Por Yuri Scardini
Demorou, mas após três anos, chegou ao ES. Estamos falando da Operação Lava Jato, que na última terça-feira (11) atingiu em cheio uma série de políticos capixabas. Entre eles, quatro dos mais graúdos, estamos falando do atual governador Paulo Hartung (PMDB), do ex-governador Renato Casagrande (PSB), do senador Ricardo Ferraço (PSDB), e do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS).
Vamos aos fatos, são três situações: Ricardo Ferraço é o único oficialmente investigado pela Lava Jato, sob acusação de ter recebido R$ 400 mil de caixa dois pela empreiteira Odebrecht, referente à campanha ao Senado em 2010.
Casagrande e Luciano foram citados em delações premiadas e tiveram petições para abertura de inquérito à Justiça Federal. Segundo o delator, a Odebrecht teria repassado R$ 2,3 milhões para as campanhas eleitorais de Casagrande e Rezende;
Já a aparição do nome do governador Hartung foi fruto de uma delação do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto da Silva Júnior. Segundo consta, teriam ocorrido “pagamentos indevidos” a Hartung para as eleições de 2010 e 2012. O STJ ainda irá decidir se Paulo Hartung será ou não investigado. Logo, até então não há processo de Hartung aberto na Lava Jato e nenhum dos citados são réus.
Tais situações são como que novas para a classe política capixaba, portanto, as implicações práticas que isso terá no cenário eleitoral de 2018 são desconhecidas, mas certamente é um ingrediente a mais para embolar o quadro eleitoral, já bastante “animado”, diga-se de passagem.
Fato é que, de acordo com a dinâmica do poder, onde um perde, o outro ganha. Dentro do que está colocado, quem poderia “ganhar” com esse possível novo cenário imposto pela Lava Jato? Já que os principais atingidos fazem parte do núcleo da elite de Vitória, da para dizer que os políticos da Serra podem ganhar mais força.
Na Serra o caldo engrossa bastante
Nesse cenário pró Serra, vale lembrar o prefeito, Audifax Barcelos (Rede), que vem ensaiando uma candidatura ao Governo do Estado desde o fim da eleição de 2016.
Audifax vem fazendo um jogo ambíguo. Ao mesmo tempo em que aparece com a turma anti-Hartung, Audifax nunca fechou as portas para o governador. O prefeito dialoga com os dois grupos, e poderia se colocar como um nome de consenso entre os grupos. Ademais, diante deste novo cenário, a Rede nacional pode ver em Audifax um nome real para se investir e com Marina abraçando o prefeito para valer, o jogo pode ficar favorável ao prefeito.
A senadora Rose de Freitas, desafeto de Hartung e nome forte do PMDB, também surge com força no cenário eleitoral para a vaga de governador, podendo contrair o apoio das lideranças que não caminham com Hartung. Outro que pode ganhar musculatura é o vice-governador César Colnago (PSDB), que vem tendo dificuldade de se encaixar no quadro eleitoral e pode surgir como a solução “limpa” do grupão de Hartung. Inclusive, também não parece haver portas fechadas à Colnago e ao PSDB no outro lado do tabuleiro, no time dos “não-Hartung”.
É muito difícil analisar o tamanho do desgaste que esse fato irá causar até as eleições de 2018, mas esses processos irão rolar, e a cada capítulo, um novo arranjo pode se formar. Ainda mais falando de Lava Jato. Muito se fala em “voos maiores” de lideranças como Vidigal e Audifax, talvez essa seja a oportunidade que estava faltando. Falando em Vidigal, com Ferraço sendo investigado pela Lava Jato, e o desconhecido fim que isso possa ter, o ex-prefeito da Serra teria forças para rivalizar uma vaga de senador?
Se havia dúvidas no tabuleiro de 2018, agora tem ainda mais. No curto prazo, o enfraquecimento de Hartung rebate nas eleições do PT, da qual o candidato a presidente estadual da sigla, Givaldo Viera, ganha mais fôlego com a campanha de retirada dos petistas do governo Hartunguista e com a eminência de um palanque polpudo com Lula.