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Mais um trecho de Mata Atlântica é devastado nas montanhas de Domingos Martins

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Domingos Martins
Foto 1 e capa: Desmate ocorreu atrás de oficina mecânica perto do portal de acessso ao centro de Domingo Martins. Crédito: Divulgação

Mais um trecho de Mata Atlântica foi devastado em Domingos Martins. Desta vez, a destruição ocorreu às margens da principal estrada (Rod. João Ricardo Scorling)) que liga o centro urbano do município à BR 262, atrás do galpão de uma oficina mecânica.

Chama atenção o fato do desmate ter ocorrido num local de grande circulação de veículos e pessoas. Para ver a situação, basta atravessar portal de entrada da cidade, passar a guarita da PM e do Samu e seguir em direção à sede do município. Cerca de 400 metros após, à esquerda e atrás do galpão da oficina, está o desmate.

Em nota enviada à reportagem, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf/ES) disse que o corte foi autorizado. Questionado se foi exigida alguma compensação ambiental, uma vez que a floresta faz parte da bacia do rio Jucu, que abastece um milhão de pessoas na Grande Vitória, o Idaf disse que não.

O órgão estadual argumentou que a mata cortada estava em estágio inicial de recuperação, o que legalmente não evocaria necessidade de compensação.

Deputado aciona Polícia Ambiental para averiguar caso

Não é o que pensa o deputado estadual e geógrafo Sérgio Majeski (PSDB), que vêm tratando como graves os casos recentes e sucessivos de desmatamento nas montanhas do ES, autorizados pelos órgãos públicos ou não.

Tanto que no último dia 02 de setembro Majeski acionou o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) para averiguar o caso. Até o momento dessa publicação, ainda não havia informação sobre o resultado da fiscalização da PM no local.

A Prefeitura de Domingos Martins foi procurada pelo Tempo Novo, mas não retornou os questionamentos.  Dentre as perguntas não respondidas, que tipo de ocupação pode ocorrer na área desmatada. Vale lembrar que o entorno da sede de Domingos Martins é alvo de intensa valorização imobiliária puxada pelo mercado de sítios, chácaras e condomínios em terrenos até então rurais.

Filme repetido

Em maio outro trecho de Mata Atlântica foi destruído em Domingos Martins, desta vez ao lado da planta urbana do centro. Neste caso um trator foi utilizado para derrubar a floresta. Além do Governo do ES, esta ação também foi autorizada pela Prefeitura local, que argumentou ser a área voltada para expansão urbana.

Outra devastação de floresta ocorrida em Domingos Martins e que teve grande repercussão foi a do corte de mais de 12 hectares na região de Soído, perto da estrada velha de acesso à Marechal Floriano, município vizinho. O desmate ocorreu no final do ano passado, entre o Natal e o Ano Novo, com uso de tratores, com objetivo da implantação de condomínio no terrreno. E revoltou moradores e ativistas locais, que a partir dele criaram movimento contra a destruição de florestas na região das montanhas.

Esse movimento gerou um abaixo assinado pedindo ao poder público que não apenas pare de autorizar tais cortes como também melhore a fiscalização e repressão contra os devatasdores. O movimento chegou também a espalhar, entre abril e maio, outdoors pela Grande Vitória denunciando o aumento da destruição da Mata Atlântica nas montanhas.

Vale lembrar que além do rio Jucu, nas montanhas estão as cabeceiras dos rio Beneventes, Santa Maria e Reis Magos. Mananciais que juntos abastecem os cerca de 2 milhões de moradores da Grande Vitória, dentre estes os mais de 500 mil moradores da Serra.

Especulação imobiliária não só em Domingos Martins

O ‘boom’ de desmatamentos ocorre não só em Domingos Martins, mas também noutros municípios montanhosos do entorno da Grande Vitória e que são apreciados como destino turístico. Casos de Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Santa Leopoldina e Santa Teresa. Neste último as situações mais graves se concentram nas regiões do Caravaggio, Alto Santo Antônio, Penha e Valsugana Velha.

Boa parte desses desmates não estão ocorrendo para expansão de lavouras ou pecuária. Mas para atender à demanda do aquecido mercado de sítios, chácaras e condomínios, que têm transformado terrenos rurais em áreas de expansão urbana. Em alguns casos, à revelia das leis de uso e ocupação do solo.

Domingos Martins
Desmatamento ilegal flagrado em agosto nas nascentes do rio Reis Magos no Caravaggio, Santa Teresa, pela Operação Curupira. Crédito Divulgação/Idaf

Tanto que o próprio governo do ES precisou dar uma resposta para a sociedade. E, em maio, deflagrou a Operação Curupira com objetivo de tentar reprimir desmatamento e outros crimes ambientais ligados aos mercado imobiliário da região serrana. Operação que já identificou irregularidades em Santa Teresa e Domingos Martins, por exemplo, dentre outros municípios das montanhas.

Ainda antes da Operação Curupira acontecer, o Idaf já emitido 144 autos de infração somente em Santa Teresa no período entre dezembro de 2020 e março de 2022 por crimes ambientais contra a Mata Atlântica e suas nascentes e rios. A maior parte desses crimes ligada ao mercado de sítios, chácaras e condomínios em terrenos rurais segundo o próprio Idaf.

Desflorestamento ‘explode’ e lista de espécies em extinção dobra no ES

Com apenas 10% de mata Atlântica em seu território outrora totalmente coberto pela floresta, o Espírito Santo viu aumentar em 462% a devastação de suas matas entre 2018 e 2022. E esse número seguiu crescendo 7% entre 200 e 2021. O levantamento é da ONG SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A redução impacta não só rios e clima. Ela também reduz a biodiversidade da Mata Atlântica, bioma protegido por lei como Reserva da Biosfera, por abranger uma das florestas tropicais com a maior variedade de espécies do planeta.

Tanto que a lista de espécies nativas de plantas e animais do Espírito Santo teve crescimento exponencial, saltando de 950 espécies em 2005 para 1.874 em 2019. O levantamento é pesquisadores de instituições ligadas à área, dentre elas o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), sediado em Santa Teresa. E foi divulgado no último dia 10 de agosto durante em reunião da Frente Parlamentar da Biodiversidade Capixaba na Assembleia Legislativa.

 

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