Por Bruno Lyra
Domingo (05) completam dois anos do rompimento de rejeitos da extração de minério da Samarco (Vale + BHP Billiton) em Mariana. O maior desastre/crime ambiental do Brasil é também o maior da história da mineração no planeta.
Nos últimos dias, a Fundação Renova, criada pela Samarco para gerir as indenizações aos atingidos e fazer recuperação ambiental, tem reforçado a publicidade sobre suas ações. Fala que há 47 mil hectares em restauração florestal, já pagou R$ 500 milhões em indenizações e auxílios e que aplicou R$ 2,5 bilhões em recuperações e compensações.
Se for verdade, ainda assim soa como quase nada diante do caos ambiental, social e econômico gerado aos mineiros e capixabas. Em Mariana, os refugiados de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo – após perderem seus bens, a identidade e alguns até parentes – sofrem preconceito. São acusados de serem “come e dorme”, aproveitadores. É aculpabilização da vítima. É como dizer que uma moça foi estuprada porque usava roupa curta.
A lama depositada ao longo de 600 km do rio Doce, castigado pela pior seca já vista, agora é pó a intoxicar olhos, pele e respiração dos que vivem no vale. Os rejeitos no leito do rio e a contaminação com metais pesados na água afetam agricultura, criação de animais e expõe ao risco populações das cidades que não têm outra fonte de abastecimento.
No mar, a lama grossa inviabilizou a pesca na foz do rio Doce, até então a mais piscosa do litoral capixaba. A lama fina, já se estende de Abrolhos no Bahia, a Cabo Frio no Rio de Janeiro, incluindo toda a faixa de mar do ES. Essa lama seguirá descendo pelo rio Doce por não se sabe quantos anos.
Regência, vila histórica e turística, ficou moribunda. Pescadores agora criam galinha. Donos de pousadas, restaurantes, dançaram. O surf perdeu um de seus picos no país. O baque na economia capixaba é monumental com a paralisação da Samarco e isso chegou forte a Serra, cidade onde estão prestadoras de serviços e fornecedoras à siderurgia em Anchieta.
O não pagamento de multas por parte da Samarco e suas controladoras, Vale e BHP, junto com a suspensão do processo criminal, encerram o sentimento de injustiça. Background do consumo e consumismo planetário, o arranjo minero – siderúrgico dá mostras de ser mais forte que o próprio Estado brasileiro.