Por Yuri Scardini e Bruno Lyra
Vereador por quatro mandatos consecutivos entre 1997 e 2012 e presidente da Câmara no Biênio 2007/2008, Aloísio Santana (PMDB) travou recentemente uma feroz luta contra um câncer. Em fase final de recuperação da doença, ele ensaia um retorno ao cenário político e revela as suas impressões sobre o cenário local e estadual.
No caso do desastre industrial de Mariana, como o senhor enxerga a responsabilidade das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton?
Não dá para colocar a culpa só na empresa. Tinha que ter uma fiscalização melhor do poder público. A nível nacional, não só de estado, essas empresas tem um conforto muito grande porque injetam muito dinheiro na campanha dos políticos. Faltou uma resposta melhor, como as sirenes. Mas sem essas empresas o Espírito Santo quebraria.
E o desempenho do governador Paulo Hartung (PMDB) nestes dez primeiros meses dessa nova gestão?
Conheço Hartung há 20 anos. A estratégia dele é notória, segura os primeiros anos, não abre a guarda, enxuga a máquina e é pragmático com a situação fiscal. Hartung vai capitalizando para trabalhar com dinheiro em caixa. As coisas só acontecem de fato nos dois últimos anos da gestão.
E a briga de Hartung com o ex – governador Renato Casagrande (PSB) ?
É ótima. Não podemos ter uma democracia quando o político consegue amarrar os adversários para navegar em águas tranquilas e cerceia a vontade da população em ter outro nome para escolher. Essa prática de politicagem foi muito explorada tanto por Hartung como por Vidigal (PDT). Já Casagrande tem uma visão mais macro da política, é um grande estadista, promoveu uma renovação não interferindo nas candidaturas dos líderes emergentes, como Luciano Rezende (PPS) em Vitória, Juninho (PPS) em Cariacica e Audifax (Rede) na Serra.
Como o senhor avalia esses quase três anos de governo Audifax ?
Audifax é um excelente administrador, um cara inteligente e de fácil trato, mas um péssimo gestor em contratação de pessoal. Não vou citar nomes, mas determinadas pessoas e secretários não estão nem aí para a Serra, tem uma vida desvinculada com a cidade. Eles não vêm de Vitória e Vila Velha para ganhar pouco, têm os melhores cargos e comissões, isso gera insatisfação com o munícipe que causa prejuízo político para Audifax.
O que o senhor pensa sobre a polarização de Audifax e Vidigal?
A Serra só ganha com isso, o comodismo não é bom para nossa sociedade, quando não se tem adversário o político fica relaxado demais. Concorrência é bem vinda. Isso não é ruim, pois agora temos os dois. Ruim era quando tinha só o Vidigal. Aliás, Vidigal já foi prefeito três vezes, atualmente é nosso Deputado Federal. Está na hora dele alçar voos maiores, como senado e até o para governador.
Uma possível aproximação entre Audifax e Vidigal não ajudaria a alcançar esses voos, colocando a Serra como liderança política do ES?
Temos um grande líder que se chama Paulo Hartung. Todas as lideranças emergentes de 12 a 15 anos pra cá passaram pelo crivo de Hartung, até o próprio Casagrande. O governador é o único com poder de colar os cacos quebrados entre Vidigal e Audifax. Casagrande ocupou o lugar de Vidigal na política. Era para o ex-prefeito da Serra ter sido o governador e hoje estaria no senado, mas naquela ocasião Sérgio preferiu trabalhar com os Max e fazer oposição a Hartung. Ele próprio tem consciência disso.
É possível terceira via na Serra? Há movimentos do PSDB, PT e talvez PSB…
Não vejo nenhum nome. Bruno Lamas (PSB) é muito novo, cheio de aspiração. Mas como deputado eleito tem compromisso e responsabilidade grande, além da afinidade com o prefeito. É provável que o PSB indique o vice de Audifax. Vandinho Leite (PSDB) não é um nome viável, como candidato a deputado federal em 2014 não teve uma votação expressiva na Serra que o alçasse a essa posição. Já o PT tem nomes bons, tanto com Roberto Carlos ou Givaldo Vieira, mas eles têm só de 6 a 7% do eleitorado serrano. O PT tem outras aspirações no estado; para a Serra deve fechar algum acordo.
O senhor ajudou a alçar a vereadora Neidia Pimentel (PSD) à presidência da Câmara da Serra. Como vê a situação política na casa?
A vereadora Neidia me chamou e expressou a vontade de ser presidente. Julguei que tinha grande possibilidade, pois ela é aliada história de Audifax, nunca caminhou com Vidigal. Conseguimos juntar um grupo de apoio para levar a candidatura à frente. Depois vimos que não era a vontade de Audifax. Decidimos manter o projeto, afinal, não podemos fazer todas as vontades do prefeito. Acho que Audifax ganhou muito, teve a oportunidade de trabalhar em um ambiente controverso e exercitou bem a política. Hoje a Câmara está tranquila, tudo foi esclarecido.
É publico que o senhor foi acometido por um câncer…
Há sete meses fui diagnosticado com um câncer no reto. Graças a Deus existem procedimentos que puderam prolongar a minha vida. Na prática, tive que amputar o ânus e o reto, colocar um estoma – espécie de válvula – no meu abdômen, que passou a fazer a função do ânus. Operei e fiz várias sessões de quimioterapia. Acredito que estou livre da doença, mas terei que ter acompanhamento clínico nos próximos cinco anos.
Como foi encarar a morte de perto?
Estive muito debilitado, para ser sincero, pedi a Deus que me tirasse a vida. Houve momentos que julguei estar morto, tive alucinações. O tratamento é muito impactante para o corpo. É diferente de câncer de próstata, onde o homem está preocupado se vai perder a ereção ou não e dá mais atenção a esse tipo de câncer. Mas no reto o risco de morrer é o mesmo.
O senhor planeja voltar à política?
Estou tranquilo, forte psicologicamente e fisicamente me recuperando bem. Depois de 16 anos como vereador, você forma um grupo político e esse grupo tem me chamado. Acho que essa experiência com o câncer e o risco iminente de morte faz qualquer pessoa raciocinar sobre a vida, tenho certeza que um mandato de vereador irá me fazer bem. A política me dá força na luta contra o câncer.