milhares de crianças e adolescentes de toda a macro-região de Parque Residencial Laranjeiras. Eryx Guimarães acrescenta: “Dona Evany, mulher decidida, professora eficiente, sempre venceu os desafios que surgiram em sua carreira de educadora. Acumulou muita experiência e conhecimentos na arte de ensinar. Com toda essa sabedoria estimulou suas filhas Maria Ângela e Elianete a transformar sua Escolinha Branca de Neve, em Valparaíso, no Centro Educacional de Valparaiso, com ensino de qualidade, da pré-escola até o segundo grau”.
O ex-prefeito da Serra ainda lembrou que Dona Evany contribui com sucesso, na extensão da 5ª à 8ª séries na Escola Mundo Livre, uma das mais tradicionais, respeitadas e de grande eficiência no ensino fundamental, de propriedade de sua filha Virgínia. “À mestra dona Evany as homenagens e gratidão do povo serrano”, finalizava Eryx na coluna Terra Serrana publicada pelo Jornal Tempo Novo em 1998.
Nos anos 2000 houve uma explosão das unidades de ensino particular na Serra, tendo Dona Evany como a primeira pessoa a investir e acreditar na Serra como uma cidade empreendedora e geradora de riqueza e prosperidade. Ela foi responsável pela educação direta de muitos serranos no ensino público; e depois de fazer uma carreira vitoriosa, decidiu se aventurar na educação privada. Sua criação, a escolinha Branca de Neve, seria o ponto de partida para que no futuro fosse criada uma das Faculdades mais respeitadas do Brasil, a UCL, que tem como sócios Maria Ângela Loyola de Oliveira e Bruno Loyola Del Caro, filha e neto respectivamente, de Dona Evany.
Apesar da reportagem não ter tido êxito na missão de estabelecer a existência ou não de uma relação parental entre João Loyola e Carlos Loyola/Evany Loyola, fica aqui o registro histórico da natureza do sangue Loyola para a educação, tendo a Serra como a cidade beneficiada pela existência dessas pessoas, que tanto contribuíram para que o processo civilizatório avançasse na cidade, processo esse, que por natureza humana, passa pela educação.
Nota editorial: Para enriquecer este material jornalístico, foram utilizadas informações colhidas do acervo do Jornal Tempo Novo (que pode ser acessado clicando aqui), por meio de reportagens e também da coluna ‘Terra Serrana’ assinada pelo ex-prefeito da Serra, Eryx Guimarães em 1998. Além destes, utilizou também trechos do livro ‘Histórias da Serra’, do historiador Clério Borges. Além das reportagens de acervo likadas acimas, em 2015 o Jornal Tempo Novo fez uma entrevista com Dona Evany, que pode ser conferida na íntegra clicando aqui.
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