Ana Paula Bonelli
Uma jovem de 22 anos vive um drama nas ruas de Laranjeiras na Serra. L. L. F. N. (ela terá identidade preservada por questões de segurança) fica vendendo doces na calçada em frente ao ginásio poliesportivo há dois anos e entre seus pertences estão apenas um colchão, poucas roupas de cama e de uso pessoal, um rádio e três cães. O detalhe é que a mulher pesa em torno de 200 quilos, o que dificulta o simples ato de caminhar.
L. não consegue se levantar sozinha por causa do sobrepeso e conta com ajuda de seu companheiro, E. S. O., que a auxilia inclusive na hora de tomar de banho e de se deslocar para fazer as necessidades fisiológicas. Quando chove, seu companheiro cobre o local com uma lona. Quando o sol está a pino, é a sombra de uma árvore que protege a jovem.
“Tomamos banho aqui na rua mesmo, com balde e de roupa. Para fazer as necessidades é no meio do mato, pois não temos banheiro para usar. O Edson me ajuda, compra comida e me auxilia, já que não consigo nem levantar. O pessoal da Igreja Evangélica Vida (que fica em frente ao local onde a jovem permanece) nos doa água. O pouco de dinheiro que conseguimos é com a venda das balas e mariolas e com o meu companheiro vigiando e lavando carros.
A triste história da jovem começa quando ela ainda era adolescente e morava com sua mãe em Nova Rosa da Penha (Cariacica). Segundo L., ela precisou deixar a casa após o padrasto matar sua mãe e jurar ela e o irmão de morte.
“Fui morar com uma tia, em Itacibá (também em Cariacica). Depois que meu irmão casou, minha tia me colocou na rua. Daí tive contato com as drogas e a prostituição, foi quando conheci o E. Ele me trouxe para a Serra e fomos morar em Feu Rosa, onde pagávamos um aluguel de R$ 350. Só que não demos conta de que arcar com as despesas de aluguel, água, luz e alimentação. Como não tínhamos renda, não conseguimos alugar outro local e viemos parar aqui nesta situação”, conta a jovem.
Mesmo vivendo em condições precárias, a mulher sonha: quer casar, ter uma casa onde possa cuidar com dignidade de seu companheiro, seus cães e dela mesma. “Todo ser humano merece viver com dignidade, quero ter um cantinho nosso para cuidar da nossa família e de nossos cachorros, que são nosso tesouro”.
“Sou ser humano como qualquer pessoa”
Hoje, a jovem não faz uso de drogas, pois fez tratamento e pede socorro. Ela pede uma cadeira de rodas para se locomover e também algum médico que possa ajudar a cuidar do problema da obesidade. “Tenho muita ansiedade e também problemas na tireóide. Gostaria de saber se é possível eu fazer uma cirurgia bariátrica para perder peso e ter uma vida normal, mas até hoje não consegui atendimento pela rede pública. Quando passam por mim sinto que as pessoas têm nojo e medo. Mas eu digo: não mordo, sou ser humano como qualquer pessoa”, destaca.
Quem quiser ajudar, o casal precisa de alimentação pronta, pois não tem onde cozinhar, ração para os cães, roupas de cama, roupas de uso pessoal e itens de higiene pessoal.
A reportagem procurou a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura da Serra que disse que esta moradora foi assistida por equipes da Assistência Social e da Saúde, onde foi auxiliada na confecção de novos documentos e inscrição em programas sociais dos quais ela tem direito. Além disso, agentes de saúde estiveram no local, realizaram os procedimentos padrões e foi ofertada consulta na Unidade de Saúde, que foi recusada pela moradora.
Qualquer cidadão pode acionar o Serviço Especializado em Abordagem Social por meio do telefone 99517-7869. Vale lembrar que a Abordagem Social encaminha para diversos serviços públicos, inclusive o abrigamento, que não pode ser compulsório.
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