A lama de minério que vazou após o rompimento de duas barragens da Samarco (Vale + BHP Billiton) em Mariana que vem devastando o rio Doce vai parar no mar. Depois disso deve se dispersar por parte do litoral capixaba, entre a foz do rio em Linhares e Vila Velha. E isso inclui todos os 24 km de litoral da Serra.
A informação é do ativista Paulo Randow, um dos organizadores da Descida Ecológica do rio Doce. Na rede social Facebook, Paulo argumentou que mesmo que o resíduos não cheguem nos próximos dias ou semanas, a cada próxima temporada de chuva forte na bacia do rio deve trazer gradativamente os 62 milhões de metros cúbicos de poluentes, que irão se dispersar.
Na publicação, Paulo argumenta que esse é o padrão natural dos sedimentos (pedaços de rocha, areia e outros materiais mais finos) que o rio joga no mar. “O rio Doce irá lançar a lama a mais de 7 km mar adentro e as correntes marítimas do nosso litoral, chamada Giro de Vitória, irá levar essa lama no fundo do mar até a capital”, explica.
André Ruschi: consequências podem durar um século
Também pelo Facebook, o ecólogo André Ruschi, que dirige a Estação de Biologia Marinha de Santa Cruz, confirma a tese. André é filho e herdeiro intelectual do patrono nacional da ecologia, o cientista capixaba Augusto Ruschi.
“Esta sopa de lama tóxica que desce no rio Doce, descerá por alguns anos toda vez que houver chuvas fortes e irá para a região litorânea do ES, espalhando-se por uns 3.000 km2 no litoral norte e uns 7000 km2 no litoral ao sul, atingindo três unidades de conservação marinhas – Comboios, Área de Proteção Ambiental Costa das Algas e Refúgio da Vida Silvestre de Santa Cruz, que juntas somam uns 200 mil hectares no mar”, detalha.
A reserva da Costa das Algas, citada por Ruschi, no litoral da Serra abrange o trecho de mar entre a praia de Capuba e a foz do rio Reis Magos. “Os minerais mais tóxicos e que estão em pequenas quantidades na massa total da lama, aparecerão concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez uns 100 anos”, estima.
Mar mais pobre
Para Ruschi o desastre tem proporções ainda maiores do que as dramáticas imagens da destruição do rio Doce, sua fauna e flora, além das vidas e patrimônios perdidos nos vilarejos das montanhas de Minas Gerais.
“O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da região sudeste e o eixo de ½ do Oceano Atlântico Sul está comprometido e pouco funcional por, no mínimo, 100 anos!”, lamenta.
Ruschi defendeu o fechamento permanente da Samarco, empresa que considera um perigo para a segurança nacional. “Barragens e lagoas de contenção de dejetos necessitam ter barragens de emergência e plano de contingência. Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos? Qual a legalidade da licença para operação sem a garantia de segurança para a sociedade e o meio ambiente?”, questiona.