Mais um trecho do rio Jacaraípe vai passar por obra de alargamento e aprofundamento do leito. O anúncio foi feito pelo prefeito Audifax Barcelos (Rede) através de vídeo publicado em sua conta numa rede social nesta segunda-feira (23).
No anúncio, Audifax aparece ao lado de dois líderes comunitários da região na altura da ponte sobre o rio na avenida Lagoa Juara, próximo à rotatória de acesso à avenida que leva o nome do pai do prefeito e liga Jacaraípe à Serra Sede. Também no vídeo aparece placa informando que o custo dessa nova etapa da dragagem ficará em torno de R$ 1,6 milhão. A empreiteira que fará o serviço é a Coenge Construtora LTDA e o prazo é de 240 dias (oito meses).
Tida como uma das ações importantes da gestão Audifax, que este ano termina seu terceiro mandato (o segundo consecutivo) na chefia do executivo municipal, a dragagem e alargamento do rio Jacaraípe começou em 2014, logo após a histórica enchente de dezembro de 2013. Enchente que deixou milhares de desabrigados e foi considerada a maior já registrada na região.
O objetivo das obras, que além de aprofundar e alargar o canal para até 30 metros em diversos pontos foi evitar que o cenário de 2013 voltasse a se repetir. E desde então a região não sofreu mais alagamentos daquela proporção. Além do alargamento, foi feito calçadão na margem esquerda do rio, entre a ponte velha e o bairro São Patrício. O calçadão se estende por boa parte do trecho onde a margem está urbanizada em Jacaraípe.
Em 2018, a Prefeitura da Serra informava que até aquele momento já havia investido R$ 12,3 milhões no projeto.
Bacia 100% serrana e crescimento desordenado
O rio Jacaraípe é um canal natural com cerca de 10 km que liga a lagoa Juara ao mar. E também recebe, através de outro canal natural, as águas da lagoa Jacuném. Todo esse complexo forma a bacia hidrográfica do rio Jacaraípe, que termina seu curso na Praça Encontro das Águas. É uma bacia que está 100% no território da Serra.
Por abranger duas grandes lagoas, ter uma área de drenagem relativamente extensa, não possuir desníveis importantes, percorrer várzeas e ainda sofrer influência da maré, o rio Jacaraípe inunda naturalmente suas margens e várzeas vizinhas em tempos de muita chuva. Porém muitas dessas áreas passaram a ser ocupadas desordenadamente a partir da década de 1980, com o súbito crescimento urbano da Serra impulsionado pela siderurgia de Tubarão e polos industriais adjacentes, como os Civit´s.
Desmatamento de manguezal e fim da psicultura
Se os efeitos positivos da dragagem do rio Jacaraípe se fizeram sentir pelas comunidades que sofriam com as inundações, os negativos também foram significativos. Um deles foi a destruição de boa parte do manguezal e matas ciliares.
Segundo a Prefeitura da Serra, o equivalente a pouco mais de 6 hectares entre mangues e florestas ciliares foram retirados para fazer as etapas anteriores da obra. Como compensação, o município disse iria recuperar 15 hectares na Área de Proteção Ambiental (APA) Manguezal Sul, próximo ao condomínio Alphaville na região da Rodovia do Contorno de Vitória (BR 101).
Outro impacto ambiental expressivo foi na lagoa Juara. É que o alargamento e aprofundamento do canal do rio permitiu que maior quantidade de água do mar chegasse à lagoa, que ficou mais salgada.
Visualmente é possível perceber isso com a morte dos taboais, conjunto de vegetação típica de lagoas e alagados em que predomina uma planta de folha comprida e fina conhecida como taboa. A espécie não suporta o sal.
Porém o baque maior foi na criação de tilápias em tanques rede, tocado pela Associação de Pescadores da Lagoa Juara (APL J). O projeto foi interrompido em julho de 2016, pois após a abertura do canal do rio começaram a haver mortandades frequentes do peixe, que é espécie de água doce. Desde aquela época o cultivo da APLJ passou a ser feito em Linhares e o peixe servido na Praça da Tilápia no bairro Lagoa, em Jacaraípe, vem do município do norte capixaba.